"Raros são aqueles que decidem após madura reflexão; os outros andam ao sabor das ondas e longe de se conduzirem deixam-se levar pelos primeiros."
Sêneca
Hoje fui ao salão de beleza “Francis e Margarida”, aonde
corto o cabelo há quase 22 anos e que em razão desse longo tempo de convivência
vem me "arrumando" para momentos felizes como: meu casamento,
formatura, festas e também em momentos não tão felizes como quando Francis foi até a UTI cortar meu cabelo..
É uma relação de quase casamento!!
Assim hoje, no período vespertino, eu e minha mãe atravessamos
a Cuiabá em obras e no trajeto lhe disse que estava em dúvida acerca do corte
de cabelo que deveria fazer pois as opiniões familiares foram diferentes.
Ela emitiu sua opinião e depois me disse calmamente: “Não
adianta, só você sabe a resposta.”
Na hora discordei, todavia continuamos papeando até o Salão
de Beleza.
Logo que cheguei apresentei a Francis todas as dúvidas,
dizendo que não sabia se queria o cabelo curto, colorido, grisalho, cumprido,
enfim dúvidas pairavam sobre a minha cabeça.
Francis apontou várias possibilidades e nenhuma parecia me
satisfazer, então ela simplesmente indagou: “O que te incomoda?”
A pergunta ficou no ar, pairando ...
Podia senti-la, tocando meu consciente.
“O QUE ME INCOMODA?”
Algo dentro de mim começou a se formatar, contudo naquele
momento eu deveria primeiro responder a indagação de Francis quanto ao corte de cabelo.Percebi que nada
me incomodava. A decisão estava tomada. Eu estava satisfeita com o corte e a
cor do cabelo, desejava apenas aparar um pouquinho para não perder o estilo do
corte.
Todavia, naquele momento ouvi um "click mental" e a frase de minha mãe dita no carro "que a resposta só eu saberia" somada a pergunta da Francis sobre “
O QUE ME INCOMODA” já haviam se imiscuído dentro de mim e comecei a utiliza-las
para tentar responder outras indagações pertinentes a minha vida.
Ao observar minha figura no espelho, vendo o frenético
movimento da tesoura na mão de Francis, alinhei as implicações, opções e
escolhas que devo fazer junto a algumas perguntas acerca "do que me incomoda" e a
resposta veio simples.
As coisas começaram a fazer sentido.
Na verdade, a indagação da Francis sobre o que me incomodava
foi analogicamente falando, apenas o estímulo nervoso necessário para instigar tal qual a rede de nervos e suas conexões (Hoje estudei Ciência com Túlio,
estou afiadíssima em Sistema Nervoso Central e Sistema Nervoso Periférico...) às informações que estavam rodando em volta da minha
consciência e que venho “trabalhando” com elas há algum tempo.
Acredito que a arte de decidir não está adstrita a uma só
razão, ao contrário ela perpassa por uma série de fatores que alinhados nos
delimitam um caminho.
Talvez hoje tenha sido o fim de um ciclo cansativo,
estressante ou o início do fim dessa dúvida especifica.
Um norte ou prumo mais consistente parece surgir.
Sei que como muitos permito que, por vezes, as convenções, os
padrões, os medos, as emoções (dor e o sofrimento) norteiem minhas decisões,
entretanto busco igualmente orientar minhas decisões obtendo o máximo de
informações sobre minhas dúvidas, avalio os possíveis desdobramentos, reflito,
uso a intuição ...
O modelo e a fórmula cada qual tem o sua, contudo o que é essencial é estar atento aos sinais de “iluminação”,
aquele click mental, quando enfim conseguimos ouvir nossa voz interna diante de
um burburinho de emoções.
E isso independe de lugar, horário, posição ou atividade.
Pode vir como hoje, no salão de beleza.
Ah, descobri que lavar vasilhas e dirigir na estrada favorece a autoanalise e serve de excelente terapia, pelo menos para mim.