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sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Paradoxo de envelhecer












“Envelhecer é o único meio de viver muito tempo.
Muitas pesssoas não chegam aos oitenta porque perdem muito tempo tentando ficar nos quarenta.
Quando se passa dos sessenta, são poucas as coisas que nos parecem absurdas.
Nada passa mais depressa que os anos.
A maturidade do homem é voltar a encontrar a serenidade como aquela que se usufruía quando se era menino.
A iniciativa da juventude vale tanto a experiência dos velhos.
Sempre há um menino em todos os homens.
A cada idade lhe cai bem uma conduta diferente.
Os jovens andam em grupo, os adultos em pares e os velhos andam sós.
Feliz é quem foi jovem em sua juventude e feliz é quem foi sábio em sua velhice.
Todos desejamos chegar à velhice e todos negamos que tenhamos chegado.
Não entendo isso dos anos: que, todavia, é bom vive-los, mas não tê-los.”

                                         Albert Camus



      Lendo alguns artigos na internet que falam sobre a forma de envelhecer, me lembrei de uma conversa que tive com minha tia Bety acerca dos esquecimentos e limitações que a vida está impondo a minha avó de 86 anos de idade.



Ela me pôs a refletir ao comentar o seguinte: “pois é Carla, veja se não é um paradoxo, quando estamos na proximidade do fim (vida) e queremos vive-la mais intensamente, somos impedidos de quase tudo para nos manter vivo.”



De fato, depois de vivermos todos os perrengues e desafios da vida, tendo criado filhos e finalmente podendo nos aposentar para gozar a vida plenamente – sem horários e compromissos, somos limitados física ou mentalmente de vivê-la, pois se queremos viver por maior tempo devemos estar atentos às limitações físicas impostas pela idade.


Assim, as atividades não realizadas e aventuras “sonhadas” quando jovens e que por motivos diversos (financeiro limitado, filhos, obrigações, tempo) foram postergadas para um gozo futuro, muitas vezes jamais  poderão ser vividas.


Num artigo constante na net li que envelhecer é a regra geral e portanto afeta todos os organismos vivos, sendo o seu termo natural a morte. 

Envelhecer então  é o declínio da capacidade funcional do organismo, progressiva e diferencial.


Dessa forma, o artigo classifica a idade e o envelhecimento em três idades:

1_- Idade biológica – esta ligada ao envelhecimento orgânico. Cada órgão sofre modificações que diminuem o seu funcionamento durante a vida e a capacidade de auto-regulaçõa torna-se menos eficaz.


* Entendo que aqui não dá para fugir, é “vala comum” a todos os seres humanos, alguns tentam retardar os efeitos desse envelhecimento,  mas não será por muito tempo.



2 - Idade social – refere-se ao papel, aos estatutos e aos hábitos da pessoa relativamente aos outros membros da sociedade. Esta idade é fortemente determinada pela cultura e pela história do pais.


* Quando viajei para o exterior no ano passado, fomos (eu e Antonio) colocados pelo pacote com uma turma do interior do Rio Grande do Sul – a faixa etária era acima dos 60 anos de idade. 

Confesso que de início ficamos desapontados, contudo a alegria e disposição desses “velhinhos” nos contagiava e instigava a continuar caminhando ... caminhando e caminhando, mesmo quando eu já estava a "capa da gaita" depois de conhecer inúmeros pontos turísticos.

Passei a observar os outros grupos turísticos oriundos de outros países e constatei que a quantidade de pessoas na 3º  e 4º idade era muito superior a de jovens adultos.

Aplica-se a idade social a cultura norteamericana e europeia, cuja  costume está reservado a opção (quase obrigatória) dos idosos de conhecer o mundo.  

Vejo isso nas duas famílias americanas com quem vivi, sendo que eles se permitem a uma vez por ano viajar ao exterior.

Saliento que eles não são ricos, ao contrário são professores de escola pública secundária que durante a vida planejaram a aposentadoria e velhice .  

Ainda bem que podemos também observar que ultimamente os brasileiros estão se juntando a esse contigente de pessoas e começam a planejar uma aposentadoria mais dinâmica.


3- Idade psicológica – relaciona-se as competências comportamentais que a pessoa pode mobilizar em resposta as mudanças do ambiente, inclui inteligência, memória e motivação.  




Aqui encontro a principal barreira a ser vencida por qualquer um de nós que queremos desfrutar de uma “velhice” ativa e feliz.




Entendo que os desafios perpassam pelo encontro de motivações na vida para continuar a vivê-la, ainda que com as limitações impostas por ela, bem como na adequação das impossibilidades físicas sem deixar de extrair o “belo” da vida, apreciando o dia a dia.


Novamente a decisão é de cada um.

Para ilustrar bem essa demanda, lembro-me de um filme assistido em maio deste ano chamado “ O Exótico Hotel Marigold”.



Vale a pena assisti-lo, é uma mistura de comédia com drama.


Narra-se a estória de um grupo de idosos ingleses que rumam por motivos diferentes um do outro para um hotel localizado na Índia, em  que se oferecia um espaço perfeito e suntuoso a preços módicos, atendendo especialmente à pessoas na terceira idade com o fito de aproveitarem os anos cinzentos do fim da vida.



É lógico que preço baixo e suntuosidade dificilmente trabalham juntos ...


Logo, ao chegarem ao hotel depararam com outra realidade, o hotel estava caindo aos pedaços....

Sem muita alternativa resolvem permanecer no hotel e passam a descobrir sentimentos e sensações que estavam adormecidas ou esquecidas na memória.  



O filme passa a relatar as histórias de cada personagem, das tristezas, durezas, alegria e drama vividos ao longo da vida.


A moral da “estória” é que podemos redescobrir a alegria de viver, quando deixamos de viver no passado e nos libertamos de amarras colocadas e permitidas por nós mesmos no decorrer da vida, seja por “defesa”, preconceitos ou comodismo.



A solução que me surge é deletar da mente o estereótipo do velho/idoso, refletindo no imaginário popular, como uma imagem de doença, abandono, rugas, flacidez, solidão.


Simone de Beauvoir disse que é no olhar do outro que temos a dimensão da passagem dos anos.


 Retratou esse entendimento na seguinte frase: “ O individuo idoso sente-se velho através do outro, sem ter experimentado sérias mutações; interiormente não adere a etiqueta que se cola à ele: não sabe mais quem é.”

Ou seja, nós não nos enxergamos (sentimos) como velhos, sendo o outro que nos vê assim e de alguma forma nos impele a seguir um “código de conduta” esperada de “velhos”.


Penso hoje e espero no futuro atravessar a velhice com dignidade e prazer, pois de alguma forma ela expressa a forma que vivemos anteriormente.


A bagagem de experiências vividas no decorrer dos anos  nos ajudará a enfrentar esses novos desafios.

Ademais, vale lembrar que as perdas não ocorrem apenas na velhice, mas em todas as fases, desde o nascimento até o nosso fim.















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