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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Todos nós somos "Caius" ...


"Morremos como mortais que somos e vivemos como se fôramos imortais."
Sêneca


Em 2005 quando tive o 1º diagnóstico de câncer, procurei após a cirurgia de ressecção do tumor, o auxílio de uma profissional em psicologia. Naquela época, eu estava confusa, insegura quanto aos novos sentimentos, antes não identificado em minha vida comum.

Expliquei a psicóloga (Dra. Elione) que estava angustiada pois não conseguia fazer planos para o futuro ... e vez ou outra me pegava boicotando momentos prazeiros com pensamentos funestos do tipo:

1-  Nas apresentações escolares dos meus filhos, boicotava o momento, quando me indagava repentinamente se eu teria a possibilidade de participar de idêntico evento no futuro, quando os mesmos fossem adolescentes, estava incerta de estar aqui com meus filhos até esse período de vida.
2- Será que estarei aqui no natal?
2-  Não fazia planos prolongados e nem comprava nada com a obrigação de pagar por mais de 3 prestações.


A psicóloga então falou-me sobre o mito da imortalidade, ou seja, embora todos nós seres humanos saibamos que iremos morrer um dia, conhecemos a morte mediante o processo de morrer dos outros.

Mais tarde, lendo o livro Anticancer, de autoria de David  Servan-Schreiber, médico francês que foi diagnosticado com cancer no cérebro e  prazo de vida de 06 meses (que ele conseguiu prorrogar por 19 anos, vindo a falecer no ano passado), novamente leio acerta do mito da imortalidade, onde David Servan-Schereiber narra uma parte do romance de Tolstoi  chamado  "A morte de Ivan Ilitch", que tece acerca da incredulidade de ser humano diante da possibilidade de própria morte, o qual trascrevo abaixo:.

"Ivan Ilicht é magistrado em  São Petersburgo e leva a vida bem regrada até o dia em que cai doente. Escondem-lhe a gravidade de seu estado, mas ele termina se dando conta de que está prestes a morrer. Nesse instante, todo seu ser se revolta contra essa idéia ... Impossível." 
"No funda de sua alma, ele sabia que estava prestes a morrer, mas não apenas não conseguia se habituar a ideia, como não podia apreende-la. No exemplo de silogismo que tinha aprendido no manual de lógica de Kieswetter, Ivan tinha lido: "Caius é um homem, os homens são mortaris, portanto Caius é mortal".  O raciocionio parecer exato se se trasse de Caius, mas não de sua própria pessoa. Que Caius um homem no sentido geral da palavra fosse mortal era perfeitamente normal. Mas ele (Ivan Ilicht) não era Caius, ele não era um homem no sentido geral ... Não é possível que eu tenha que morrer. Seria pavoroso demais..."

A vida nos parece infinita ... E em nome dessa infinitude adiamos sonhos, realizações, propostas de mudança de postura e conduta ... Deixando para o amanhã ...
Daí, algo vem de encontro com nossa expectativa de imortalidade,  como o diagnostico de alguma doença potencialmente fatal ou ter vivenciado situação de violência urbana - assalto ... e  BUMMMMMMMM .....
Descobrimos que a vida é frágil e que nós tal como "Caius..." de Ivan Ilicht, somos mortais, efêmeros, passageiros...

Junto a essa sensação de perda da imortalidade, advém outras, como:

- A perda da identidade social:  nós deixamos de ter o controle sobre nossa vida, quem sou ? o que faço?
- A perda da autonomia:  nossos horários ficam limitados a medicação e o tempo passa a ser medido pelo horário do remédio e do tratamento.
- A perda do papel de provedor: subitamente você passa a ser assistido ... Dependendo de outros ...

De outra banda - eu sempre acredito na existência de outra banda (outra perspectiva), o evento da vida em ameaça, tambem possibilita diversa postura, desta vez positiva:

A vida adquire outra urgências ...
Ficamos mais conectados com o mundo e em especial com as pessoas que nos cercam ...
Saboreamos mais a vida ...
Intensidade de sensações...

Acredito que retornamos às primeiras experiências da infância, quando as supresas e magia da vida, estavam no vôo de uma borboleta, no banho de mangueira, no jogo de pique-esconde, no viver o momento ...

O Buummmm de um diagnóstico de doença séria, nos retira do estágio quase letárgico do "deixa pra amanhã que eu arrumo ..." Para esfera do REALIZAR AGORA...

Acredito que ficamos melhor .. e eu, meus amigos, estou apaixonadamente "louca pra viver" ...

"Carpe diem a todos" ...

"Façamos algo realmente grande e que marque o mundo, assim  nós descobriremos a fórmula da imortalidde. Porque nada adianta viver, se você nada mudou" Autor anônimo


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