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segunda-feira, 30 de abril de 2012

Paciência ... Paciente!!!!!





A estrada que percorro é cheia de pedras soltas, com curvas surpreendentes, contudo, espero que o final dessa estrada ainda não tenha sido demarcado.

Ninguém me prometeu que a estrada seria  reta e plana.

Assim, me cabe apreciar a paisagem, mesmo que às vezes borradas pelas lágrimas da incerteza e do medo.

Aguentar firme no posto ... interposto ... pelo aposto do destino!!

Todos os dias são novas emoções, umas boas ... outras nem tanto.

 
Meu coração palpita alucinado e descompassado.

Adrenalina pura!!!!

No inverso a emoção da adrenalina, informo que nunca consegui jogar "paciência".


Assim ser paciente, na verdadeira acepção da palavra é algo que tem que ser "trabalhado". 

 
Como já disse em outros posts, a ansiedade me tem como cria.

 
Mas eu estou lutando para conquistar o equilibrio ...

Contudo o acumulo de dúvidas suscitadas pelo tratamento me deixou um pouco "fora do prumo" no dia de hoje. 

 
Dessa forma, me atrevo a desabafar um pouco neste post.


A expectativa ronda meus dias ...

A espera dos resultados positivos da quimioterapia ...


A espera da possibilidade da cirurgia ...


A espera da cura ...


Como conta gotas cada dia é uma novidade!!!


Começo a ter a sensação de ser uma "peteca", jogada pelo destino de um lado para outro ...


 Alternando vôos rasos e altos ...


Gente como é dificil ser peteca!


Ela não tem o domínio sob si e nunca vence, apenas dá a vitória ao jogador-vencedor!


Quero voltar a ser jogadora.


Sim, JOGADORA - estabelecendo o meu ritmo de jogo e as estratégias para delimitar meus caminhos.


Enfim, ter o controle novamente da minha vida.


Alguns, mais filosóficos diriam: " Carla, ninguém tem o controle sob a própria vida ... outros mais profundos diriam: "as pessoas "acham" que tem o controle da própria vida".



Pode até ser, mas eu quero acreditar que tenho o controle sobre ela novamente.


"CALMA CARLA!!!"  "PACIÊNCIA, CARLA". " TUDO AO SEU TEMPO"

Paro!!

Respiro fundo buscando a serenidade interior.

Busco exemplos de vivências positivas em minha memória!


Acalmo-me!


Decido procurar no dicionário (para me acalmar) o significado da palavra Paciente e descobri o seguinte:

1-    Que tem paciência

2-    Que tem a capacidade de esperar tranquilamente

3-    Que é capaz de suportar dificuldades e tristezas, resignado

4-    Que revela persistência, perseverante

5-    A pessoa que se encontra sob cuidados médicos, doente.

Do latim patiente  é “que sofre”, particípio presente de “pati” é sofrer, suportar.

 
É realmente tragicômico essa definição, pelo menos assim eu acho diante da  atual situação de saúde que me acomete,  ser  PACIENTE.

 
Antes, nunca havia analisado semânticamente a aplicação da palavra PACIENTE como sinônimo de DOENTE. 


Sempre preferi intitular-me paciente do Dr. Fulano de tal, do que dizer sou "doente" do Dr. Fulano de tal, e a razao é óbvia: ser Paciente tem conotação positiva, enquanto que doente não.

Ocorre que subliminarmente ao aceitarmos a titulação de Pacientes, aceitamos lá nos confins do nosso subconsciente humano outros atributos  e comportamentos relacionados a ser Paciente, não detalhados quando compramos o "pacote completo".


É claro que conscientemente ninguém escolhe ser Paciente/doente, a não ser os que abusam do físico, se colocando em risco.

Então, acredito que o último momento da vida em que gostaríamos de ser pacientes, obedecendo fielmente o preceito da definição acima de número “1”,  “2”, “3”, “4” é quando estamos doentes.


