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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Nós planejamos ...









Distraidamente ao fechar a porta da geladeira de minha casa,  reli dois imãs de geladeira que havia comprado há alguns anos atrás. O primeiro dizia : “We plan ... God laughs! ”, ou seja, “Nós planejamos ... Deus gargalha/ri/escarnece “.

 

A frase parece cínica, visto que a tradução de LAUGH de acordo com o dicionário Longman é de gargalhar (to make sounds with your voice, usually while you are smiling – produzir sons enquanto sorri = gargalhar).

 

Acredito que esse foi o sentido desejado pelo criador da frase, talvez ele quisesse ser engraçado e sarcástico ao mesmo tempo.

 

Bom, como não sei quem é ele e não posso perguntar o sentido criativo da frase, só me cabe confessar que a compra do imã se deu pois eu havia apreciado o sentido sarcástico da frase, ou seja: “Nós (seres humanos) mortais passamos a vida mais planejando do que realmente fazendo e no fim o que prevalece é a vontade Divina.”

 

É bastante cômodo ter o entendimento de que a despeito de tudo que fizermos e planejarmos a responsabilidade final é do Divino.

 

Ocorre que, usualmente delegamos essa responsabilidade quando nos acontece algo negativo, que nos impinge tristeza, frustração ou perda, ou seja, pensamos: “Deus quis assim !!!”, pois do contrário, se alcançamos vitória, conquista, alegria o mérito é nosso, por que o merecemos, certo?
 
 
Humanos ...
 

Hoje, anos depois, ao ler a frase contida no imã prefiro entender a palavra  “laugh” com o sentido sorrir, assim: “ Nós planejamos ... Deus sorri !”  Sorrir pra mim é mais brando que gargalhar. Deus então sorriria aquele sorriso complacente e caridoso igual aos dos pais quando ouvem a pureza e inocência dos sonhos dos filhos ainda crianças.

 

O outro imã, com mensagem mais positiva e colocada ao lado do primeiro na geladeira, diz:

 

“ Forgive quickly ... Kiss slowly”, ou seja, “Perdoe rapidamente e beije vagarosamente”.



Na verdade é uma parte do poema de Mark Twain que diz:

 

“Life is short, break the rules

Forgive quickly, kiss slowly

Love truly, laugh uncontrollably

And never regret anything

That made you smile”

 

“ A vida é curta, quebre as regras

Perdoe rapidamente, beije vagarosamente

Ame verdadeiramente, gargalhe incontrolavelmente

E nunca se arrepende de nada

Que te fez sorrir.”

 

 

Assim, que os pensamentos negativos e depressivos sejam rapidamente esquecidos e que os bons momentos sejam apreciados e saboreados bem devagarzinho e guardados no “bolso da memória”, para serem sacados sempre que a necessidade ou a crise se fizer presente.     

  




 
 
 
 
 
 

terça-feira, 20 de novembro de 2012

O destilar do momento ...







Quando fui a São Paulo no final do mês passado, ganhei um livro de minha Tia Bety chamado “Palavras para Desatar Nós” de Rubem Alves. Leio (igual a ela) uma ou duas passagens por dia, pois cada passagem tem um ensinamento que não pode ser deglutido de uma só vez.
 
Fico às vezes dias “matutando” sobre aquele tema.
 

Um me chamou especial atenção, o título é “Tenho Medo”, nele o autor que é psicanalista diz que não tem medo da morte mas do morrer que diz serem coisas distintas. Informa que além do medo do morrer tem medo da loucura. Mas o que me tocou foi quando ele diz que: “O medo faz parte da alma humana e o que é decisivo é se o medo nos faz rastejar ou se ele nos faz voar. Quem, por causa do medo, se encolhe e rasteja vive a morte na própria vida. Quem a despeito do medo, toma o risco e voa, triunfa sobre a morte. Morrerá quando a morte vier. Mas quando ela vier.”
 

“Viver a vida aceitando o risco da morte, isso tem o nome de coragem. Coragem não é ausência do medo. É viver, a despeito do medo.”


