“Que é pois o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; se quero
explica-lo a quem me pede, não sei.”
Santo Agostinho
Levantei cedo e
fui a cozinha preparar o cafezinho matinal. No aguardar da fervura da água, me
deparei olhando para o calendário. Calendário esse marcado e rabiscado com
acontecimentos planejados, executados, reorganizados neste ano.
Assim, para meu
deleite, percebi que necessitava mudar a página do calendário, pois hoje já
estamos em dezembro.
Nesse instante
fulgaz, qual raio fulminante e porque
não concomitante, vieram imagens de acontecimentos já passados, do presente e do
futuro que ainda não chegou.
E ainda mais
“gostoso” que as imagens, foram as emoções sentidas dos momentos vividos, das
alegrias e tristezas, das vitórias e embates, que parecem desafiar meu viver.
Um calidoscópio
de imagens !!!
Fiquei
distraidamente a repassar as páginas dos meses e me lembrei do momento em que no
inicio do ano escolar, fui marcar as provas anuais das crianças no calendário e
quando estava no mês de novembro, pensei que “talvez eu já não estivesse mais
aqui com eles”, pois esse era o prognóstico.
Amigos, aquele
foi o momento mais doloroso de toda minha caminhada.
Mas o tempo,
ora o tempo continuou a passar e o barulho da chaleira com a água do café fervendo
me tirou dessa tristeza e logo a razão se fez presente e pensei: “Consegui
virar novembro.”
Vim então para o
presente, li o jornal com as notícias “da hora” e após fui até computador no
escritório, porém, antes de liga-lo, percebi que ao lado do calendário de 2012,
Antonio (meu marido) já havia colocado o calendário do próximo ano - 2013.
Parei para
apreciar a poesia do momento.
Sim, esse era
um dos inúmeros momentos poéticos que nos acontecem durante o transcorrer do
dia, mas que diante da correria e da “falta de tempo” deixamos a poesia se
esvair e não saboreamos o prazer de viver.
Olhei com
carinho para o calendário de 2012, agradecendo as benções recebidas e
pedindo igual vigor e fé para 2013.
Resolvi então
pesquisar sobre o que é o tempo e nessa pesquisa ao Dr. Google de Iansã
achei a frase de Santo Agostinho que simplifica filosoficamente qualquer outra
explicação, senão vejamos:
“Que é pois o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei;
se quero explica-lo a quem me pede, não sei.”
Nós humanos,
criamos o calendário que é um sistema para contagem e agrupamento de dias e que
visa atender principalmente as necessidades civis e religiosas de uma cultura. "Wikipedia"
A palavra calendário
deriva do latim Calendarium ou livro de registro, que por sua vez derivou do calendae,
que indicava o primeiro dia de um mês romano.
Outro sentido
para a palavra calendário é que ela é utilizada para descrever o aparato físico
(geralmente de papel) para o uso do sistema e também um conjunto particular
de eventos planejados.
Nessa
busca incessante por conhecimento, definições e necessidades, foram criados diversos
tipos de calendários. Os principais tipos podem ser classificados em solares
(como o egípcio e o romano) e lunissolares (como o babilônico-persa e o
judaico).
Os
calendários lunissolares baseiam-se no mês lunar sinódico e os calendários
solares seguem unicamente o curso aparente do Sol, fazendo coincidir, com maior
ou menor precisão, o ano civil com o solar, visando que as estações recaiam
todos os anos nas mesmas datas.
Existem também os calendários Juliano,
gregoriano, chinês, o hindu e o muçulmano.
Carlos Drummond de Andrade definiu o tempo,
com a poesia Cortar o tempo:
“Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de
ano foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí, entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.”
Acrescento, que além dos marcadores do sol
e da lua, existe outro marcador, que é utilizado pelos trabalhadores em geral e
pode ser visualizado no Facebook em todo início de semana e principalmente quando
se aproxima da sexta feira. É a exaustão e a entrega de pontos narrada por
Drummond em seu poema acima transcrito.
No facebook aos domingos começam a “ferver” mensagens chorosas
de despedida do final de semana e de início “cansativo” de mais uma semana.
Quando chega quarta feira, a animação volta às mensagens do Facebook, com
postagens alegres do final de semana que se aproxima.
Se um alienígena viesse estudar a
humanidade concluiria que a semana de trabalho dos humanos só possuem encanto de
quarta feira a sexta feira. Isso sem contar
com os “ai, ai ais” e “beicinhos” que ocorrem quando do retorno ao serviço após
feriado prolongado ou emendado.
Hmm, mas é tão bom, né?
Agora, vamos transformar esse “infortúnio”
das horas trabalhadas, multiplicando-as por toda nossa vida funcional - 30/35
anos de labuta. É muito tempo para ser despendido reclamando, não é? E pior,
ele transcorre durante os “ouros” anos da juventude.
Vamos investigar se não é o que deixamos
de fazer, por força das circunstancias, destino ou caminho escolhido que nos
faz sentir incompletos e menos felizes no trabalho.
Quantos engenheiros gostariam de ser
músicos, médicos poetas, promotores de justiça policiais.