Os verbos esperar, resignar, aguardar, suportar  exigem ânimo superior. 


Ânimo esse já desgastado por outras emoções.

Em especial quando corremos contra o tempo, buscando vencer uma doença  traiçoeira que pode ser terminal se não cuidada a tempo.

Paciência ... Paciência.... Paciência Paciente!!!

 
Podemos ser Pacientes, quando temos a capacidade de esperar tranquilamente”  por  horas intermináveis na ante sala de um consultório médico para o atendimento marcado (previamente agendado) com  meses de antecedência e somos atendidos com até 3 horas de atraso.

 
Somos Pacientes, quando mesmo morando em Cuiabá - capital do Estado de Mato Grosso somos atendidos nos hospitais daqui com equipamentos não tão contemporâneos.

Ou quando procuramos o Pronto Atendimento de um hospital particular e temos a nítida sensação de estarmos em um hospital de “guerra” com gente quase espalhada pelo chão, o que nos força a ter que aguentar uma dor aguda por horas, até chegar a nossa senha.

E eu não estou falando em hospitais da rede pública que são notoriamente vergonha nacional.

 
Constato que vivemos numa província em pleno século XXI.

Sim, nossa querida Bom Jesus de Cuiabá é uma província !!!!


Parada em investimentos na área de saúde ...

Nós, cuiabanos e os que aqui “fincaram” raízes somos levados a nos deslocarmos aos grandes centros em busca de hospitais com equipamentos de vanguarda e confiáveis.


E como ficam as pessoas que não podem bancar financeiramente esse custo ?!!


A resposta - todos nós sabemos! 

Termino deixando claro que estou discorrendo acerca  do sistema dos hospitais em Cuiabá e não dos médicos de Cuiabá.

Por derradeiro, me permito (depois dessa longa maratona e jogo de peteca), a esse momento de impaciência, sendo a PACIENTE -IMPACIENTE.

Prometo que será breve.







sábado, 28 de abril de 2012

Boas expectativas ......






" Cure o passado.
 Viva o presente.
Sonhe o futuro".  

Autor desconhecido

Enfim, depois de dias de tensões e expectativas em São Paulo, aquieto a mente e retorno ao blog.


 
É tão bom estar de volta aqui. Estava com saudades de escrever!!!!


 

Os exames feitos no hospital Sírio Libanês confirmaram o que a ressonância magnética realizada aqui em Cuiabá já apontava – Uma incrível redução do câncer.


 

Atípico, fora do padrão e “barbaridade” foram palavras emitidas pelos especialistas em oncologia quando observavam as imagens captadas pelo PET e demais exames – “A regressão na abrangência do tumor foi excelente.”


 

Assim, poderei ressecar o tumor gástrico que me acomete e novamente com as benções do Pai Celestial a cirurgia redundará na cura – “Se assim eu merecer”...


 
Agradeço aos amigos, parentes, conhecidos que fizeram correntes de oração e me ofertaram durante todo o período da quimioterapia, apoio e incentivo, que possibilitaram o meu equilíbrio emocional e positividade no sucesso do tratamento.



Confesso que “temor” ou "receio" pela cirurgia a ser realizada perpassa pelo meu consciente, bem como o medo da recidiva ...


 
Contudo, estou aprendendo a fazer um exercício mental diário de controle.


 
E contraditoriamente a racionalidade que existe "no controle", eu faço a entrega ...


 
Busco o equilíbrio e o controle do medo, entregando nas mãos de Deus o meu destino ...



No momento em que fiz essa opção, quando tudo parecia terminado e alma angustiada sangrava de dor e desespero ...



Abri a retaguarda e coloquei nas mãos de Deus, confiando em Seus desígnios.


 
Senti que alguém tivesse "retirado com a mão" toda a angustia e aperto que palpitava em meu coração.


Me senti leve e acalentada.


