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terça-feira, 20 de agosto de 2013

"Fugit irreparabile tempus .." - Foge o irreparável tempo - autor Virgilio



 

 “Alice: Quanto tempo dura o eterno?
Coelho: Às vezes apenas um segundo.
(Obra: Alice no País das Maravilhas)
 

 

A mídia regional deste final de semana informava do acidente  sofrido por um político. Li a notícia com pesar, contudo no decorrer da narrativa percebi que a despeito do carro ter capotado e ferido duas pessoas que acompanhavam o referido politico, a reportagem avisava que o político “confirmava agenda para o dia seguinte em outra cidade distante”.

 

Alguém pode pensar “ Uau, como o “fulano de tal” é empenhado na causa que professa. Depois de tudo que passou no acidente ainda irá cumprir no dia seguinte com compromisso agendado em outra cidade!

 

Longe de mim, questionar a agenda do político ou de qualquer cidadão brasileiro. Na verdade eu nem sei se ele de fato seguiu viagem imediata, contudo foi o que li veiculado na mídia.
 
Aqui estou a refletir acerca da “correria do dia a dia” e o que leva as pessoas a agirem dessa maneira, sobrepondo tragédias pessoais a compromissos assumidos.

Cadê o botão de parar?

Um break nesse agenda intensa e que nos impede de refletir acerca de situações que nos acomete física e mentalmente?

 

O mundo está veloz, vivemos com pressa, atrasados, agenda lotada.


A informática vem transformando o mundo e nossos hábitos rotineiros, basta caminharmos pelos shoppings, restaurantes, aeroportos e até a igreja, que deparamos com pessoas acessando a internet, facebook, whatsapp.


Estamos em dois, três lugares ao mesmo tempo, lidando com diferentes assuntos e pessoas. 

 
E nesse corre-corre, questiono: quem é o criador e quem é a criatura?
 

Vivemos como a passagem do livro "Alice no País das Maravilhas" abaixo transcrita:
 
" Eu ... Eu ... nem eu mesmo sei nesse momento ... eu ... enfim, sei quem eu era quando me levantei hoje de manhã, mas acho que já me transformei várias vezes desde então ..."
Passagem do livro Alice no País das Maravilhas:
 

Deixamos de apreciar o “agora” “hoje”, pois estamos sempre buscando ”algo” nessa "correria" que muitas vezes desconhecemos o que  é.


 Saímos em disparada cega atrás de “algo” que possa nos satisfazer.


Uns acreditam que o “algo” a apaziguar a “quentura da alma” seja a aquisição de bens materiais e aí vemos que existem pessoas que nem bem compram uma casa e já estão desejando uma casa maior, saem da concessionária com carro novo e logo já estão olhando outro carro mais moderno. Não conseguem apreciar o conquistado. Outros buscam o poder, a glória da bajulação, o status de  interferir na vida de outros 


Dessa maneira a insatisfação permeia o espírito e o vazio “preenche” a alma.



Um conto para refletir:

O filósofo Sócrates, que provocou uma verdadeira revolução no pensamento humano (e por causa disto acabou condenado à morte), era sempre visto passeando pelo mercado principal da cidade.

Certo dia, um dos seus discípulos perguntou:

“Mestre, aprendemos com o senhor que todo sábio leva uma vida simples. O senhor não tem nem mesmo um par de sapatos”.

“Correto”, respondeu Sócrates.

O discípulo continuou: “entretanto, todos os dias o vemos no mercado principal, admirando as mercadorias. Será que podíamos juntar dinheiro para que possa comprar algo?”

“Tenho tudo que desejo”, respondeu Sócrates. “Mas adoro ir ao mercado, para descobrir que continuo completamente feliz sem aquele amontoado de coisas!”

 

O que procuramos está dentro de nós!!!