Atitude é o que precisamos, ou resignamos com as nossas escolhas ou a tranformamos.
Mas, voltando ao tema Tempo, indago se alguém conseguiria viver sem marcar o tempo, vivendo só o "agora"?
Acredito que temos uma grande necessidade
de marcar o tempo, não só por questões práticas e rotineiras, mas também
psicológicas.
É
com o tempo marcado que podemos sonhar, ter metas, planejar, readequar nossos esquemas
de vida.
Essa percepção
de tempo que faz com que “sentimos” que determinados eventos parecem transcorrer
de forma muito rápida, e de que em outros os mesmos eventos transcorreram de
forma bem lenta.
Quem já não
disse ou ouviu alguém dizer: "o tempo corre", "este ano passou
depressa" ou mesmo "esta aula não acaba", “a semana parece não
terminar”. O tempo é:
"É o jeito que a natureza deu para não deixar que tudo acontecesse de
uma vez só." John Wheeler
ou
"Uma ilusão. A distinção entre passado, presente e futuro não passa de
uma firme e persistente ilusão." Albert Einstein
Em Física,
tempo é a grandeza física diretamente associada ao correto sequenciamento, mediante
ordem de ocorrência, dos eventos naturais; estabelecido segundo coincidências
simultaneamente espaciais e temporais entre tais eventos e as indicações de um
ou mais relógios adequadamente posicionados, sincronizados, e atrelados de
forma adequada à origem e aos eixos coordenados do referencial para o qual o
tempo é definido.
Putz !!!
Profundo ... mas insipido (que me perdoem os físicos).
Prefiro a
definição de Santo Agostinho, quando ele em seus escritos “Confissões XI” entende
que a
existência do tempo (e de todas as criaturas) depende da eternidade.
Ele entende que a eternidade, oferece um
parâmetro inequívoco para pensar o tempo, ou seja, a meditação sobre o tempo.
Podemos então desvendar que a eternidade é a contraposição ao tempo; ela é o
que o tempo não é.
Santo Agostinho ainda diz que o que se percebe
pelos sentidos fica registrado na memória e, a partir de então, passa a existir
em regime de interioridade. Em outros termos, o tempo é regido por uma temporalidade espiritual (da
alma). Encontram-se na memória as sensações, imaginações, experiências
passadas, ideias.
Assim, o passado consiste no presente do que passou
(fora) e está armazenado na memória (dentro). Quanto ao futuro, ele é pensado
com base no que há na memória (com base no passado), mas com outra disposição
da alma, que Agostinho chama de “expectativa”. E o presente é exatamente o
olhar da alma. Aqui, o pensamento de Agostinho é inédito:
“Isto agora é límpido e claro: nem as coisas
futuras existem, nem as coisas passadas, nem dizemos apropriadamente ‘existem
três tempos: o passado, o presente e o futuro’. (…) Existem, sim, três tempos:
o presente das coisas passadas, o presente das coisas presentes, o presente das
coisas futuras. (…) [os] três estão de alguma maneira na alma e eu não os vejo
em outro lugar: o presente das coisas passadas é a memória, o presente das
coisas presentes é o olhar, o presente das coisas futuras é a expectativa.” (Confissões
XI).
Para não deixar de citar Rubem Alves, deixo pra
vocês o meu momento-tempo “chupando as jaboticabas ...”
“ Contei
meus anos e descobri
Que terei menos tempo para viver do que já tive até agora....
Tenho muito mais passado do que futuro...
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de jabuticabas...
As primeiras, ele chupou displicentemente ...
Mas, percebendo que faltam poucas, rói o caroço...
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades...
Inquieto-me com os invejosos tentando destruir quem eles admiram.
Cobiçando seus lugares, talento e sorte.....
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas
As pessoas não debatem conteúdo, apenas rótulos...
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos...
Quero a essência.... Minha alma tem pressa....
Sem muitas jabuticabas na bacia
Quero viver ao lado de gente humana...muito humana...
Que não foge de sua mortalidade.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade....
Que terei menos tempo para viver do que já tive até agora....
Tenho muito mais passado do que futuro...
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de jabuticabas...
As primeiras, ele chupou displicentemente ...
Mas, percebendo que faltam poucas, rói o caroço...
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades...
Inquieto-me com os invejosos tentando destruir quem eles admiram.
Cobiçando seus lugares, talento e sorte.....
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas
As pessoas não debatem conteúdo, apenas rótulos...
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos...
Quero a essência.... Minha alma tem pressa....
Sem muitas jabuticabas na bacia
Quero viver ao lado de gente humana...muito humana...
Que não foge de sua mortalidade.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade....
Minha querida Carla, adorei o texto... em especial o ato de filosofar sobre o tempo e descrever de forma tão cadenciada o tique taque dos pensamentos que divagam sobre um tema que sempre nos cutuca...e de quebra a admiraçãoque temos em comum pelo grande contador de histórias que nos faz refletir, Rubem Alves... Saudades! Beijos
ResponderExcluirAmei seu texto!
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