Mas a escolha dessa entrega coube a mim e a mais ninguém.


As motivações e razões para reagir diante de uma situação de tormento, medo e incerteza estão dentro de nós, em nosso arcabouço mental.


Acredito que somos nós lutando conosco mesmo.


O medo paralisa e nos impede de transmutar e eu vejo isso, diariamente em minha vida.



Estar preparado para aguentar o “tranco” diário da vida exige considerável concentração pelos “boicotes” mentais que permitimos as vezes dirigir nosso vida.



Cultivar o otimismo, a alegria e a fé na vida é um remédio poderoso, é claro que sem deixar de ser "pé no chão".



Aprendi nessa semana que passei na casa de minha Tia Bety uma expressão: “tagarelice mental’.


Tagarelice mental é quando permitimos que o nosso consciente  comece a criar diálogos mentais antes do fato em si acontecer, ou seja, imagine que queremos “conversar” seriamente com o nosso marido/patrão/parente/amigo/colega e então criamos diálogos, réplicas e até tréplicas imaginárias antes da discussão em si acontecer e quando finalmente chagamos em casa/trabalho já estamos extremamente irritados com a pessoa antes de ter começado o diálogo, “aguando” qualquer entendimento.




A tagarelice mental nos impede de enxergamos a situação como de fato ela é, pois já estamos suficientemente “envenenados” por pré conceitos e “achismos” inexistentes.



Quem já não deixou de dizer “desculpe”, “eu te amo”, “eu te perdoo”, “você me magoou”, “não sei fazer esse serviço”, pensando no que “fulano de tal” vai pensar de você se assim você agir ou dizer.

  

Tenho que aprender a controlar essa tagarelice mental, pois quando deixo meus pensamentos a mercê dela, o medo aparece, as barreiras são erguidas e o muros não são transpostos.






OS: Quero neste post, agradecer ao carinho, amor  e hospitalidade ofertado por Tia Bety, que não mediu esforços para possibilitar a mim e Antonio uma estadia agradável e tranquila em São Paulo durante esse período tumultuado da minha vida. Te amo tia !!!

domingo, 15 de abril de 2012

Pausa para próximo Round !!!




Caros Amigos,


As próximas duas semanas serão decisivas para o tratamento do câncer que me acomete.


Farei exames importantes e conclusivos sobre a próxima etapa a ser seguida no tratamento... continuidade da quimioterapia ou cirurgia para retirada do tumor.


Estou aprensiva, porém confiante na Providência Divina e na medicina.


Irei para São Paulo realizar esses exames.


Assim, não poderei escrever os posts, contudo tão logo retorne a terrinha - Cuiabá - poderei contar as novidades que espero serem boas e positivas.


Me aguardem !!!


Lobo ou cordeiro ?









No último post falei dentre outros fatos sobre “a sombra”.



Estou lendo o livro “O Efeito Sombra “ de Deepak Chopra.



É muito interessante.



Na verdade havia comprado-o no ano passado, mas não conseguia le-lo.Iniciava a leitura e logo desistia, dava sonho e daí por diante.



Eu tenho uma mania que é a seguinte: quando compro livros de não ficção (auto ajuda) e não consigo le-lo imediatamente, penso que é porque ainda não “me” serve de instrução, ou seja, ainda não estou preparada para entende-lo.




Assim, “ O Efeito Sombra” ficou na estante aguardando o momento certo para ler.


Eu ainda não o terminei, mas o achei tão interessante que resolvi dividi-lo com vocês.


O livro fala sobre a Sombra Humana que é o lado obscuro do nosso ser e que ao ser ignorada, pode sabotar nossas vidas, destruir nossas relações, eliminar nosso espírito e nos manter longe de nossos sonhos.

Pesado o tema, né?


Na verdade o livro não apresenta uma teoria nova, mas amplia conceitos desenvolvidos por Carl Gustav Jung – Psicologia Analitica ou Junguiana, que num resumo bem simplório diz que o ser humano só tem acesso a sua natureza sombria quanto consegue se autoconhecer – mergulhando em si mesmo e assim transmutar.  

O Efeito Sombra fala da existência de uma parte em cada ser humano esperando ser descoberta e que essa parte tem o poder de nos ensinar, treinar e guiar para que alcancemos força, criatividade, brilho e felicidade. No entanto, essa parte não é paciente e quando ignorada, sabota nossas vidas.

Assim se conhecemos nossos medos, falhas  ... encarando-as de frente, não projetando no outro aquilo que rejeitamos em nós mesmos – enxergando e entendendo nosso “self” nu e cru, podemos vencer a sombra e ficarmos na luz.  

Antes eu não identificava que eu estava me boicotando em algumas situações na minha vida e hoje identifico o momento e a razão do boicote.

É como se uma grande cortina tivesse sido retirada.


Creio que os 44 dias de UTI (fiquei fisicamente impedida de comunicar-me), somados ao tempo do hospital e período de remissão e incertezas quanto a cura do 1º câncer, serviram para balizar esse descortinar.

Não veio de pronto e nem é fácil o desnudar-se.


Requer prática e atenção ...


Exemplificando esses boicotes, posso citar que às vezes quando estava feliz e tranquila junto a meus filhos e marido e via um adolescente passar com a namorada ou ia a um casamento me boicotava pensando se eu viveria igual situação, ou seja, se estaria presente na vida dos meus filhos.


Triste, mas verdade.



Sofria com esses pensamentos, pois eles eram capazes de aniquilar o momento de felicidade.



Então, um dia consegui identificar o por que de alguns desses pensamentos e consegui libertar-me deles, pois eu entendia de onde e porque adviram.


Enquanto Delegada de Polícia na Delegacia da Mulher, do Adolescente, na Entorpecentes e na Delegacia de Defesa da Criança e Adolescente  já ouvi e vi relatos de “amor e sofrimento” que dariam para escrever livros.



Relacionamentos e comportamentos destrutivos me surpreendiam na leitura diária dos Boletins de Ocorrências registrados e inquéritos policiais instaurados.


Mulheres autosuficientes, inteligentes e trabalhadoras permitiam serem oprimidas e dominadas por seu companheiro.


A Sombra as dominava e as impediam de serem felizes e plenas.


Carl Jung dizia: “Para encontrar o amor você precisa enxergar a si como alguém que pode ser amado.”


E essas mulheres não se enxergavam como capazes de serem amadas, barganhavam migalhas de atenção.


Algumas delas quando conseguiam trocar de namorados ou companheiros, escolhiam outros piores. E diziam: “Doutora, tenho o dedo podre pra homem.”

Culpavam o “dedo” pela escolha inconsciente e repetitiva de companheiros violentos !!!

Elas não percebiam que se boicotavam e tentavam esconder o lado reprimido e os aspectos repudiados de suas personalidades.


É muito mais fácil culpar outros por escolhas equivocadas - sejam pais, amigos, chefes, companherios ... do que entender o por que ou o que nos motivou a essa opção destrutiva.  


Os vícios alimentares, bebidas, jogos, sexo desregrado e outros processos destrutivos são sinais que estamos "fugindo" de algo que nos queima por dentro e causa desconforto interno.


O livro apresenta uma perspectiva para a reconstrução do corpo emocional que são:

ü Tornar-se inteiro
ü Aprender a ser resiliente

ü Dissipar os demônios do passado

ü Curar antigas feridas

ü Esperar o melhor de si mesmo

ü Adotar ideais realistas

ü Empenhar-se

ü Ser generoso, principalmente com nossa alma

ü Enxergar além dos medos

ü Aprender a auto aceitação

ü Comunicar-se com Deus ou seu eu superior.


