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terça-feira, 4 de setembro de 2012

Aceitando meus limites ...



“ Faz falta para ti conhecer teus limites. Se não os conheces, corres dentro das barreiras artificiais de tua imaginação e da expectativa de teus semelhantes. Mas tua vida suporta mal ser contida por barreiras artificiais. A vida quer saltar por sobre essas barreiras e tu te tornas desunido contigo mesmo. Essas barreiras não são teus verdadeiros limites, mas são limitação arbitrária que te impõe uma violência inútil. Procura então encontrar teus verdadeiros limites. Nós não os conhecemos de antemão, mas só os vemos e compreendemos quando nós os alcançamos. Mas isto também só te acontece quando tu tens equilíbrio. Sem equilíbrio, cais por cima e para fora de teus limites, sem perceber o que te acontece”
                                      C.G. Jung – O livro vermelho

 

 

 

Comecei a trabalhar aos 20 anos de idade e o meu primeiro emprego foi como professora de inglês no CCAA (Centro de Cultura Anglo Americano).

 

Ao mesmo tempo iniciei minha faculdade de Direito.

 

A vida corria solta num ritmo acelerado, trabalhava pela manhã e a tarde e estudava na UFMT a noite.

 

Depois desse início nunca mais parei de trabalhar e já perfazem 24 anos de trabalho com apenas 04 paradas estruturais.

 

As duas primeiras relativas ao período pós-parto (04 meses de licença-maternidade) e duas últimas paradas para tratamento do câncer.

 

Após o primeiro diagnóstico de câncer e de toda as complicações pós cirurgia, incluindo a experiência de passar 44 dias incomunicáveis (traqueostomia) na UTI e sair do hospital numa cadeira de rodas, logo que pude, retornei a ativa (dois meses depois).

 

Hoje raciocíno que essa pressa em retornar está ligada a vontade de demonstrar aos outros e especialmente a mim que havia superado o câncer.

 
Não refleti sobre as razões, consequências e os “porquês” da doença em si.

 

E isso é soberba e/ou ingenuidade !!!!
 
 
Consequência do retorno precoce ...  levei chumbo !!!

 
Após 06 meses de retorno à delegacia de polícia, o sistema imunológico não suportou o “stress” e tive pneumonias consecutivas.

 
A solução médica indicada foi me encaminhar para readaptação de função, ou seja, realizaria minha função em outro setor da instituição que não exigisse fisicamente além dos meus limites.

  

Confesso que fiquei consternada durante todo esse período (05 anos) e ficava num jogo masoquista a imaginar sobre o pensavam os demais colegas de profissão quanto a minha readaptação de função.

 

Na verdade, o problema não era o que eles pensavam, mas o que eu pensava de mim, pois me sentia menos “delegada” do que outros.


 
Nessa batalha interna, procurei num momento de crise uma psicóloga, pois  sentia a necessidade de voltar para a delegacia a todo custo.

 

Não “aceitava” emocionalmente minhas restrições de saúde.

 

A psicóloga me informou que era comum esse sentimento e que inúmeras pessoas que estavam se readaptando em novoas funções passavam pelas mesmas dúvidas e conflitos que eu estava vivenciando.

 

Ufa, então  não era só eu !!! E isso me acalmou.

 

Todavia, lá no fundo de minha consciência, ainda pairava qual “zepelin” no ar, o duelo (preconceito) entre servidor que trabalha na área fim e o que trabalha no administrativo, tido como aquele que tem vida profissional mais fácil, folgada, privilegiada, “peixe”.

 

E “euzinha” não queria receber essa faixa.
 
Tornei-me "vítima" (provisoriamente) do meu próprio preconceito.

 
É lógico que aprendi  várias lições, a primeira que se despiu em minha frente foi a de que quem trabalha no administrativo tem vida mansa ...
 
 
Inverdade !!!
 
Participei de inumeras comissões e trabalhos e nunca houve tempo para gazetear, contudo, quando tive a oportunidade de assumir uma função específica, a ela me entreguei de corpo e alma.

 
E quase que ela me levou para outra dimensão, pois incidi nos mesmos erros.
 
 
E a razão é óbvia, eu não havia "trabalhado" mentalmente com as dificuldades anteriores, como a de saber impor limites e a de querer agradar a todos.

 

E assim parei de cuidar de mim.

 

Alimentava-me mal e descansava menos ainda.

 

É lógico que a responsabilidade não era da função que exercia, mas em como eu a exercia e a deixava me dominar !!!!!

 

Resultado dessa cadeia louca de acontecimentos ...
 
Recidiva de câncer gástrico.

 

 Cacetada ...

 

Tudo de novo só que agora multiplicado por 10.

 

Reprise do medo da morte iminente, da orfandade dos meus filhos ...

 

Enfim, o tratamento encerrou em julho e agora estou a colocar os pensamentos no lugar novamente, para me sentir forte emocional e fisicamente para o retorno a vida comum.

 

E eis que a vida me prega uma peça e me faz levar um escorregão emocional novamente.
 
 
Indagada num encontro casual com um colega que questionou quanto ao meu retorno, senti em sua voz um tom de crítica/julgamento que me fez sentir culpada (por estar de licença médica).
 
Fiquei em posição de defensiva, tentando justificar a razão de estar em licença médica.
 
Sou rotineiramente indagada por amigos quanto ao meu retorno ao serviço, contudo, esse teve um "sinal" diferencial, captado através do  tom e expressão facial - era de crítica.
 
Se fosse "um qualquer" vá lá .... fazer o que né? Mas esse me deixou desapontada e triste por não esperar esse tratamento por parte de alguém tão querido.
 
 
Acho que estou afastada do mundo real e superprotegida por um muro de “amor e cuidado”, quase cor-de-rosa desde o diagnóstico.
 
Havia esquecido de me por "em guarda" para vivenciar a dureza das pessoas e assim abri espaço para sentir suas alfinetadas !!!!!

 

E doeu ...
 
Me fez ter sensações desagradáveis.
 
Tive até insônia...

 
Por dois dias, não conseguia identificar a razão do mal estar.

 
Até que ontem, num “insight” consegui vislumbrar o cerne da questão e o que me deixou incomodada naquela pergunta - identifiquei aquela “velha” vontade de querer agradar a todos.

 

Passado o “drama” – rsrsrsrsrs, percebo a necessidade de trabalhar internamente essa atitude teimosa de querer agradar a todos, de não saber impor limites, de “exigir” muito de mim, de querer ser sempre boazinha ...

 

Preciso melhorar a autoestima e o amor próprio para que o ciclo vicioso não retorne e tome conta de minha vida.

    

Nesse atual momento, não desejo estar em posição de defesa (alerta) para o mundo real, é uma energia que não desejo elaborar agora.

 

Quero apreciar, mergulhar, agregar, aprender, somar e não subtrair e defender.

 
Como no texto de C.G. Jung acima transcrito - preciso primeiro  me conhecer para poder me equilibrar.

E estou alegre e calmamente recrutando partes de mim. 

Claramente sinto que ainda não estou pronta para voltar.


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