Aduz ainda que “ somos iguais aos animais: as mesmas coisas terríveis podem acontecer a eles e a nós. Mas somos diferentes deles porque eles só sofrem como se deve sofrer, isto é, quando o terrível acontece. E nós tolos, sofremos sem que ele tenha acontecido. Sofremos imaginando o terrível. O medo é a presença do terrível não acontecido apossando-se das nossas vidas. Ele pode acontecer? Pode. Mas ainda não aconteceu, nem se sabe se acontecerá.  


Contudo, falíveis que somos nos entregamos a tagarelices mentais terríveis que acopladas à imaginação fértil nos leva a rasantes devastadoras.

 
Necessário se faz uma boa peneirada no pensamento, deixando na rede trançada o que não é salutar.

 

Veja o que acontece comigo, após o exame de imagem (rotineiro de três em três meses) se detectou um espessamento no intestino, corri para oncologista que determinou novos exames, aonde fiz uma colonoscopia, confirmando o espessamento visualizado e retirando pedacinhos para biopsia.


Nos primeiros dias fiquei arrasada (jogue a primeira pedra quem não ficaria também), contudo nesse aprendizado diário de equilíbrio, estou conseguindo dominar o famigerado MEDO, descrito por Rubem Alves, aquele medo que nos abate antes do fato acontecer e que junto com a Espera faz de uns mansos e  pacíficos e de outros desvairados e imprudentes ...   



Assim, estou a busca de destilar do momento todo o sabor e substância necessária para apreciar a vida tal como ela o é para mim.



Giovanni Papini escreve no texto “Relatório sobre os homens” acerca da eterna espera e busca pelo homem de algo que nem ele sabe o que é:


“Esperamos sempre alguma coisa ou alguém. Começa-se em criança a esperar a juventude com impaciência quase alucinada, depois adolescentes, espera-se a independência, a fortuna ou porventura apenas um emprego e uma esposa. Os filhos esperam a morte dos pais, os enfermos a cura, os professores as férias, os universitários a formatura, as raparigas um marido, os velhos o fim. Quem entrar numa prisão verificará que todos os reclusos contam os dias que os separam da liberdade, numa escola,numa fábrica ou num escritório, só encontrará criaturas que esperam, contando as hora, o momento da saída e da fuga. Exames, concursos, noivados, loterias, seminários, operações da Bolsa – são formas e causas de expectativa... Quando acontece ou se alcança o esperado, abrem-se todas as comportas da alegria. Mas por pouco tempo, pois a meta não é tão atraente como parecia de longe, ao longo do caminho – toda a vitória, no dia imediato, tem o mesmo sabor da derrota. Mas a desilusão, em vez de conduzir à renúncia, incita a novas expectativas. E toda a vida do homem, apesar de todos os adiamentos e paragens, não passa de um esperar a vida, a bela vida, a verdadeira, a nossa. E, enquanto esperamos a vida, esquecemo-nos de viver ou vivemos sem economia e prudência, não pensando em destilar dos minutos de hoje, única propriedade certa, todo o sabor e substância.”  
 
Posto abaixo algumas fotos tiradas durante esse momento de espera, onde colho a "substância do momento" junto com meus amados e amores ...  
 



 

 

 

 


sábado, 10 de novembro de 2012

Montezum ... um novo desafio?




 


" E no meio do inverno eu descobri que dentro de mim havia um verão invencível ..." Camus



Fui ao Hope Hari - um parque de diversão localizado a 72 km da capital paulista quando estive em São Paulo mês passado.
 

As crianças estavam excitadas diante da expectativa do passeio e "São  Pedro" colaborou trazendo um dia lindo, com sol firme e  temperatura agradável para cuiabanos, mas quente para paulistas.

 

Chegamos ao parque e deparamos com uma imensa fila. Tínhamos aprendido que em São Paulo as filas são imensas, encontradas até em banheiro de shopping center, mas nada conteria nosso propósito daquele dia que era nos DIVERTIR.

 

E divertimos a beça, a despeito das filas encontradas em  frente a cada brinquedo, que nos obrigava a aguardar por 01 hora (média) antes de entrar.

 

A fim de conter múrmurios lamuriosos das crianças, eu falava que a espera era para causar mais frisson e valorizar o brinquedo.

 

Passado o portão de entrada, abriu-se um leque de opções de diversão, contudo corremos para a maior atração aberta do parque – a montanha russa. De acordo com as informações colhidas na internet o Montezum (nome da montanha russa) é a maior montanha russa de madeira da América Latina, são 1030 metros percorridos em apenas 02 minutos, numa velocidade de 103 km/h.


