Translate

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Abrindo as entranhas ...


Hoje não tem frase de efeito ou poesia.




É um simples desabafo.




Já escrevi nos posts anteriores sobre meus pais, avós e irmãos, contudo não consigo escrever sobre meus filhos.




Creio que de todos os medos que uma doença grave como o câncer pode causar a uma mãe o temor de “faltar” aos filhos é o mais doloroso.




Essa sensação oprime e me deixa sem ar.




Procuro não pensar sobre o fato, achando que o não comentar faria o problema desaparecer.




Vã ilusão...




A possibilidade de morrer e deixa-los ainda pequenos, sem maturidade suficiente para enfrentar a vida, causa um stress muito grande.




É como se eu os abandonasse e os deixasse a mercê do mundo.




Eu tenho convicção que meu marido, pais e irmãos realizariam com amor e responsabilidade a continuidade na criação dos meus meninos, contudo a dor é muito grande.



Quando houve o 2º diagnóstico do câncer, quase pirei pois só conseguia pensar que eu poderia morrer e não teria tempo de passar “todos conselhos” e informações que acreditava serem imprescindíveis para a vida deles.





Superei essa ansiedade e consegui me conter.





Eventualmente e quando a situação permite e sem alarde, procuro inserir conselhos quando a situação se apresenta, seja assistindo filmes, novelas, jornais e fatos vivenciados pelos mesmos.




Sempre me deixou incomodada o fato deles terem desde a infância a sensação de insegurança quanto a possibilidade de perda prematura da mãe.





São muito pequenos ...


 Eu com 44 anos de idade, sinto mal só de pensar em perder meus pais, imagine com a tenra idade deles.





O conhecimento do câncer está na vida deles desde 2005 e não podia ser diferente, tenho marcas pelo corpo (cirurgia) e não podeira esconde-las, portanto eles sempre souberam que eu havia tido uma doença grave chamada câncer.





Então, com a confirmação do câncer em fevereiro deste anos, decidi contar a verdade para eles.




Assim, conversando com Alcedina, minha cunhada e madrinha de ambos sobre como poderia fazer a abordagem menos traumática sobre o assunto com eles, me foi sugerido dizer de maneira “relaxada”, sem muita “sisudez ou seriedade”.



Santo conselho !!!



Assim,  eu e Antonio sentamos com Túlio (11 anos) e Tiago ( 09anos) e informalmente conversamos sobre o que havia ocorrido após a operação da vesícula, informando que o câncer havia voltado e seria necessário fazer tratamento específico (quimioterapia) e posteriormente cirurgia.





O silêncio foi total.





Indaguei se eles tinham alguma pergunta, pois não queria falar mais que o necessário.




Túlio então indagou: “ Você vai ficar careca, mamãe?”




Eu confirmei, porém disse que depois o cabelo cresceria. Eles ficaram mais tranquilos e eu também, pois pareciam ter entendido o problema.



Pedi o apoio deles visto algumas atividades que antes realizávamos poderiam ser mudadas em razão dos efeitos da quimio e disse que contava com a ajuda deles.




De pronto se mostraram dispostos e atentos a mim.




E assim foi durante toda a quimioterapia.




Quando os cabelos começaram a cair e eu decidi corta-los, convidei-os a me ajudar com a tesoura a cortar os cabelos.




Entraram na brincadeira, fizeram em mim corte de cabelo estilo Neymar, punk e finalmente careca.




A brincadeira foi tanta que fiquei com medo de ficar sem a orelha, com a tesoura passando rente dela o tempo inteiro.




Brincamos seriamente !!  




Busquei tratar do câncer como algo sério, porém transponível.




Deixei claro que o resultado final não estava sob o meu controle, mas que eu faria de tudo para vencer essa batalha.




Durante esse tempo - tratamento com quimioterapia - comportaram-se de maneira surpreendente.




Tentei levar a vida normal e eles aceitaram algumas perdas necessárias em razão dos efeitos da quimioterapia.