Podemos então:


v Reconhecer a nossa sombra quando ela trouxer negatividade para nossa vida

v Abraçar e perdoar nossa sombra, transformando um obstáculo indesejado em nosso aliado,

v Perguntar a nós mesmos que condições estão dando origem à sombra: estresse, anonimato, permissão para causar danos, pressão dos colegas, passividade, condições desumano, um mentalidade de “nós versus eles”

v Compartilhar nossos sentimentos com alguém em quem confiamos: um terapeuta, um amigo de confiança, um bom ouvinte, um conselheiro ou confidente,

v Incluir um componente físico: trabalho corporal, liberação de energia, respiração de ioga, cura interativa

v Praticar a meditação de modo a experimentar a consciência pura

v Para mudar o coletivo, devemos mudar a nós mesmos – projetar e julgar os outros como malfeitores só aumenta o poder da sombra...

“ A dualidade está no centro da experiência humana. A vida e a morte, o bem e o mal, a esperança e a resignação coexistem em todo as pessoas e manifestam sua força em todas as facetas da vida. O conflito entre quem somos e quem queremos ser encontra-se no âmago da luta humana.”

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Abrindo as entranhas ...


Hoje não tem frase de efeito ou poesia.




É um simples desabafo.




Já escrevi nos posts anteriores sobre meus pais, avós e irmãos, contudo não consigo escrever sobre meus filhos.




Creio que de todos os medos que uma doença grave como o câncer pode causar a uma mãe o temor de “faltar” aos filhos é o mais doloroso.




Essa sensação oprime e me deixa sem ar.




Procuro não pensar sobre o fato, achando que o não comentar faria o problema desaparecer.




Vã ilusão...




A possibilidade de morrer e deixa-los ainda pequenos, sem maturidade suficiente para enfrentar a vida, causa um stress muito grande.




É como se eu os abandonasse e os deixasse a mercê do mundo.




Eu tenho convicção que meu marido, pais e irmãos realizariam com amor e responsabilidade a continuidade na criação dos meus meninos, contudo a dor é muito grande.



Quando houve o 2º diagnóstico do câncer, quase pirei pois só conseguia pensar que eu poderia morrer e não teria tempo de passar “todos conselhos” e informações que acreditava serem imprescindíveis para a vida deles.





Superei essa ansiedade e consegui me conter.





Eventualmente e quando a situação permite e sem alarde, procuro inserir conselhos quando a situação se apresenta, seja assistindo filmes, novelas, jornais e fatos vivenciados pelos mesmos.




Sempre me deixou incomodada o fato deles terem desde a infância a sensação de insegurança quanto a possibilidade de perda prematura da mãe.





São muito pequenos ...


 Eu com 44 anos de idade, sinto mal só de pensar em perder meus pais, imagine com a tenra idade deles.





O conhecimento do câncer está na vida deles desde 2005 e não podia ser diferente, tenho marcas pelo corpo (cirurgia) e não podeira esconde-las, portanto eles sempre souberam que eu havia tido uma doença grave chamada câncer.





Então, com a confirmação do câncer em fevereiro deste anos, decidi contar a verdade para eles.




Assim, conversando com Alcedina, minha cunhada e madrinha de ambos sobre como poderia fazer a abordagem menos traumática sobre o assunto com eles, me foi sugerido dizer de maneira “relaxada”, sem muita “sisudez ou seriedade”.



Santo conselho !!!



Assim,  eu e Antonio sentamos com Túlio (11 anos) e Tiago ( 09anos) e informalmente conversamos sobre o que havia ocorrido após a operação da vesícula, informando que o câncer havia voltado e seria necessário fazer tratamento específico (quimioterapia) e posteriormente cirurgia.





O silêncio foi total.





Indaguei se eles tinham alguma pergunta, pois não queria falar mais que o necessário.




Túlio então indagou: “ Você vai ficar careca, mamãe?”