Adrenalina pura !!!

 

Poder enfrenta-la era uma revanche especial para Túlio, meu filho mais velho, que há 04 anos foi impedido de entrar no brinquedo pois não tinha altura mínima exigida.    


Era o dia da desforra !
 

Ele foi na frente, puxando-nos.

 

Lembro-me que quando adolescente, eu adorava montanhas russas e aventuras do gênero. O prazer em “testar” minha coragem sempre foi superior ao medo do desafio.

 

Conversei com meus “botões” (a emoção e a razão) e ambos concordaram que depois desse ano tumultuado e desafiador eu devia seguir em frente e  me “jogar” na alegria  e no lúdico das crianças e somente isso me importava  naquele momento.

 

Medi na tabela postada na frente da atração a altura do meu caçula e “pimba” ele media 01 cm a mais do mínimo exigido – 1.40 cm.

 

Tudo estava dando certo.

 

 A espera durou 1 hora e 20 minutos e nesse tempo conversamos, rimos mas principalmente observamos as pessoas ao nosso redor.

 

Eram jovens em sua maioria, valentes e desafiadores no modo de vestir e se postar diante dos outros. Cabelos estranhos, cores apelativas, tatuagens, piercings, risos nervosos, bravatas sem fim.

 

Os que caminhavam pelo portão da saída depois de haverem conquistado a Montanha Russa nos contagiavam com um alegria quase histérica,  aquela aonde a adrenalina do medo foi vencida pelos hormônios injetados diante da vitória pessoal de terem enfrentado o grande desafio.


Ficamos motivados !!

Nesse meio tempo e no exercício salutar de mãe olhava com atenção o comportamento do meu “picachuzinho” Tiago de 10 anos que tem o estilo “precavido” para aventuras.

 

Eu o senti meio tenso e resolvi interferir naquela batalha interna que ele parecia estar travando e ponderei: “ Filho, a decisão é sua, se você quiser sair e só dizer que nós saímos da fila, talvez agora não seja o seu momento de subir, mas lembre-se que os medos existem para serem enfrentados.”

 

Ele me olhava nervoso, com um “que” de querer ficar para se mostrar seguro ao irmão mais velho e ao mesmo temeroso diante do desafio.

 

Enfim, uma hora e vinte minutos de espera na fila e já defronte a catraca de entrada dos carrinhos, ele se virou e me disse que iria subir. Fiquei muito feliz por estar junto a ele naquele momento.

 

Sabia que ele estava se esforçando e sendo forte. Sentamos juntos no mesmo carrinho ...

 

Quando o carrinho começou a subir (e todos sabíamos que depois do topo vem um descida vertiginosa), o medo começou a me dominar e eu me indagava: “ O que eu estou fazendo aqui  ???? ”

 

E vrupt .... não deu tempo para mais nada !!! Rsrsrsrsrsrsrsrsr ...

 

A velocidade era apavorante, subíamos, descíamos, nos curvávamos de um lado e do outro, meu corpo chacoalhava pra lá e pra cá, não dava tempo para pensar, apenas segurar no apoio e soltar o berro...

 

Ah, foi maravilhoso !!!!

 

Quando saímos, rindo histericamente e todos querendo contar suas emoções ao mesmo tempo. Olhei para Tiago e ele me disse: “ Mãe, vamos de novo !!!”

 

 

E com essa história verídica que hoje me vejo novamente.

 

 

Estou refazendo meus exames (rotina) de imagem, contudo foi identificado através da ressonância magnética um espessamento no intestino. Farei outros exames na semana que vem. Não sei o que me espera. Na verdade nunca sabemos o que nos espera. Pode ser uma inflamação ou algo residual do cancer.



 

Me sinto como se estivesse sentada naquele carrinho novamente, ouvindo os estalos do metal na madeira ... E só me resta uma alternativa: Enfrentar, dominando o medo, emitindo boas vibrações e mensagens para o organismo para ele reagir positivamente, como tem feito até aqui.

 

Todavia, por humana que sou, temo as turbulências que poderão chegar.

 

A fortaleza invisível que montei para me proteger de sentimentos que minam essa Força Interior continua em pé e me fortalece quando o desespero quer tomar conta com indagações infrutíferas.

