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terça-feira, 20 de novembro de 2012

O destilar do momento ...







Quando fui a São Paulo no final do mês passado, ganhei um livro de minha Tia Bety chamado “Palavras para Desatar Nós” de Rubem Alves. Leio (igual a ela) uma ou duas passagens por dia, pois cada passagem tem um ensinamento que não pode ser deglutido de uma só vez.
 
Fico às vezes dias “matutando” sobre aquele tema.
 

Um me chamou especial atenção, o título é “Tenho Medo”, nele o autor que é psicanalista diz que não tem medo da morte mas do morrer que diz serem coisas distintas. Informa que além do medo do morrer tem medo da loucura. Mas o que me tocou foi quando ele diz que: “O medo faz parte da alma humana e o que é decisivo é se o medo nos faz rastejar ou se ele nos faz voar. Quem, por causa do medo, se encolhe e rasteja vive a morte na própria vida. Quem a despeito do medo, toma o risco e voa, triunfa sobre a morte. Morrerá quando a morte vier. Mas quando ela vier.”
 

“Viver a vida aceitando o risco da morte, isso tem o nome de coragem. Coragem não é ausência do medo. É viver, a despeito do medo.”


Aduz ainda que “ somos iguais aos animais: as mesmas coisas terríveis podem acontecer a eles e a nós. Mas somos diferentes deles porque eles só sofrem como se deve sofrer, isto é, quando o terrível acontece. E nós tolos, sofremos sem que ele tenha acontecido. Sofremos imaginando o terrível. O medo é a presença do terrível não acontecido apossando-se das nossas vidas. Ele pode acontecer? Pode. Mas ainda não aconteceu, nem se sabe se acontecerá.  


Contudo, falíveis que somos nos entregamos a tagarelices mentais terríveis que acopladas à imaginação fértil nos leva a rasantes devastadoras.

 
Necessário se faz uma boa peneirada no pensamento, deixando na rede trançada o que não é salutar.

 

Veja o que acontece comigo, após o exame de imagem (rotineiro de três em três meses) se detectou um espessamento no intestino, corri para oncologista que determinou novos exames, aonde fiz uma colonoscopia, confirmando o espessamento visualizado e retirando pedacinhos para biopsia.


Nos primeiros dias fiquei arrasada (jogue a primeira pedra quem não ficaria também), contudo nesse aprendizado diário de equilíbrio, estou conseguindo dominar o famigerado MEDO, descrito por Rubem Alves, aquele medo que nos abate antes do fato acontecer e que junto com a Espera faz de uns mansos e  pacíficos e de outros desvairados e imprudentes ...   



Assim, estou a busca de destilar do momento todo o sabor e substância necessária para apreciar a vida tal como ela o é para mim.



Giovanni Papini escreve no texto “Relatório sobre os homens” acerca da eterna espera e busca pelo homem de algo que nem ele sabe o que é:


“Esperamos sempre alguma coisa ou alguém. Começa-se em criança a esperar a juventude com impaciência quase alucinada, depois adolescentes, espera-se a independência, a fortuna ou porventura apenas um emprego e uma esposa. Os filhos esperam a morte dos pais, os enfermos a cura, os professores as férias, os universitários a formatura, as raparigas um marido, os velhos o fim. Quem entrar numa prisão verificará que todos os reclusos contam os dias que os separam da liberdade, numa escola,numa fábrica ou num escritório, só encontrará criaturas que esperam, contando as hora, o momento da saída e da fuga. Exames, concursos, noivados, loterias, seminários, operações da Bolsa – são formas e causas de expectativa... Quando acontece ou se alcança o esperado, abrem-se todas as comportas da alegria. Mas por pouco tempo, pois a meta não é tão atraente como parecia de longe, ao longo do caminho – toda a vitória, no dia imediato, tem o mesmo sabor da derrota. Mas a desilusão, em vez de conduzir à renúncia, incita a novas expectativas. E toda a vida do homem, apesar de todos os adiamentos e paragens, não passa de um esperar a vida, a bela vida, a verdadeira, a nossa. E, enquanto esperamos a vida, esquecemo-nos de viver ou vivemos sem economia e prudência, não pensando em destilar dos minutos de hoje, única propriedade certa, todo o sabor e substância.”  
 
Posto abaixo algumas fotos tiradas durante esse momento de espera, onde colho a "substância do momento" junto com meus amados e amores ...  
 



 

 

 

 


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