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quinta-feira, 14 de junho de 2012

O leme e a vela ...




“ Vossa razão e a vossa paixão são o leme e as velas de vossa alma navegante. Se vossas velas e vosso leme se quebram, só podereis derivar ou permanecer imóveis no meio do mar. Pois a razão reinando sozinha, restringe o impulso e a paixão deixada por si só é um fogo que arde até a própria destruição.
......
 Deixe tua alma exaltar a tua razão às alturas da paixão,para que ela possa cantar; e que tua paixão seja dirigida pela razão, que tua paixão possa viver pela própria ressurreição diária, como a fênix, elevar-se acima das próprias cinzas.”
Khalil Gibran



Dizem que o ócio é criativo e nessa atual fase de reclusão, onde estou a cuidar da minha saúde física, descobri que estou a lapidar meu espírito igualmente.


O dia é longo e quando estou bem disposta, consigo ler,  ouvir música, assistir filmes, relaxar e simplesmente descansar, isso quando as crianças não estão por perto, com aquele burburinho delicioso de algazarra infantil.



O silêncio então me faz companhia.


Estar em silêncio é um exercício mental ainda “penoso/trabalhoso” pra mim, principalmente porque não estou acostumada a meditar.


Somos incentivados a fazer inúmeras atividades ao mesmo tempo e ficamos viciados na adrenalina, o cérebro não consegue "parar".



Hoje, eu olho para o dia a dia dos meus filhos e vejo que faço isso com eles, é aula de inglês, futebol, pintura, natação, kumon e assim vai... E o engraçado é que eu também caio nessa maratona de atividades.


E com o passar do tempo, estar em movimento vira vício e nem percebemos o quanto isso pode nos afetar, pois caímos muitas vezes no olho do furacão da vida e somos jogados de um lado para outro sem perceber o que nos acontece.


Estou me sentindo assim ... Como se tivesse saído do olho do furacão e agora, com os pés no chão novamente tenho vários caminhos a seguir que podem até se cruzar lá na frente.


Assim tenho andado um pouco introspectiva.


Acho que faz parte de todo esse processo de aprendizagem  ... 


Alguns acham que estar em silêncio ou estado contemplativo seja sinônimo de tristeza ou chateação.


Penso o contrário, o silêncio da reflexão exprime a busca pelo autoconhecimento, num exame interior de busca da consciência por si mesma.


Ouvir o que se passa na “cuca” sem alarde ou intromissão e necessariamente sem pressa em concluir.


Assim, outro dia ouvindo uma música cantada por Cazuza. me liguei a um verso específico que dizia: Você sonhava acordada / um jeito de não sentir dor / prendia o choro e aguava o bom do amor...”


E passei a refletir sobre essa frase: Prender o choro e aguar o bom do amor.


Eu entendo que sonhar acordada, um jeito de não sentir dor é fingir que  tudo esta bem,  prender o choro é enclausurar um sentimento, levando   a aguar o bom da amor, ou seja, tirar o sabor ou o que é bom do amor.


Comecei a refletir e percebi o quanto nós aguamos nossos desejos e sonhos.


Desde de deixar de comprar a roupa “perfeita” mas caríssima por uma mais ou menos, deixar de ir a um show que tem vontade e até quando aceitamos funções não almejadas.


Pesamos e sopesamos e colocamos esses desejos no depósito de “coisas ainda a fazer nessa existência.”


Ás vezes o depósito está tão cheio que é necessario arejar o ambiente. Dessa forma, entramos no depósito e escolhermos alguns sonhos/desejos para realizar ou descartar por completo.


A verdadeira arte está em saber escolher qual realiza-lo. E quanto aos que deverão ser descartados, faze-los de maneira consciente para não regurgitarmos depois.


Essa intensa competição interna nos move ao longo da vida – viver sob a égide da paixão ou da razão.


A quem devemos obedecer? É possível fazer uso dessas duas forças motrizes numa só decisão? O tempo nos torna mais sábio para saber discernir e escolher?


Aprender a fazer a razão e paixão andar aliadas é o ponto nevrálgico do problema é o “x” da questão.


E o poema de Khalil Gibran define de maneira doce e singela: um (razão) deve andar com o outro (paixão) e quando isso não acontece, corremos o risco de ficarmos parados (razão) ou de nos incendiarmos (paixão).


O que nos leva a colocar a razão para nos dirigir e “aguar” os momentos  em que queremos algo a todo custo?


De outra ponta, vale a pena colocar a paixão acima da razão e deixarmos que decisões precipitadas e hedonistas movimentem nossa vida?


A questão não é matemática, antes fosse, pois bastaria somar 2 + 2 e teríamos quatro, mas as variáveis são muitas, e a equação está mais para (2x + y) x z= 157.


Encontrar o x correto, o y ideal e o z perfeito é a missão.


E matemática nunca foi o meu forte


Li num livro que devemos canalizar a razão, usando-a para dirigir o veículo e fazer da paixão o alimento do motor desse veículo.

Nessa intrincada rede de pensamentos e desejos, estou a decidir por um período sabático.


Sim, após o tratamento que já está em sua fase final.


Aprendi o termo SABÁTICO a poucos anos.


Na web pesquisei sobre isso e descobri que a palavra sabático vem do hebraico shabbat, que significa repouso, parada, descanso.


No  Antigo Testamento era o período determinado a cada 07 anos, em que a terra ficava sem cultivo para depois iniciar um novo ciclo de fecundidade.  


Nos dias atuais “tirar período sabático” significa dar um tempo para reavaliação da vida pessoal e profissional, olhar retrospectivamente para fragilidades e potencialidades que ainda não foram mapeadas.


É sair do emprego para ter um tempo para se aprofundar em estudos de interesse pessoal; viagens, cursos não relacionados a carreira.


Pode não ser bom para a carreira, mas acredito que ajuda a carregar as energias.

No serviço público temos as licenças prêmios, que é um direito do servidor a cada 05 anos de trabalho, o gozo de 03 meses de licença.

Desconheço o espírito da lei que criou a licença prêmio, mas ela pode servir para ser o sabático dos servidores públicos !! rsrsrsrsrs E como só no Brasil acontece certas coisas, existiu uma época que o Estado “comprava” as licenças prêmios e poucos servidores realmente faziam uso dela.

No mundo artístico temos o exemplo da jornalista Glória Maria fez uso do período sabático quando saiu do Fantástico - descansou e acabou adotando duas meninas. Outro exemplo foi Tony Ramos que elegeu 2011 como ano sabático e até Tom Cavalcante afirmou em entrevista que está em período sabático.

Sinto que preciso desse tempo, pois tal como uma lagarta que esta prestes a sair do casulo, preciso encontrar meu novo caminho...


2 comentários:

  1. Carla querida, lendo suas reflexões sempre me sinto muito mais próxima de você.E é muito bom ler pausadamente o que você escreve. A reflexão é sua, mas me sinto refletindo junto e viajando nas suas palavras. Um período sabático me parece uma escolha muito adequada para esse momento de vida. A gente devia fazer isso a cada 10 anos, pelo menos. Sem esperar a vida parar a gente. Parar para fazer escolhas. Decidir caminhos. Repensar o sentido da vida. Autoconhecimento. Essencial para continuar caminhando.Siga a sua intuição que você já teve essa permissão do Alto para o recomeço.Deus te ilumine sempre!!! Te amo.

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    1. Como sempre suas palavras elevam meu espírito e coadunam com meu pensamento. Obrigado. Te amo

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