Sinto essa Força quando concomitante e na mesma velocidade às perguntas que faço me chegam as respostas.

 
De onde arrumarei forças para esse possível novo desafio?

- Está dentro de você mesmo.

 
Conseguirei novamente manter o equilíbrio?

- Depende de você mesmo.


 
Respiro fundo e já me sinto aliviada, o equilíbrio retorna, meio indignado por eu ter novamente duvidado dele.
 

Tranquilizo-me ...

 

E como o filósofo Rubem Alves diz : “Problemas, sofrimentos, frustrações são partes da vida. Não é possível evita-los. Mas é possível sofrê-los com sabedoria."

"A tranquilidade não acontece por acaso. Ela é o resultado de muita disciplina.”

 

Dai-me disciplina ...



 

terça-feira, 6 de novembro de 2012

A eternidade da memória .




                              "Aquilo que a memória amou fica eterno.”

                                                Adélia Prado

 

 

Nessa busca interior por mudança e transformação, tomei a primeira atitude outrora atípica.

 

Quebrei alguns paradigmas embutidos nos pensamentos castrantes que por vezes me prendem em gaiolas e formatam um jeito de ser que não me é próprio.

 

Decidi aproveitar com minha família as benesses de São Paulo em pleno mês de outubro.

 

E por que outubro ?

 

Racionalmente pensado os efeitos da quimio haviam passados, a doença está “controlada” e em São Paulo ocorreria o mega evento do Salão do Automóvel (que só acontece de dois em dois anos) – desejo de consumo das minhas crianças e do marido.   

 

Assim desfrutamos de maneira extemporânea as nuances de uma megalópole como São Paulo.


E isso não tem preço !!!

 

 As algemas mentais e óbices interpostos por mim durante os 04 meses que antecederam a ida foram inúmeros.

De um lado da balança pesavam: as aulas na escola,  reposição de provas, apresentação de trabalho, aulas de inglês, kumon e futebol, a quebra do ritmo de estudo ....

Mas do outro lado da balança brilhava: a alegria de desfrutar o inédito com as crianças, o brilho nos olhos diante da perspectiva do novo e o aprendizado empírico da viagem em si.

 
Venceu a emoção acompanhada da razão.
 

Fizemos então um “acordo” familiar, onde a despeito da ausência nas aulas haveriam listas de tarefa e exercícios de Kumon a cumprir.


Trato feito e cumprido.
 
 
Dessa forma munidos de alegria fomos aos museus, shoppings centers, cinemas, livrarias, restaurantes, parques temáticos  e tudo mais que uma cidade grande pode disponibilizar.

 

Comparamos a província com a metrópole, as diferenças e as vantagens no modo de viver, no trânsito caótico, nas facilidades e oportunidades de cursos, estudos em São Paulo...

 

Ficamos maravilhados com a arquitetura dos prédios, com os viadutos, constatamos as diferenças sociais e econômicas explícitas e antagônicas, onde os arranha-céus dividem com os puxadinhos o mesmo espaço territorial em plena Marginal Pinheiros. 

 

Rimos muito, tivemos momento de ócio puro, deleitamos em alegria o simples fato de estarmos vivos e juntos.

 

A leveza mental e da alma repôs toda a energia corpórea desprendida ao se tentar acompanhar a vivacidade de dois jovens garotos.


Chegamos leves e completos, por ter valido a pena.

 

O texto "Um único momento" de autoria de Rubem Alves  do livro “Palavras para desatar nós”  expressa essa experiência vivida.


No texto, o autor diz que o tempo é apenas um fio. E nesse fio vão sendo enfiadas todas as experiências de beleza e de amor que passamos, como um por do sol, uma carta que se recebe de um amigo, o cheiro do jasmim, a sopa borbulhante sobre o fogão...
 

Acrescenta que a nossa vida é um álbum de minissonatas e não uma sonata sem fim (eterna), porque a eternidade não é o tempo sem fim, mas o tempo completo e cada momento de beleza vivido e amado, por efêmero que seja, é uma experiência completa que está destinada à eternidade.
 
 

E que venham outras memórias singelas e amorosas como esse passeio para preencherem meu álbum de minissonatas eternas, pois como Adélia Prado escreveu:

" Aquilo que a memória amou fica eterno."