Quando fui a São Paulo no
final do mês passado, ganhei um livro de minha Tia Bety chamado “Palavras para
Desatar Nós” de Rubem Alves. Leio (igual a ela) uma ou duas passagens por dia,
pois cada passagem tem um ensinamento que não pode ser deglutido de uma só vez.
Fico às vezes dias “matutando” sobre aquele tema.
Um me chamou especial
atenção, o título é “Tenho Medo”, nele o autor que é psicanalista diz que não tem medo da morte mas do morrer que diz serem coisas distintas. Informa que além do medo do morrer tem medo da loucura. Mas o que me tocou foi quando ele diz que: “O
medo faz parte da alma humana e o que é decisivo é se o medo nos faz rastejar
ou se ele nos faz voar. Quem, por causa do medo, se encolhe e rasteja vive a morte
na própria vida. Quem a despeito do medo, toma o risco e voa, triunfa sobre a
morte. Morrerá quando a morte vier. Mas quando ela vier.”
“Viver a vida aceitando o
risco da morte, isso tem o nome de coragem. Coragem não é ausência do medo. É
viver, a despeito do medo.”
Aduz ainda que “ somos
iguais aos animais: as mesmas coisas terríveis podem acontecer a eles e a nós.
Mas somos diferentes deles porque eles só sofrem como se deve sofrer, isto é,
quando o terrível acontece. E nós tolos, sofremos sem que ele tenha
acontecido. Sofremos imaginando o terrível. O medo é a presença do terrível
não acontecido apossando-se das nossas vidas. Ele pode acontecer? Pode. Mas
ainda não aconteceu, nem se sabe se acontecerá.
Contudo, falíveis que
somos nos entregamos a tagarelices mentais terríveis que acopladas à imaginação
fértil nos leva a rasantes devastadoras.
Necessário se faz uma boa peneirada no pensamento,
deixando na rede trançada o que não é salutar.
Veja o que acontece
comigo, após o exame de imagem (rotineiro de três em três meses) se detectou um
espessamento no intestino, corri para oncologista que determinou novos exames,
aonde fiz uma colonoscopia, confirmando o espessamento visualizado e retirando pedacinhos
para biopsia.
Nos primeiros dias fiquei
arrasada (jogue a primeira pedra quem não ficaria também), contudo nesse
aprendizado diário de equilíbrio, estou conseguindo dominar o famigerado MEDO,
descrito por Rubem Alves, aquele medo que nos abate antes do fato acontecer e
que junto com a Espera faz de uns mansos e pacíficos e de outros desvairados e
imprudentes ...
Assim, estou a busca de destilar
do momento todo o sabor e substância necessária para apreciar a vida tal como
ela o é para mim.
Giovanni Papini escreve
no texto “Relatório sobre os homens” acerca da eterna espera e busca pelo homem
de algo que nem ele sabe o que é:
“Esperamos sempre alguma
coisa ou alguém. Começa-se em criança a esperar a juventude com impaciência
quase alucinada, depois adolescentes, espera-se a independência, a fortuna ou
porventura apenas um emprego e uma esposa. Os filhos esperam a morte dos pais,
os enfermos a cura, os professores as férias, os universitários a formatura, as
raparigas um marido, os velhos o fim. Quem entrar numa prisão verificará que
todos os reclusos contam os dias que os separam da liberdade, numa escola,numa
fábrica ou num escritório, só encontrará criaturas que esperam, contando as
hora, o momento da saída e da fuga. Exames, concursos, noivados, loterias,
seminários, operações da Bolsa – são formas e causas de expectativa... Quando
acontece ou se alcança o esperado, abrem-se todas as comportas da alegria. Mas
por pouco tempo, pois a meta não é tão atraente como parecia de longe, ao longo
do caminho – toda a vitória, no dia imediato, tem o mesmo sabor da derrota. Mas
a desilusão, em vez de conduzir à renúncia, incita a novas expectativas. E toda
a vida do homem, apesar de todos os adiamentos e paragens, não passa de um
esperar a vida, a bela vida, a verdadeira, a nossa. E, enquanto esperamos a
vida, esquecemo-nos de viver ou vivemos sem economia e prudência, não pensando
em destilar dos minutos de hoje, única propriedade certa, todo o sabor e substância.”
Posto abaixo algumas fotos tiradas durante esse momento de espera, onde colho a "substância do momento" junto com meus amados e amores ...
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