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quarta-feira, 6 de junho de 2012

Compartilhar ...




A decisão de compartilhar sentimentos e fatos via web foi um dos grandes “achados” no tratamento que faço e tem me ajudado a superar tropeços e fases.



 
Compartilhar, conforme Sócrates é  “O grande segredo para plenitude” e  tem ocupado papel fundamental nesse embate que travo com o tumor gástrico.



 
Ao externar os anseios e as expectativas que pululam meu consciente racional e emotivo, eu consigo “identificar” o que está "desconectado" e entender minhas emoções.



Meu sobrinho Bruno Emanuel de 04 anos identifica e compartilha  sem grandes elucubrações seus desejos e sentimentos desde os três anos de idade, quando o ouvi pela primeira vez externizar o que lhe vinha do coração: "Estou com raiva". 



 
Na sua inocência e pureza, não procura achar "culpados", simplesmente identifica o que lhe passa na alma. 


 
Infelizmente essa inocência vai se perdendo ao longo do crescimento e nós começamos a colocar "verniz" de boa aparência ou controle sobre as emoções que nos cercam e de repente, não sabemos mais qual é a "cor original."


 
É Bruninho, você tem ensinado a madrinha !!!!


Compartilhar é dividir o que temos com as pessoas a nosso redor, bem como com aqueles que jamais teremos a chance de conhecer.


E estou curtindo esse momento de maneira singular, sendo muito gratificante reconhecer meus sentimentos e pensamentos nessas histórias e linhas escritas sem pretensão literária (longe disso).
 

O que busco além de repartir minhas vivências é fomentar bons sentimentos e até “ajudar” a quem esteja passando por momentos turbulentos.
 

Nos Estados Unidos existem grupos de apoio a pacientes com diagnóstico de câncer que os ajudam através da troca de experiências, relatos, apoio psicológico a superar medos, desafios e  obstáculos causados pela doença.


No Brasil é muito raro encontrar esses grupos de apoio e eu até já pesquisei, mas achei apenas em alguns hospitais localizados nas grandes cidades.


Em Cuiabá, estou conhecendo o trabalho realizado pela ONG  MTmamma e é muito interessante observar a importância desse trabalho de solidariedade e coletividade para ideal comum, contudo atende como próprio nome diz pacientes com câncer de mama.


Nas clínicas de oncologia (particulares) existem trabalho multidisciplinares, com nutricionista, psicóloga, porém desconheço  trabalho realizado com Grupo de Apoio – envolvendo pessoas que tem e tiveram cancer.


Eu acredito que falar sobre o câncer ajuda a conhece-lo e conhecendo-o podemos desmistificá-lo, tira-lhe o caráter misterioso ...   


Assim, comecei a escrever, utilizando o blog como um Grupo de Apoio.
 

É certo que expor fatos de minha vida (parte dela) não é tarefa fácil e por vezes termino o post cansada, mas é gratificante reler as histórias escritas e ouvir comentários positivos de amigos incentivando-me a continuar escrever.


Um texto exige dedicação para construção mental.


 
Os pensamentos partem de coisas simples, de situações lidas, vividas e ouvidas do cotidiano que somados a algumas tramas internas compartilho com vocês.

Enfim é como um fio de tear, em que eu começo a puxar, mas não sei com precisão inicial aonde quero chegar. Ás vezes são idéias fulminantes outras duram dias para se fechar. 


Os temas vão surgindo e aprendi a deixa-los fluir como uma tempestade de ideias.


 
Não os censuro, escrevo num caderninho os pontos que deixaram de ser trabalhados naquele texto para que posteriormente possa me dedicar aquilo retirado.


Quando compartilho pensamentos e emoções sei de minha exposição ao mundo e a opinião dele. 


E até certo ponto acho isso instigante.

Podemos compartilhar boas atitudes, experiências engraçadas, vivências tristes, enfim podemos expor nossa vida, como um amontoado de retalhos, tecido pelas experiências e tramas da vida que se entrelaçam e cruzam muitas vezes.

Enquanto estava em São Paulo aguardando a cirurgia, dentre alguns livros apresentados por minha Tia Bety, um logo me chamou a atenção - “Ostra feliz não faz pérola” de Rubem Alves.

Nele o escritor recheia fatos vividos e pensamentos tidos ao longo de sua vida, que ele escrevia em uma “cadernetinha”.

Não eram tratados nem teses filosóficas, mas "coisas" brotadas do cotidiano. O livro não tem início, meio e fim, são histórias que valem por si só.


Fala sobre Amor, Beleza, Crianças, Educação, Natureza, Política, Velhice e outros temas. De maneira simples, direta e até divertida os aborda sem tirar a seriedade dos assuntos.


Ele diz que a ostra para fazer uma pérola, precisa ter dentro de si um grão de areia que a faça sofrer. Sofrendo, a ostra diz para si mesma: “Preciso envolver essa areia pontuda que me machuca com uma esfera lisa que lhe tire as pontas ...


A beleza (pérola) não elimina a tragédia, mas a torna suportável.



Vale a leitura ...   


2 comentários:

  1. Minha amada sobrinha,as pérolas que você escreve nesse espaço me deixam sempre muito reflexiva. A gente tem o hábito de mostrar só a face(e aprende isso desde muito cedo...)e deixar guardados os sentimentos que moram no nosso coração, na nossa alma, até para nos preservar.Só em momentos muito especiais deixamos a mostra ou compartilhamos esses sentimentos.É quando ficamos mais bonitos. Nestes dias longos e difíceis até o final do tratamento, escrever tem sido um dos seus momentos de compartilhar e nos dar de presente pérolas de sua reflexão mais profunda. Quanto aprendo com você nesses momentos e quanto sinto sua falta aqui no nosso cantinho do sofá, compartilhando ideias e sentimentos. Sei que você irá continuar escrevendo sobre o câncer para orientar e aconchegar quem precisa, mas também gostaria que escrevesse, em algum momento, sobre tantas coisas bonitas que você tem dentro de você. Não pare nunca, você tem esse dom. Te amo!

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