 

O cantor Gustavo Lima desabafou a alguns meses atrás dizendo que não iria mais cantar. Foi uma agitação no show business, rolou críticas e piadas de mau gosto. Mais tarde ele se justificou dizendo que estava cansado da maratona de shows imposta pelo empresário, visto que estava “perdendo” o prazer de cantar e o contato com sua família.

 

Alguns disseram que foi o falecimento recente da irmã que o afetou emocionalmente. Não importa qual, onde e quando foi ligado o botão BREAK, o que  implica é que ele conseguiu enxergar a situação vivida antes de cair em colapso físico. 

 

Indago: Quanto tempo dedicamos a nós mesmos? Quando foi a última vez que fizemos algo para nossa própria satisfação? Quando foi que sentamos a mesa com nossos familiares e curtimos o momento com boas risadas e conversa fiada, sem celular ligado e “whatsapp” bombando ? Quando fomos ao cabeleireiro, fizemos massagem ou deitamos para ler um bom livro sem estarmos com pressa ou atrasados.

 

Outro dia, estava assistindo televisão, quando olhei ao redor e vi meus dois filhos e marido conectados na internet (cada qual com o seu equipamento) assistindo a novela também.  Pergunto, qual das atividades estava sendo apreciada ou compreendida INTEGRALMENTE pelos três?

 

Quando vou a restaurantes, observo as pessoas comendo, conversando e digitando no celular, tudo ao mesmo tempo !!! Até na Igreja, durante o sermão espiritual do padre, vi uma mulher lendo o facebook e tirando foto da igreja para inserir na aplicativo.

 

A dificuldade dos tempos atuais é a “cobrança” externa e interna em estar atualizado. Tudo é muito rápido, urgente, instantâneo e descartável. Esquecemos que somos simples seres humanos e que essa forma desregrada, enlouquecida de viver irá num futuro próximo nos atingir com sequelas irreparáveis, como  divórcio, solidão, distanciamento dos filhos, doença ...
 
Acredito que recebemos sinais de que algo irá nos acontecer, apenas não prestamos atenção a esses sinais e quando recebemos o resultado dessas ações o impacto é grande. Percebemos que fomos tolos e usamos de estratégia (caminho) equivocada. (experiência própria).


Contudo, sempre há o TEMPO, que ora nos ajuda ora nos vence. A DECISÃO acerca  do caminho, estilo de vida a viver é de cada um.



Encerrando, aqui vai outra passagem tirada do livro da Alice no País das Maravilhas:
 

“Aonde fica a saída? Perguntou Alice ao gato que ria.

- Depende. Respondeu o gato.

 -De quê? Replicou Alice

- Depende para onde você quer ir.”

 

Carlos Drummond de Andrade e o coelhinho da Alice no País das Maravilhas concordam que “ Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica e nenhuma força jamais o resgata."

 
 Façamos que esse “segundo"  "eterno do viver” valha a pena e que o caminho escolhido seja o almejado”.

 
 
 
 

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

"Quem tem um "porque" enfrenta qualquer "como." Viktor Frankl







 




“Pode-se tirar tudo de um homem, exceto uma coisa: a última das liberdades humanas – escolher a própria atitude em qualquer circunstâncias, escolher o próprio caminho.” Viktor Frankl

 

Feliz ... Muito Feliz !!!

A Providência Divina facilitou a medicina outra nova chance para que eu possa continuar aqui.

A quimioterapia adjuvante esta ajudando a controlar a neoplasia.

Os exames de imagem que fiz há duas semanas demonstram que nada anormal foi visualizado no organismo.

 É uma alivio tão grande que é difícil expressar em palavras.

Tudo fica mais leve ...

É claro que o medo sempre acompanha e é esse medo “companheiro” que me faz ficar mais alerta e atenta às minhas necessidades e saúde.

Passada a euforia, a vida continua.

 E agora ?

Venho a alguns meses “matutando” com meus neurônios e sentidos buscando um “entendimento” mútuo entre a razão e a emoção acerca da perspectiva de vida que desejo ter AGORA.

