“Façamos das antigas memórias as grandes armas da esperança e tiremos das doces lembranças a matéria prima para novas histórias.” Lucas Ferreira
Da memória infantil
sempre me recordo das festas realizadas no sítio do meu avô materno localizada
no município de Santo Antonio do Leverger.
O local denominado por
“Borralho” surge como um lugar mágico nessa memória emocional.
Dos banhos no rio Cuiabá,
à época livre da poluição, a alegria de moer cana de açúcar para tomar “garapa”
coada na hora, sendo que nós (os netos) disputávamos no empurra-empurra o lugar
do animal de carga.
Quanta inocência e pureza
!!
Lembro-me da confecção da
“queimada ou puxa-puxa”, onde reunidos ouvíamos estórias e histórias de
experiências vivenciadas por nossos avós, tios e primos mais velhos.
Catar laranja no pé,
mexer no galinheiro e pescar lambaris na beira do rio com balde no momento da
limpeza dos peixes graúdos, nos remete a uma doce nostalgia.
Até dos momentos tensos,
quando atravessávamos “na força do braço” remado, o rio Cuiabá numa canoa de
madeira, já judiada pelo uso, onde se misturava naquela embarcação desde
panelas, cobertores, colchões, redes, crianças, jovens e idosas até cachorros de
estimação.
Pela graça Divina nunca
ocorreu nenhum acidente.
Dormíamos numa casa de
adobe e pau-a-pique, num espaço exíguo, com redes transpassando umas as outras e
colchonetes no chão.
Quanta satisfação !!!
Não havia luz, muito
menos TV ou internet.
O fogão era a lenha e na hora de dormir, de
maneira milimétrica conseguiamos nos acomodar pela sala, quarto e cozinha e a noite sob
a luz do lampião contavam-se mais histórias.
Assim se passava aos
descendentes os costumes e tradições familiares.
Eram encontros que
permitiam repassar os ensinamentos às próximas gerações.
Nos dias atuais,
somos “escravos do tempo” e vivemos num mundo individualista em que a rapidez das
informações é ponto central da vida. Distanciamos, dessa forma, cada vez mais
da emoção em compartilhar vivências.
Entendo que participar
das tradicionais festas familiares, como o Natal, Ano Novo, Festa de Santo ou
outra de igual padrão, propicia o compartilhar de experiências adquiridas, além
da oportunidade de aproximar gerações, lembrando das trajetórias anteriores,
buscando humanidades comuns e a melhor compreensão dos outros e de nós mesmos.
Nesses eventos, nos
conectamos com o nosso passado e atualizamos o nosso presente, fomentando um
futuro recheado de doces emoções.
As desavenças e
desencontros, comuns na vida são esquecidos, sobrevivendo apenas o nexo comum
da memória entre as gerações.
O vínculo de união começa a se
estabelecer desde a preparação do cardápio, na discussão acerca do “molde” do
evento até nas inovações trazidas pela
criatividade de cada festeiro.
Dessa forma nos tornarmos
únicos – filhos e filhas oriundos de uma árvore que produziu bons frutos – com
a motivação de perpetuarmos conhecimento, vivências, estórias e histórias a
nossos descendentes.
A imortalidade de cada um
se torna palpável em nossa memória quando relembramos as características, as
peculiaridades e as ações dos nossos familiares.
A sabedoria está em saber
colher desse néctar, lembranças e aprendizados que nos permitam expandir como
ser humano pleno, mas consciente de sua raiz.
Ah, só para mencionar, em
agosto iremos ao Borralho comemorar a tradicional festa de São Benedito e São
João da família Ribeiro Teixeira.
Lá encontrarei com parentes
que pouco vi no ano que se passou (embora presentes na memória), novos parentes
(crianças nascidas) e novos agregados.
Este ano com o
diferencial de comemorarmos o centenário de minha avó Benedita.
Viva a tradição !!!
Viva a tradição! Quanta verdade!Sem elas estaríamos mais desmemoriados e menos sensíveis à delicadeza e às sutilezas da vida em família e em comunidade.Por isso, às vezes, passando por cima de algum cansaço, a gente tem que se obrigar a fazê-las acontecer. No final, todos ficamos felizes pelo encontro e pelas recordações, mantendo a tradição para os novos membros da grande família humana! Beijos e parabéns pelo post. Te amo.
ResponderExcluirÉ isso mesmo Tia Bety!! Por isso os nossos Natais são imprescindíveis para manutenção do liame que une a todos nós e que venho a 02 anos reforçando nos poemas lidos durante a festa. A memória e as lembranças são perolas que nos acompanham em todos os momentos e lugares, Nunca estamos sós com elas. Bjs Carla Te amo
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