Eu confirmei, porém disse que depois o cabelo cresceria. Eles ficaram mais tranquilos e eu também, pois pareciam ter entendido o problema.



Pedi o apoio deles visto algumas atividades que antes realizávamos poderiam ser mudadas em razão dos efeitos da quimio e disse que contava com a ajuda deles.




De pronto se mostraram dispostos e atentos a mim.




E assim foi durante toda a quimioterapia.




Quando os cabelos começaram a cair e eu decidi corta-los, convidei-os a me ajudar com a tesoura a cortar os cabelos.




Entraram na brincadeira, fizeram em mim corte de cabelo estilo Neymar, punk e finalmente careca.




A brincadeira foi tanta que fiquei com medo de ficar sem a orelha, com a tesoura passando rente dela o tempo inteiro.




Brincamos seriamente !!  




Busquei tratar do câncer como algo sério, porém transponível.




Deixei claro que o resultado final não estava sob o meu controle, mas que eu faria de tudo para vencer essa batalha.




Durante esse tempo - tratamento com quimioterapia - comportaram-se de maneira surpreendente.




Tentei levar a vida normal e eles aceitaram algumas perdas necessárias em razão dos efeitos da quimioterapia.




Deixei de “lutar e rolar” com eles em razão do cateter que fica no meu peito e deixamos de passear mais - estamos mais caseiros.




Em compensação, acompanho-os nas tarefas escolares e atividades extra escolar.




Assim conseguimos transpor essa primeira etapa.




Ficaram (como se ainda fosse possível) mais carinhosos e cuidadosos.




Estão sempre me beijando e abraçando.




Procuro observa-los com maior atenção, buscando algum sinal de stress emocional no comportamento deles.




Passada a fase da quimioterapia e agora aguardando a resposta a respeito da viabilidade da cirurgia ou não, observo que estão  apreensivos, indagando sobre o que acontecerá e quando será a cirurgia?




Sentia que o Túlio estava mais tenso e preocupado, por ser mais velho e ter maior conhecimento sobre a gravidade da doença, contudo ontem a noite o Tiago me surpreendeu.




Fui me deitar mais cedo e estava assistindo a novela para “pegar” no sono, quando Tiago se deitou ao meu lado.



Eu logo o abracei e comecei a cantar uma “musiquinha” que inventei quando ele era bebê e que eu sempre canto para ele.



Ele então se afastou e me olhou com aqueles olhos grandes e de adoração filial.




Nesse momento, vi um sombra passar por seu semblante e a identifique imediatamente como dor, não física, mas emocional.




Perguntei a ele sobre o que estava sentindo naquele momento.




 Ele me abraçou e enroscou-se no meu corpo, dizendo que não sabia o que estava sentindo.




Eu fingi que não sabia e indaguei se era medo.




Nesse instante, ele começou a chorar baixinho.




Meu coração partiu e tentei controlar a minha emoção para não afeta-lo ainda mais.




Quase consegui.




Chorei um pouquinho com ele e depois o abracei fortemente e disse que era normal ter medo e que eu tinha muito medo também, mas que eu  procurava não deixar o medo tomar conta do meu ser.




Reafirmei o que havia dito antes sobre eu não ter controle absoluto sobre a doença, contudo tinha fé e esperança de conseguir vencê-la, mas não dependia só do “meu querer”, mas de uma soma de outros fatores, porém o que fosse da minha parte e responsabilidade – eu faria e  lutaria.




Ele começou a se acalmar, continuamos deitados por mais algum tempo.




Hoje pela manhã eu acordei e parecia que um trator havia passado sobre mim.




Quando eles se levantaram, olhei bem para Tiago e percebi que ele havia superado o momento e estava tranquilo.




Relaxei um pouco quando o vi feliz e brincando na sala.




Passei  o dia pensativa ...




E decidi quebrar o muro que me impedia de escrever sobre minhas preocupações mais profundas.




Quem sabe assim, eu liberto a minha “sombra”.