“ Faz falta para ti
conhecer teus limites. Se não os conheces, corres dentro das barreiras
artificiais de tua imaginação e da expectativa de teus semelhantes. Mas tua
vida suporta mal ser contida por barreiras artificiais. A vida quer saltar por
sobre essas barreiras e tu te tornas desunido contigo mesmo. Essas barreiras não
são teus verdadeiros limites, mas são limitação arbitrária que te impõe uma
violência inútil. Procura então encontrar teus verdadeiros limites. Nós não os
conhecemos de antemão, mas só os vemos e compreendemos quando nós os alcançamos.
Mas isto também só te acontece quando tu tens equilíbrio. Sem equilíbrio, cais
por cima e para fora de teus limites, sem perceber o que te acontece”
Comecei a trabalhar aos
20 anos de idade e o meu primeiro emprego foi como professora de inglês no CCAA
(Centro de Cultura Anglo Americano).
Ao mesmo tempo iniciei
minha faculdade de Direito.
A vida corria solta num
ritmo acelerado, trabalhava pela manhã e a tarde e estudava na UFMT a noite.
Depois desse início nunca
mais parei de trabalhar e já perfazem 24 anos de trabalho com apenas 04 paradas
estruturais.
As duas primeiras
relativas ao período pós-parto (04 meses de licença-maternidade) e duas últimas
paradas para tratamento do câncer.
Após o primeiro
diagnóstico de câncer e de toda as complicações pós cirurgia, incluindo a
experiência de passar 44 dias incomunicáveis (traqueostomia) na UTI e sair do
hospital numa cadeira de rodas, logo que pude, retornei a ativa (dois meses
depois).
Hoje raciocíno que essa pressa em retornar está ligada a vontade de demonstrar aos
outros e especialmente a mim que havia superado o câncer.
Não refleti sobre as razões,
consequências e os “porquês” da doença em si.
E isso é soberba e/ou ingenuidade !!!!
Consequência do retorno precoce ... levei chumbo !!!
Após 06 meses de retorno à
delegacia de polícia, o sistema imunológico não suportou o “stress” e tive
pneumonias consecutivas.
Confesso que fiquei consternada
durante todo esse período (05 anos) e ficava num jogo masoquista a imaginar
sobre o pensavam os demais colegas de profissão quanto a minha readaptação de
função.
Na verdade, o problema não
era o que eles pensavam, mas o que eu pensava de mim, pois me sentia menos “delegada”
do que outros.
Nessa batalha interna, procurei
num momento de crise uma psicóloga, pois sentia a necessidade de voltar para a
delegacia a todo custo.
Não “aceitava” emocionalmente
minhas restrições de saúde.
A psicóloga me informou
que era comum esse sentimento e que inúmeras pessoas que estavam se readaptando
em novoas funções passavam pelas mesmas dúvidas e conflitos que eu estava
vivenciando.
Ufa, então não era só eu !!! E isso me acalmou.
Todavia, lá no fundo de
minha consciência, ainda pairava qual “zepelin” no ar, o duelo (preconceito)
entre servidor que trabalha na área fim e o que trabalha no administrativo,
tido como aquele que tem vida profissional mais fácil, folgada, privilegiada, “peixe”.
E “euzinha” não queria
receber essa faixa.
Tornei-me "vítima" (provisoriamente) do meu próprio preconceito.
E quase que ela me levou
para outra dimensão, pois incidi nos mesmos erros.
E a razão é óbvia, eu não havia "trabalhado" mentalmente
com as dificuldades anteriores, como a de saber impor limites e a de querer
agradar a todos.
E assim parei de cuidar
de mim.
Alimentava-me mal e
descansava menos ainda.
É lógico que a
responsabilidade não era da função que exercia, mas em como eu a exercia e a deixava me dominar !!!!!
Resultado dessa cadeia
louca de acontecimentos ...
Recidiva de câncer gástrico.
Cacetada ...
Tudo de novo só que agora
multiplicado por 10.
Reprise do medo da morte
iminente, da orfandade dos meus filhos ...
Enfim, o tratamento encerrou em julho
e agora estou a colocar os pensamentos no lugar novamente, para me sentir forte
emocional e fisicamente para o retorno a vida comum.
E eis que a vida me prega uma peça e me faz levar um
escorregão emocional novamente.
Indagada num encontro casual com um colega que questionou quanto ao meu retorno, senti em sua voz um tom de crítica/julgamento que me fez
sentir culpada (por estar de licença médica).
Fiquei em posição de defensiva, tentando justificar a razão de estar em licença médica.
Sou rotineiramente indagada por amigos quanto ao meu retorno ao serviço, contudo, esse teve um "sinal" diferencial, captado através do tom e expressão facial - era de crítica.
Se fosse "um qualquer" vá lá .... fazer o que né? Mas esse me deixou desapontada e triste por não esperar esse tratamento por parte de alguém tão querido.
Acho que estou afastada
do mundo real e superprotegida por um muro de “amor e cuidado”, quase
cor-de-rosa desde o diagnóstico.
Havia esquecido de me por "em guarda" para vivenciar a dureza das pessoas e assim abri espaço para sentir suas alfinetadas !!!!!
E doeu ...
Me fez ter
sensações desagradáveis.
Tive até insônia...
Por dois dias, não conseguia identificar a razão do mal estar.
Até que ontem, num “insight”
consegui vislumbrar o cerne da questão e o que me deixou incomodada naquela pergunta - identifiquei aquela “velha” vontade de
querer agradar a todos.
Passado o “drama” –
rsrsrsrsrs, percebo a necessidade de trabalhar internamente essa atitude teimosa
de querer agradar a todos, de não saber impor limites, de “exigir” muito de mim,
de querer ser sempre boazinha ...
Preciso melhorar a
autoestima e o amor próprio para que o ciclo vicioso não retorne e tome conta
de minha vida.
Nesse atual momento, não desejo
estar em posição de defesa (alerta) para o mundo real, é uma energia que não
desejo elaborar agora.
Quero apreciar,
mergulhar, agregar, aprender, somar e não subtrair e defender.
E estou alegre e calmamente recrutando partes de mim.
Claramente sinto que ainda não estou pronta para voltar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário