Às
vésperas de fazer 45 anos (29 de março) repasso mentalmente tantos fatos e
experiências vividas ...
De uma
infância sadia brincando na rua com amigos a uma adolescência calma cercada de
livros de romance.
O grande
divisor de águas entre a pueril adolescência e o inicio da vida adulta foi a
experiência maravilhosa de ter morado como estudante de intercambio por um ano
nos EUA.
Senti a
barra de morar longe do aconchego dos pais, mas recebi amor de pessoas até
então desconhecidas e com as quais até hoje me relaciono.
Ingressei
em movimentos de jovens como o Rotaract que fomentou a minha sede de ajudar o
próximo e o sonho idealista que eu podia mudar
mundo com minha ação.
Tomei
rumo e decidi entrar na faculdade de Direito, fazendo da deusa Themis minha
aliada e companheira.
Casei-me,
sou mãe de dois filhos.
Passei no
concurso público para Delegada de Polícia e muitas aventuras vivi. Enfrentei o
desafio do preconceito de atuar numa profissão estigmatizada pela sociedade.
Rompi
minhas próprias barreiras.
Estou
aqui agora, enfrentando talvez a maior batalha da minha vida, que é sobreviver
a essa doença traiçoeira e mortal que é o câncer.
Os rounds
são pesados, mas a base da construção do meu ser é bem fortalecida. O amparo e
a força que recebo me tornam corajosa, embora às vezes sucumbo em medo ... sou
humana!!
Sempre
achei que iria viver muito tempo.
Mas o
tempo ultimamente vem me espreitando, sinto-o pulsar junto a minha consciência e
o relógio da vida soa em meus ouvidos demandando ações.
Assim, na
véspera de mais um ano de vida bem vivida, eu estampo imagens na minha mente e
aguardo que o subconsciente e o consciente aceita-as como verdade e procure
buscar fórmulas para materializar tais imagens.
Agora que passarei para os 45 minutos do segundo tempo da vida, descrevo aqui meus sonhos, desejos e vontades, propondo-me metas a serem
atingidas.
Desejo
viver, mas viver de maneira diferente de antes.
Quero
reformular antigas fórmulas de viver, na verdade não desejo reformular ou por
em forma nada, apenas sentir a vida e a beleza que nela existe.
Desejo viver
devagarzinho, sentindo a brisa, o calor do dia, apreciando a lentidão da vida.
Quero
viajar para vilarejos distantes com realidades diversas daqui.
Desejo poder
sentar nos banquinhos de
praças bem antigas numa tarde de
verão ameno e observar a vida girando ao redor, colhendo empiricamente outras
formas de viver e enxergar a vida.
Desejo
passear por campos e aldeias e conhecer as histórias daquele lugar . Observar
as cores das árvores, sentir o cheiro do campo ou a maresia do mar.
Desejo
estar presente na vida dos meus filhos, acompanhar as mudanças da adolescência para a maturidade dos dias,
suas frustrações diárias e superações.
Desejo
vê-los encontrar o primeiro amor e estar junto a eles quando da primeira
desilusão amorosa.
Desejo
vê-los no embate do primeiro emprego e acompanha-los em suas conquistas
profissionais.
Desejo
estar presente na igreja com eles e entrega-los a seus amores.
Desejo
receber a noticia da gravidez de minhas noras e pegar meus netos no colo para
embala-los satisfeita com o prolongamento da minha vida na vida deles.
Desejo
cuidar dos meus pais e ampara-los na velhice. Leva-los para passear e segurar
suas mãos quando precisarem de apoio para levantar.
Desejo
ver meus irmãos satisfeitos com a vida e velhinhos como eu para rirmos de
nossas aventuras e desventuras.
Desejo
ver meu sobrinho, sobrinhas e afilhadas crescidas, e vê-los orgulhos e felizes
com suas conquistas.
E quero
estar em todas essas andança junto ao homem que sempre me amou, compreendeu e
me acompanha nessa jornada da vida desde os nossos 15 anos.
Desejo
lembrar dos dias atuais como dias de aprendizado e crescimento pessoal e não
esquecer um dia sequer dessa maravilhosa experiência que é viver.Para refletir um poema de Carlos Drummond de Andrade .
“Não importa onde você parou...
Em que momento da vida cansou...
O que importa é que sempre é possível recomeçar.
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdiço da vida está
no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoística que
nada arrisca e que esquivando-se do sofrimento perdemos também a felicidade
A dor é inevitável
O sofrimento é opcional.”
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