"Enviar uma carta é o melhor meio de ir a algum lugar sem mover nada a não ser o coração"
Phillis Terux
Recebi uma
carta na semana passada de uma pessoa muito querida e que mora bem distante -
Bety Pinagel - cujo lar me abrigou durante 08 dos 12 meses que morei dos
Estados Unidos.
Bety
Pinagel é uma pessoa especial, leitora voraz, possui um peculiar senso de humor, meio sarcástico, contudo bastante inteligente e engraçado. Quando ela me escreve, sinto como se estivesse lendo um livro rico em detalhes e me delicio com a palavras que ela insere. É quase um poema. Ela descreve o lugar
que está com detalhes que me faz ter a
visão do local e até sentir o cheiro do ambiente sem mesmo estar lá.
Pela
idade que ela tem, não se adaptou ao uso do computador e internet por mais que
os filhos tenham tentado lhe ensinar. Assim comunica-se de maneira “antiquada”
que é mediante cartas e cartões.
Pela distância
e tempo, nos correspondemos eventualmente, mas quando recebo uma carta dela
corro logo para abri-la e foi assim ao receber uma carta de congratulações pelo aniversário, eu decidi escrever este post, de maneira meio
saudosista e nostálgica acerca do prazer especial de se escrever cartas.
Carta de
acordo com a Wikipedia:
“É um
meio de comunicação visual, constituído de algumas folhas de papel fechadas num
envelope que é selado e enviado ao destinatário da mensagem através do serviço
dos Correios. A carta é um papel que você escreve sobre qualquer assunto para
uma pessoa.”
O encanto
do ato de escrever não pode ser sentido na leitura da definição fria
acima descrita, portanto só quem já escreveu ou escreve cartas pode sentir esse
deleite que começa quase como um ritual litúrgico.
Escolhe-se:
1º - o
papel de carta (colorido, com flores, borboletas, cheiros...)
2º- o
envelope
3º - o
selo
4º- a
caneta (cor, ponta esférica).
Ato contínuo,
senta-se num lugar agradável, iluminado, podendo ser numa sacada, na banca da
cozinha, na mesa do escritório. Enfim, aonde você se sinta melhor. Pode-se
colocar música ao fundo para inspirar ou buscar o silêncio absoluto ao redor
para ouvir a voz da alma.
Sem
exagero podemos ouvir a voz da alma, pois quando escrevemos uma carta invariavelmente
buscamos palavras precisas para descrever situações cotidianas que nos
acontecem, bem como sentimentos que nos assolam.
O
romantismo das cartas está na dor da espera da resposta, ficamos pensando “se a
carta chegou ao destino”, sobre “como a pessoa interpretou o que estamos
escrevendo” ... Além é lógico do tempo de esperar(semanas) para saber a
resposta e depois semanas para responder continuando aquele diálogo infinito.
Lembro-me
de quando morei nos Estados Unidos, que ao chegar das aulas, por volta das 17:00
hs, eu corria para ver se havia correspondência para mim. E quando havia, abria
com sofreguidão a carta, quase rasgando-a na “ânsia” de saber notícias dos meus
entes queridos no Brasil. Depois eu lia novamente a mesma carta, relia e relia
e muitas vezes o primeiro entendimento do conteúdo não era o mesmo na 3º ou 4º
leitura. Os nuances e entrelinhas surgiam com o tempo e análise.
Minha mãe
chegou a contar o fim da novela “Roque Santeiro” por carta. Rsrsrsrsrsrsr
Eu li em
algum lugar que cartas são “Fotografias Escritas”. Achei perfeita a definição.
Cartas
não se jogam fora, guarda-se e quando por ventura temos que fazer faxina e
arrumação na casa e as encontramos, ela nos leva imediatamente a reviver aqueles
momentos ali descritos na nossa memória, parecendo que foi “ontem”.
Hoje,
temos a internet, os e-mails e facebooks que são importantes ferramentas de
comunicação e nos colocam em tempo real conectados com pessoas do mundo
inteiro, contudo não se equivale ao romantismo e prazer tangível de uma carta, pois
elas são substanciais.
Ademais, quando comunicamos por email ou rede
social, escrevemos resumido o que sentimos e de maneira abreviada: você se torna -vc, beleza - blz, verdade -vdd,
fim de semana -fds e assim vai... Agora existem até desenhos para expressar
sentimentos ... Daqui a pouco vamos emitir sons sem precisar falar ...grunhir
... "kkkkkk" que em linguagem de mensagem significa gargalhar, acho que estamos regredindo
a época das cavernas!!
Outro
ponto é que ao escrevermos cartas, estamos aperfeiçoando a nossa linguagem mediante a escrita,
buscando as palavras corretas, sinônimos, antônimos para descrever uma
situação, além do que a caligrafia melhora muito.
Quase não escrevemos mais, só
digitamos. A minha letra que era feia está horrível!!! As vezes nem eu a
entendo!!! Mas quando escrevo cartas faço o meu melhor.
Creio que
estou ficando velha mesmo com esse saudosismo e nostalgia, mas podemos conviver
com ambas formas de comunicação, sem necessariamente tornas obsoleta nenhuma!!
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