“ Vossa
razão e a vossa paixão são o leme e as velas de vossa alma navegante. Se vossas
velas e vosso leme se quebram, só podereis derivar ou permanecer imóveis no meio
do mar. Pois a razão reinando sozinha, restringe o impulso e a paixão deixada
por si só é um fogo que arde até a própria destruição.
Deixe tua alma exaltar a tua razão às alturas
da paixão,para que ela possa cantar; e que tua paixão seja dirigida pela razão,
que tua paixão possa viver pela própria ressurreição diária, como a fênix, elevar-se
acima das próprias cinzas.”
Khalil
Gibran
Dizem que o ócio é
criativo e nessa atual fase de reclusão, onde estou a cuidar da minha
saúde física, descobri que estou a lapidar meu espírito igualmente.
O dia é
longo e quando estou bem disposta, consigo ler, ouvir música, assistir filmes, relaxar e
simplesmente descansar, isso quando as crianças não
estão por perto, com aquele burburinho delicioso de algazarra infantil.
O silêncio então
me faz companhia.
Estar em silêncio é um
exercício mental ainda “penoso/trabalhoso” pra mim, principalmente porque não estou
acostumada a meditar.
Somos incentivados a fazer
inúmeras atividades ao mesmo tempo e ficamos viciados na adrenalina, o cérebro não
consegue "parar".
Hoje, eu olho para o dia
a dia dos meus filhos e vejo que faço isso com eles, é aula de inglês, futebol,
pintura, natação, kumon e assim vai... E o engraçado é que eu também caio nessa
maratona de atividades.
E com o passar do tempo,
estar em movimento vira vício e nem percebemos o quanto isso pode nos afetar,
pois caímos muitas vezes no olho do furacão da vida e somos jogados de um lado
para outro sem perceber o que nos acontece.
Estou me sentindo assim
... Como se tivesse saído do olho do furacão e agora, com os pés no chão novamente
tenho vários caminhos a seguir que podem até se cruzar lá na frente.
Assim tenho andado um
pouco introspectiva.
Acho que faz parte de
todo esse processo de aprendizagem
...
Alguns acham que estar em
silêncio ou estado contemplativo seja sinônimo de tristeza ou chateação.
Penso o contrário, o
silêncio da reflexão exprime a busca pelo autoconhecimento, num exame interior de
busca da consciência por si mesma.
Ouvir o que se passa na
“cuca” sem alarde ou intromissão e necessariamente sem pressa em concluir.
Assim, outro dia ouvindo
uma música cantada por Cazuza. me liguei a um verso específico que dizia: Você
sonhava acordada / um jeito de não sentir dor / prendia o choro e aguava o bom
do amor...”
E passei a refletir sobre
essa frase: Prender o choro e aguar o bom do amor.
Eu entendo que sonhar acordada, um jeito de não sentir
dor é fingir que tudo esta bem, prender
o choro é enclausurar um sentimento, levando a aguar
o bom da amor, ou seja, tirar o sabor ou o que é bom do amor.
Comecei a refletir e
percebi o quanto nós aguamos nossos desejos e sonhos.
Desde de deixar de
comprar a roupa “perfeita” mas caríssima por uma mais ou menos, deixar de ir a
um show que tem vontade e até quando aceitamos funções não almejadas.
Pesamos e sopesamos e
colocamos esses desejos no depósito de “coisas ainda a fazer nessa existência.”
Ás vezes o depósito está tão
cheio que é necessario arejar o ambiente. Dessa forma, entramos no depósito e escolhermos alguns sonhos/desejos para realizar ou descartar por completo.
A verdadeira arte está em
saber escolher qual realiza-lo. E quanto aos que deverão ser descartados,
faze-los de maneira consciente para não regurgitarmos depois.
Essa intensa competição
interna nos move ao longo da vida – viver sob a égide da paixão ou da razão.
A quem devemos obedecer? É
possível fazer uso dessas duas forças motrizes numa só decisão? O tempo nos
torna mais sábio para saber discernir e escolher?
Aprender a fazer a razão
e paixão andar aliadas é o ponto nevrálgico do problema é o “x” da questão.
E o poema de Khalil
Gibran define de maneira doce e singela: um (razão) deve andar com o outro (paixão) e quando
isso não acontece, corremos o risco de ficarmos parados (razão) ou de nos incendiarmos (paixão).
O que nos leva a colocar
a razão para nos dirigir e “aguar” os momentos em que queremos algo a todo custo?
De outra ponta, vale a
pena colocar a paixão acima da razão e deixarmos que decisões precipitadas e hedonistas
movimentem nossa vida?
A questão não é matemática,
antes fosse, pois bastaria somar 2 + 2 e teríamos quatro, mas as variáveis são
muitas, e a equação está mais para (2x + y) x z= 157.
Encontrar o x correto, o
y ideal e o z perfeito é a missão.
E matemática nunca foi o
meu forte
Li num livro que devemos canalizar
a razão, usando-a para dirigir o veículo e fazer da paixão o alimento do motor
desse veículo.
Nessa intrincada rede de
pensamentos e desejos, estou a decidir por um período sabático.
Sim, após o tratamento
que já está em sua fase final.
Aprendi o termo SABÁTICO
a poucos anos.
Na web pesquisei sobre
isso e descobri que a palavra sabático vem do hebraico shabbat, que significa repouso, parada, descanso.
No Antigo Testamento era o período determinado a
cada 07 anos, em que a terra ficava sem cultivo para depois iniciar um novo
ciclo de fecundidade.
Nos dias atuais “tirar período
sabático” significa dar um tempo para reavaliação da vida pessoal e
profissional, olhar retrospectivamente para fragilidades e potencialidades que
ainda não foram mapeadas.
É sair do emprego para
ter um tempo para se aprofundar em estudos de interesse pessoal; viagens, cursos
não relacionados a carreira.
Pode não ser bom para a
carreira, mas acredito que ajuda a carregar as energias.
No serviço público temos
as licenças prêmios, que é um direito do servidor a cada 05 anos de trabalho, o
gozo de 03 meses de licença.
Desconheço o espírito da
lei que criou a licença prêmio, mas ela pode servir para ser o sabático dos
servidores públicos !! rsrsrsrsrs E como só no Brasil acontece certas coisas, existiu
uma época que o Estado “comprava” as licenças prêmios e poucos servidores
realmente faziam uso dela.
No mundo artístico temos
o exemplo da jornalista Glória Maria fez uso do período sabático quando saiu do
Fantástico - descansou e acabou adotando duas meninas. Outro exemplo foi Tony
Ramos que elegeu 2011 como ano sabático e até Tom Cavalcante afirmou em
entrevista que está em período sabático.
Sinto que preciso desse
tempo, pois tal como uma lagarta que esta prestes a sair do casulo, preciso encontrar
meu novo caminho...
Carla querida, lendo suas reflexões sempre me sinto muito mais próxima de você.E é muito bom ler pausadamente o que você escreve. A reflexão é sua, mas me sinto refletindo junto e viajando nas suas palavras. Um período sabático me parece uma escolha muito adequada para esse momento de vida. A gente devia fazer isso a cada 10 anos, pelo menos. Sem esperar a vida parar a gente. Parar para fazer escolhas. Decidir caminhos. Repensar o sentido da vida. Autoconhecimento. Essencial para continuar caminhando.Siga a sua intuição que você já teve essa permissão do Alto para o recomeço.Deus te ilumine sempre!!! Te amo.
ResponderExcluirComo sempre suas palavras elevam meu espírito e coadunam com meu pensamento. Obrigado. Te amo
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