Discorri  há uns três posts atrás sobre querer dar um rolé de 180º na minha vida e é nessa busca que me encontro.

A pergunta que faço a mim mesmo é  “ O que me motiva?”

 Motivar vem do latim movere, ou seja mover.   Que  é um impulso interno que leva a ação. Motivação é agir em prol de uma determinada razão ou demanda que nos faz sair de onde estamos e responder a esta necessidade.

Assim busco encontrar em mim novos talentos, antigos talentos adormecidos ou não percebidos anteriormente pela correria da vida.

As minhas necessidades básicas estão supridas. E como diz a música dos Titãs “ A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte...” E muito mais com certeza. (envolvimento, conhecimento...).

A morte é um incentivo para vivermos com responsabilidade, pois a imortalidade nos faria adiar as coisas, não haveria urgência como  já dizia o psiquiatra  austríaco Viktor Frankl.

Em Julho li o livro “ O Diário de Helga” que é o relato de uma menina sobre a vida em um campo de concentração – 1938 a 1945, onde ela sobreviveu ao Holocausto.

O que me tocou nessa história real foi a persistência da narradora que, a despeito das adversidades e crueldades recebidas por ela DECIDIU sobreviver.

Temos conhecimento em nosso dia a dia, seja  através da mídia ou noticiários de relatos de pessoas que passaram por situações extremas, onde o limite de tolerância humana  é testado ao máximo e mesmo assim a pessoa consegue permanecer viva.

O que os motiva a não esmorecer, a continuar a lutar pela sobrevivência ?  Seria reencontrar os familiares, cumprir uma missão, rever a pessoa amada, tudo isso e algo mais?

Penso que o ponto de partida, o botão interno que deve ser acionado quando o sofrimento, a dor e o medo tomam conta do nosso ser é o botão da DECISÃO.

Tenho aprendido isso ao longo do tratamento que faço. Decido lutar ou me entregar, ser feliz ou depressiva ...

Hilel, líder cabalista que viveu no período de Herodes há mais de 2000 anos atrás questionava “Se eu não fizer, quem o fará? Se não fizer agora, quando farei? Se sou somente por mim, quem sou eu?”

Resumindo em palavras ou expressão ultra moderna #vamoquevamo#. Ilude-se quem acredita que viemos para cá só para férias, gozo e prazer. Ledo engano. Temos missão a cumprir, seja ela doméstica ou profissional. 
 
Ainda em minhas leituras descobri acercar da terapia criada pelo médico psiquiatra austríaco Viktor Frankl, que sofreu em um campo de concentração, perdendo a esposa, pais e irmãos.
 
Em que pese a dor e os momentos sofridos por ele, quando foi libertado ao final da 2º Guerra Mundial, conseguiu transpor as perdas e usou das experiências e fatos vivenciados durante a permanência no Campo de Concentração para criar a LOGOTERAPIA. Essa terapia entende que podemos nos erguer das dificuldades, das enfermidades, do vício, da tristeza, do vazio e dos golpes do destino se enxergamos o sentido em nossa existência. A força propulsora e motivacional da vida é descobrir esse sentido e preenche-lo significativamente.   

Cabe-nos escolher entre superar a perda e nos tornar o que queremos ser apesar das circunstâncias ou desistir e nos entregar ao desespero infrutífero e estéril.

Como exemplo cito os atletas paraolímpicos que conseguem transformar situações adversas em triunfo pessoal e exemplo para outros ou a história de um jovem americano de 17 anos que ficou tetraplégico e após acidente disse: “Eu quebrei o pescoço, mas ele não me quebrou.”

É lógico que nem sempre somos livres de escolha e para isso Viktor Frankl disse: “ Quando a circunstância é boa, devemos desfruta-la, quando não é favorável devemos transforma-la e quando não podemos transforma-la devemos transformar a nós mesmos.”

Neste exato momento, enquanto escrevo este post, estou buscando transformar a mim mesmo !!!