Deixei de “lutar e rolar” com eles em razão do cateter que fica no meu peito e deixamos de passear mais - estamos mais caseiros.




Em compensação, acompanho-os nas tarefas escolares e atividades extra escolar.




Assim conseguimos transpor essa primeira etapa.




Ficaram (como se ainda fosse possível) mais carinhosos e cuidadosos.




Estão sempre me beijando e abraçando.




Procuro observa-los com maior atenção, buscando algum sinal de stress emocional no comportamento deles.




Passada a fase da quimioterapia e agora aguardando a resposta a respeito da viabilidade da cirurgia ou não, observo que estão  apreensivos, indagando sobre o que acontecerá e quando será a cirurgia?




Sentia que o Túlio estava mais tenso e preocupado, por ser mais velho e ter maior conhecimento sobre a gravidade da doença, contudo ontem a noite o Tiago me surpreendeu.




Fui me deitar mais cedo e estava assistindo a novela para “pegar” no sono, quando Tiago se deitou ao meu lado.



Eu logo o abracei e comecei a cantar uma “musiquinha” que inventei quando ele era bebê e que eu sempre canto para ele.



Ele então se afastou e me olhou com aqueles olhos grandes e de adoração filial.




Nesse momento, vi um sombra passar por seu semblante e a identifique imediatamente como dor, não física, mas emocional.




Perguntei a ele sobre o que estava sentindo naquele momento.




 Ele me abraçou e enroscou-se no meu corpo, dizendo que não sabia o que estava sentindo.




Eu fingi que não sabia e indaguei se era medo.




Nesse instante, ele começou a chorar baixinho.




Meu coração partiu e tentei controlar a minha emoção para não afeta-lo ainda mais.




Quase consegui.




Chorei um pouquinho com ele e depois o abracei fortemente e disse que era normal ter medo e que eu tinha muito medo também, mas que eu  procurava não deixar o medo tomar conta do meu ser.




Reafirmei o que havia dito antes sobre eu não ter controle absoluto sobre a doença, contudo tinha fé e esperança de conseguir vencê-la, mas não dependia só do “meu querer”, mas de uma soma de outros fatores, porém o que fosse da minha parte e responsabilidade – eu faria e  lutaria.




Ele começou a se acalmar, continuamos deitados por mais algum tempo.




Hoje pela manhã eu acordei e parecia que um trator havia passado sobre mim.




Quando eles se levantaram, olhei bem para Tiago e percebi que ele havia superado o momento e estava tranquilo.




Relaxei um pouco quando o vi feliz e brincando na sala.




Passei  o dia pensativa ...




E decidi quebrar o muro que me impedia de escrever sobre minhas preocupações mais profundas.




Quem sabe assim, eu liberto a minha “sombra”.




2 comentários:

  1. Todos nós que amamos voce estamos apreensivos, mas acima de tudo temos que ter fé na ciência, nos avanços da medicina e fé em Deus. Disse que estamos juntas rumo ao topo da montanha, ao sucesso dessa batalha e tenho certeza que iremos conseguir, não está fácil, mas não podemos esmorecer neste momento, respire fundo, força, fé em Deus e em Nossa Senhora, que teremos uma resposta adequada aos tratamentos e você será vencedora! Te amamos e estamos do seu lado, bjos Tia Rita

    ResponderExcluir
  2. Me deu uma dor tao profunda ao ler seu texto, que me travou a garganta e eu chorei!! Tenho certeza que nao está sendo nada fácil para vcs, e esse sentimento de terror em morrer e deixar os filhos sem nós é realmente terrível e doloroso demais !!! Tem noites que eu perco o sono pensando o que seria deles (dos meus) se eu deixasse de viver, isso pq nao estou com o problema de saúde que vc está, entao imagina o seu sofrimento !! mas vc é guerreira Carla, e acima de tudo uma super mãe e muito dedicada !! maior prova disso é o amor que seus filhos sentem por vc !! Deus os abençoe a todos vcs muito !!!

    ResponderExcluir