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sábado, 1 de dezembro de 2012

Chupando Jabuticabas !



“Que é pois o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; se quero explica-lo a quem me pede, não sei.” 
Santo Agostinho

 

 

 

Levantei cedo e fui a cozinha preparar o cafezinho matinal. No aguardar da fervura da água, me deparei olhando para o calendário. Calendário esse marcado e rabiscado com acontecimentos planejados, executados, reorganizados neste ano.

 

Assim, para meu deleite, percebi que necessitava mudar a página do calendário, pois hoje já estamos em dezembro.

 

Nesse instante fulgaz, qual raio fulminante e  porque não concomitante, vieram imagens de acontecimentos já passados, do presente e do futuro que ainda não chegou.

 

E ainda mais “gostoso” que as imagens, foram as emoções sentidas dos momentos vividos, das alegrias e tristezas, das vitórias e embates, que parecem desafiar meu viver.

 

Um calidoscópio de imagens !!!

 


Fiquei distraidamente a repassar as páginas dos meses e me lembrei do momento em que no inicio do ano escolar, fui marcar as provas anuais das crianças no calendário e quando estava no mês de novembro, pensei que “talvez eu já não estivesse mais aqui com eles”, pois esse era o prognóstico.

 

Amigos, aquele foi o momento mais doloroso de toda minha caminhada.

 

Mas o tempo, ora o tempo continuou a passar e o barulho da chaleira com a água do café fervendo me tirou dessa tristeza e logo a razão se fez presente e pensei: “Consegui virar novembro.”

 

Vim então para o presente, li o jornal com as notícias “da hora” e após fui até computador no escritório, porém, antes de liga-lo, percebi que ao lado do calendário de 2012, Antonio (meu marido) já havia colocado o calendário do próximo ano - 2013.

 
Parei para apreciar a poesia do momento.

  

Sim, esse era um dos inúmeros momentos poéticos que nos acontecem durante o transcorrer do dia, mas que diante da correria e da “falta de tempo” deixamos a poesia se esvair e não saboreamos o prazer de viver.

 


Olhei com carinho para o calendário de 2012, agradecendo as benções recebidas e pedindo igual vigor e fé para 2013.

 

Resolvi então pesquisar sobre o que é o tempo e nessa pesquisa ao Dr. Google de Iansã achei a frase de Santo Agostinho que simplifica filosoficamente qualquer outra explicação, senão vejamos:
 
 “Que é pois o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; se quero explica-lo a quem me pede, não sei.”

 

Nós humanos, criamos o calendário que é um sistema para contagem e agrupamento de dias e que visa atender principalmente as necessidades civis e religiosas de uma cultura. "Wikipedia"


A palavra calendário deriva do latim Calendarium ou livro de registro, que por sua vez derivou do calendae, que indicava o primeiro dia de um mês romano.



Outro sentido para a palavra calendário é que ela é utilizada para descrever o aparato físico (geralmente de papel) para o uso do sistema e também um conjunto particular de eventos planejados.

 

Nessa busca incessante por conhecimento, definições e necessidades, foram criados diversos tipos de calendários. Os principais tipos podem ser classificados em solares (como o egípcio e o romano) e lunissolares (como o babilônico-persa e o judaico).

 

Os calendários lunissolares baseiam-se no mês lunar sinódico e os calendários solares seguem unicamente o curso aparente do Sol, fazendo coincidir, com maior ou menor precisão, o ano civil com o solar, visando que as estações recaiam todos os anos nas mesmas datas.

 

Existem também os calendários Juliano, gregoriano, chinês, o hindu e o muçulmano.

 

Carlos Drummond de Andrade definiu o tempo, com a poesia Cortar o tempo:

 

“Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano foi um indivíduo genial.
    Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.

Aí, entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.”


 

Acrescento, que além dos marcadores do sol e da lua, existe outro marcador, que é utilizado pelos trabalhadores em geral e pode ser visualizado no Facebook em todo início de semana e principalmente quando se aproxima da sexta feira. É a exaustão e a entrega de pontos narrada por Drummond em seu poema acima transcrito.

No facebook aos domingos começam a “ferver” mensagens chorosas de despedida do final de semana e de início “cansativo” de mais uma semana. Quando chega quarta feira, a animação volta às mensagens do Facebook, com postagens alegres do final de semana que se aproxima.

 
É cômico !!
 

Se um alienígena viesse estudar a humanidade concluiria que a semana de trabalho dos humanos só possuem encanto de quarta feira a  sexta feira. Isso sem contar com os “ai, ai ais” e “beicinhos” que ocorrem quando do retorno ao serviço após feriado prolongado ou emendado.

 
Aliás o termo “emendar feriado” e “feriado prolongado” deve ser sido inventado no Brasil.
 

Hmm, mas é tão bom, né?

 
O que que é pesaroso é pensar na quantidade de energia negativa que jogamos e cumulamos em nosso organismo com a aparente “infelicidade” de ir ao trabalho.

 

Agora, vamos transformar esse “infortúnio” das horas trabalhadas, multiplicando-as por toda nossa vida funcional - 30/35 anos de labuta. É muito tempo para ser despendido reclamando, não é? E pior, ele transcorre durante os “ouros” anos da juventude.

 

Vamos investigar se não é o que deixamos de fazer, por força das circunstancias, destino ou caminho escolhido que nos faz sentir incompletos e menos felizes no trabalho.  
 
 
Quantos engenheiros gostariam de ser músicos, médicos poetas, promotores de justiça policiais.

 
 
Atitude é o que precisamos, ou resignamos com as nossas escolhas ou a tranformamos.



Mas, voltando ao tema Tempo, indago se alguém  conseguiria viver sem marcar o tempo, vivendo só o "agora"?

 
Acredito que temos uma grande necessidade de marcar o tempo, não só por questões práticas e rotineiras, mas também psicológicas.

 

 É com o tempo marcado que podemos sonhar, ter metas, planejar, readequar nossos esquemas de vida.

 

Essa percepção de tempo que faz com que “sentimos” que determinados eventos parecem transcorrer de forma muito rápida, e de que em outros os mesmos eventos transcorreram de forma bem lenta.

 


Quem já não disse ou ouviu alguém dizer: "o tempo corre", "este ano passou depressa" ou mesmo "esta aula não acaba", “a semana parece não terminar”. O tempo é:

 

"É o jeito que a natureza deu para não deixar que tudo acontecesse de uma vez só." John Wheeler

ou

"Uma ilusão. A distinção entre passado, presente e futuro não passa de uma firme e persistente ilusão." Albert Einstein

 

Em Física, tempo é a grandeza física diretamente associada ao correto sequenciamento, mediante ordem de ocorrência, dos eventos naturais; estabelecido segundo coincidências simultaneamente espaciais e temporais entre tais eventos e as indicações de um ou mais relógios adequadamente posicionados, sincronizados, e atrelados de forma adequada à origem e aos eixos coordenados do referencial para o qual o tempo é definido.

 

Putz !!! Profundo ... mas insipido (que me perdoem os físicos).

 


Prefiro a definição de Santo Agostinho, quando ele em seus escritos “Confissões XI” entende que a existência do tempo (e de todas as criaturas) depende da eternidade.

 

Ele entende que a eternidade, oferece um parâmetro inequívoco para pensar o tempo, ou seja, a meditação sobre o tempo. Podemos então desvendar que a eternidade é a contraposição ao tempo; ela é o que o tempo não é.

 

Santo Agostinho ainda diz que o que se percebe pelos sentidos fica registrado na memória e, a partir de então, passa a existir em regime de interioridade. Em outros termos, o tempo é  regido por uma temporalidade espiritual (da alma). Encontram-se na memória as sensações, imaginações, experiências passadas, ideias.

Assim, o passado consiste no presente do que passou (fora) e está armazenado na memória (dentro). Quanto ao futuro, ele é pensado com base no que há na memória (com base no passado), mas com outra disposição da alma, que Agostinho chama de “expectativa”. E o presente é exatamente o olhar da alma. Aqui, o pensamento de Agostinho é inédito:

“Isto agora é límpido e claro: nem as coisas futuras existem, nem as coisas passadas, nem dizemos apropriadamente ‘existem três tempos: o passado, o presente e o futuro’. (…) Existem, sim, três tempos: o presente das coisas passadas, o presente das coisas presentes, o presente das coisas futuras. (…) [os] três estão de alguma maneira na alma e eu não os vejo em outro lugar: o presente das coisas passadas é a memória, o presente das coisas presentes é o olhar, o presente das coisas futuras é a expectativa.” (Confissões XI).

 Isso sim, é uma definição poética, filosófica e esperançosa acerca do tempo.

Para não deixar de citar Rubem Alves, deixo pra vocês o meu momento-tempo  “chupando as jaboticabas ...”

“ Contei meus anos e descobri
Que terei menos tempo para viver do que já tive até agora....
Tenho muito mais passado do que futuro...
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de jabuticabas...
As primeiras, ele chupou displicentemente ...
Mas, percebendo que faltam poucas, rói o caroço...

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades...
Inquieto-me com os invejosos tentando destruir quem eles admiram.
Cobiçando seus lugares, talento e sorte.....
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas
As pessoas não debatem conteúdo, apenas rótulos...
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos...
Quero a essência.... Minha alma tem pressa....
Sem muitas jabuticabas na bacia
Quero viver ao lado de gente humana...muito humana...
Que não foge de sua mortalidade.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade
....

 

 

2 comentários:

  1. Minha querida Carla, adorei o texto... em especial o ato de filosofar sobre o tempo e descrever de forma tão cadenciada o tique taque dos pensamentos que divagam sobre um tema que sempre nos cutuca...e de quebra a admiraçãoque temos em comum pelo grande contador de histórias que nos faz refletir, Rubem Alves... Saudades! Beijos

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