Hoje não tem frase de
efeito ou poesia.
É um simples desabafo.
Já escrevi nos posts
anteriores sobre meus pais, avós e irmãos, contudo não consigo escrever sobre meus
filhos.
Creio que de todos os
medos que uma doença grave como o câncer pode causar a uma mãe o temor de “faltar”
aos filhos é o mais doloroso.
Essa sensação oprime e me
deixa sem ar.
Procuro não pensar sobre
o fato, achando que o não comentar faria o problema desaparecer.
Vã ilusão...
A possibilidade de morrer
e deixa-los ainda pequenos, sem maturidade suficiente para enfrentar a vida,
causa um stress muito grande.
É como se eu os
abandonasse e os deixasse a mercê do mundo.
Eu tenho convicção que
meu marido, pais e irmãos realizariam com amor e responsabilidade a
continuidade na criação dos meus meninos, contudo a dor é muito grande.
Quando houve o 2º diagnóstico
do câncer, quase pirei pois só conseguia pensar que eu poderia morrer e não
teria tempo de passar “todos conselhos” e informações que acreditava serem
imprescindíveis para a vida deles.
Superei essa ansiedade e
consegui me conter.
Eventualmente e quando a
situação permite e sem alarde, procuro inserir conselhos quando a situação se
apresenta, seja assistindo filmes, novelas, jornais e fatos vivenciados pelos
mesmos.
Sempre me deixou incomodada
o fato deles terem desde a infância a sensação de insegurança quanto a
possibilidade de perda prematura da mãe.
São muito pequenos ...
Eu
com 44 anos de idade, sinto mal só de pensar em perder meus pais, imagine com a
tenra idade deles.
O conhecimento do câncer
está na vida deles desde 2005 e não podia ser diferente, tenho marcas pelo
corpo (cirurgia) e não podeira esconde-las, portanto eles sempre souberam que
eu havia tido uma doença grave chamada câncer.
Então, com a confirmação
do câncer em fevereiro deste anos, decidi contar a verdade para eles.
Assim, conversando com Alcedina,
minha cunhada e madrinha de ambos sobre como poderia fazer a abordagem menos
traumática sobre o assunto com eles, me foi sugerido dizer de maneira “relaxada”,
sem muita “sisudez ou seriedade”.
Santo conselho !!!
Assim, eu e Antonio sentamos com Túlio (11 anos) e
Tiago ( 09anos) e informalmente conversamos sobre o que havia ocorrido após a
operação da vesícula, informando que o câncer havia voltado e seria necessário fazer
tratamento específico (quimioterapia) e posteriormente cirurgia.
O silêncio foi total.
Indaguei se eles tinham
alguma pergunta, pois não queria falar mais que o necessário.
Túlio então indagou: “
Você vai ficar careca, mamãe?”
Eu confirmei, porém disse
que depois o cabelo cresceria. Eles ficaram mais tranquilos e eu também, pois
pareciam ter entendido o problema.
Pedi o apoio deles visto
algumas atividades que antes realizávamos poderiam ser mudadas em razão dos
efeitos da quimio e disse que contava com a ajuda deles.
De pronto se mostraram
dispostos e atentos a mim.
E assim foi durante toda
a quimioterapia.
Quando os cabelos
começaram a cair e eu decidi corta-los, convidei-os a me ajudar com a tesoura a
cortar os cabelos.
Entraram na brincadeira,
fizeram em mim corte de cabelo estilo Neymar, punk e finalmente careca.
A brincadeira foi tanta
que fiquei com medo de ficar sem a orelha, com a tesoura passando rente dela o
tempo inteiro.
Brincamos seriamente
!!
Busquei tratar do câncer
como algo sério, porém transponível.
Deixei claro que o
resultado final não estava sob o meu controle, mas que eu faria de tudo para
vencer essa batalha.
Durante esse tempo - tratamento
com quimioterapia - comportaram-se de maneira surpreendente.
Tentei levar a vida normal
e eles aceitaram algumas perdas necessárias em razão dos efeitos da
quimioterapia.
Deixei de “lutar e rolar”
com eles em razão do cateter que fica no meu peito e deixamos de passear mais -
estamos mais caseiros.
Em compensação,
acompanho-os nas tarefas escolares e atividades extra escolar.
Assim conseguimos
transpor essa primeira etapa.
Ficaram (como se ainda
fosse possível) mais carinhosos e cuidadosos.
Estão sempre me beijando
e abraçando.
Procuro observa-los com
maior atenção, buscando algum sinal de stress emocional no comportamento deles.
Passada a fase da
quimioterapia e agora aguardando a resposta a respeito da viabilidade da
cirurgia ou não, observo que estão apreensivos,
indagando sobre o que acontecerá e quando será a cirurgia?
Sentia que o Túlio estava
mais tenso e preocupado, por ser mais velho e ter maior conhecimento sobre a
gravidade da doença, contudo ontem a noite o Tiago me surpreendeu.
Fui me deitar mais cedo e
estava assistindo a novela para “pegar” no sono, quando Tiago se deitou ao meu
lado.
Eu logo o abracei e
comecei a cantar uma “musiquinha” que inventei quando ele era bebê e que eu
sempre canto para ele.
Ele então se afastou e me
olhou com aqueles olhos grandes e de adoração filial.
Nesse momento, vi um
sombra passar por seu semblante e a identifique imediatamente como dor, não
física, mas emocional.
Perguntei a ele sobre o
que estava sentindo naquele momento.
Ele me abraçou e enroscou-se no meu corpo,
dizendo que não sabia o que estava sentindo.
Eu fingi que não sabia e indaguei
se era medo.
Nesse instante, ele
começou a chorar baixinho.
Meu coração partiu e tentei
controlar a minha emoção para não afeta-lo ainda mais.
Quase consegui.
Chorei um pouquinho com
ele e depois o abracei fortemente e disse que era normal ter medo e que eu
tinha muito medo também, mas que eu procurava não deixar o medo tomar conta do meu
ser.
Reafirmei o que havia
dito antes sobre eu não ter controle absoluto sobre a doença, contudo tinha fé
e esperança de conseguir vencê-la, mas não dependia só do “meu querer”, mas de
uma soma de outros fatores, porém o que fosse da minha parte e responsabilidade
– eu faria e lutaria.
Ele começou a se acalmar,
continuamos deitados por mais algum tempo.
Hoje pela manhã eu
acordei e parecia que um trator havia passado sobre mim.
Quando eles se levantaram,
olhei bem para Tiago e percebi que ele havia superado o momento e estava
tranquilo.
Relaxei um pouco quando o
vi feliz e brincando na sala.
Passei o dia pensativa ...
E decidi quebrar o muro que
me impedia de escrever sobre minhas preocupações mais profundas.
Quem sabe assim, eu
liberto a minha “sombra”.
Todos nós que amamos voce estamos apreensivos, mas acima de tudo temos que ter fé na ciência, nos avanços da medicina e fé em Deus. Disse que estamos juntas rumo ao topo da montanha, ao sucesso dessa batalha e tenho certeza que iremos conseguir, não está fácil, mas não podemos esmorecer neste momento, respire fundo, força, fé em Deus e em Nossa Senhora, que teremos uma resposta adequada aos tratamentos e você será vencedora! Te amamos e estamos do seu lado, bjos Tia Rita
ResponderExcluirMe deu uma dor tao profunda ao ler seu texto, que me travou a garganta e eu chorei!! Tenho certeza que nao está sendo nada fácil para vcs, e esse sentimento de terror em morrer e deixar os filhos sem nós é realmente terrível e doloroso demais !!! Tem noites que eu perco o sono pensando o que seria deles (dos meus) se eu deixasse de viver, isso pq nao estou com o problema de saúde que vc está, entao imagina o seu sofrimento !! mas vc é guerreira Carla, e acima de tudo uma super mãe e muito dedicada !! maior prova disso é o amor que seus filhos sentem por vc !! Deus os abençoe a todos vcs muito !!!
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