" O tempo tudo consome
Passando breve e ligeiro
Que quer que o tempo retorna
Será sempre prazenteiro.
Quer o pobre tenha fome
Ou o rico muito dinheiro
O tempo passa incolume
Indiferente e sobranceiro.
Eu queria o tempo parar
Nem que fosse por um momento
Para poder apreciar
A vida que já vivi
E que deixei o tempo
Pelos caminhos seguir ..."
Antonio dos Santos
Passei a tarde de hoje conversando com minha avó de 87 anos.
Já falei sobre ela num post a alguns meses atrás.
Mulher batalhadora e
forte, que aos 33 anos ficou viúva com 06 filhos para cuidar.
Assumiu sozinha a criação desses filhos (nunca mais se casou),
tornou-se vendedora de produtos da Avon e conseguiu “formar” todos os filhos.
Falante, adora conversar, mas hoje, especialmente
recordar.
Por ser eu a neta mais velha, ouço desde pequena suas histórias do passado. Da Cuiabá antiga, de sua infância no Bau,
da ingenuidade daqueles tempos, de tomar
banho no rio e estudar tabuada em árvores
.
Conta-me sobre o seu casamento com o comerciante português
que a levou para morar distante dos seus familiares, das cidades que viveu com
seus filhos e marido e das tragédias que suplantou com firmeza e coragem.
Nunca ouvi em nenhum
dos seus relatos reclamação ou questionamento, pelo contrário, sempre passou uma imagem de uma vida feliz e plena com sua
família.
Parece um mundo "cor-de-rosa", mas acredito que essa foi a sua fórmula mágica para sobreviver e lutar.
De uns anos para cá, começaram seus problemas de memória, troca do nome dos netos, lapsos, "brancos", esquecimento
de objetos e a confusão mental passou a se
tornar algo rotineiro.
Pensavámos - faz
parte do envelhecer e assim fomos nos
adaptando a essa nova “fase” da vida dela.
Mas hoje, após ela contar pela 13º vez num intervalo de 2 horas do novo programa de TV que ela havia assistido pela
manhã, senti um amor imenso por ela e uma vontade de abraça-la e aconchega-la no meu colo, agradecendo por
tudo que ela fez por nós enquanto mãe, avó e mulher.
Olhei-a profundamente e compreendi que a vida passa rápido e
que estamos presos ao nosso corpo e
destino.
E que temos que aproveitar de maneira intensa e positiva cada
momento vivido, pois não temos nenhum controle sobre o nosso amanhã.
Entendi sua sabedoria de viver a vida com aquilo que a vida lhe oferece, "surfando" quando necessário, resignando-se com os caldos, mas sempre em cima da prancha, guiando-nos.
Entendi sua sabedoria de viver a vida com aquilo que a vida lhe oferece, "surfando" quando necessário, resignando-se com os caldos, mas sempre em cima da prancha, guiando-nos.
Transcrevo uma parte do texto colhido do livro "Ostra Feliz não faz pérola", sobre a Velhice.
"A metáfora mais bonita que conheço para a velhice é o crepúsculo, o por do sol. O crepusculo é lindo. Faz pensar. No crepúsculo tomamos consciência da rapidez do tempo. As cores rapidamente passam do azul, para o verde, para o amarelo, para o abóbora, para o vermelho, para o roxo, para o negro. No crepúsculo senti o tempo fluir rapidamente... O crepúsculo diferente da manhã tem outro tipo de beleza, a beleza tranquila, silenciosa, talvez solitária."
Obrigada vovó por me ensinar mais esta lição !!!
..... Mas o relógio não desiste. Continuará a nos chamar à sabedoria: "tempus fugit…" "carpe diem"
Quem sabe que o tempo está fugindo descobre, subitamente, a beleza única do momento que nunca mais será…"