"Quem tem 'porque' viver pode superar qualquer 'como'." Nietzsche
Há uns quatro anos participei
de um Curso de Hipnose Eriksoniana e ouvi a palavra RESILIENTE pela primeira
vez.
Resiliência é um termo
emprestado da física pela ciência humana (psicologia).
Na física, resiliência é a
propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida
quando cessa a tensão causadora de tal formação elástica.
Foto abaixo exemplifica:
Na psicologia Resiliência
é a arte de transformar toda energia de um problema em uma solução criativa ou o
comportamento humano que permite mudança de atitude quando diante do caos do
dia a dia, pressões,prazos e estresse...
A morte de alguém
querido, perda de parte do corpo, desemprego, doenças graves são fatores que nos levam
a beira do abismo.
A psicologia começou a
estudar o por que certas pessoas conseguem se levantar após um grande trauma e
outros continuam no fundo do poço?
Os exemplos de pessoas
resilentes na história da humanidade são muitos como Aleijadinho, Anne Frank,
do pianista brasileiro João Carlos Martins, mas nós conhecemos outras pessoas “comuns”
que estão ao nosso redor mostrando que a despeito dos traumas e dores conseguem superar as adversidades.
De acordo com a psicóloga
Cenise Monte Verde, a resiliência pode ser trabalhada pelo indivíduo. Explica
que muitos seres resilientes conseguiram suplantar seus traumas quando
encontraram apoio, mesmo que pequeno, ou seja, quando encontraram alguém que
acreditava neles e lhes transmitiam conforto, contudo, avisa que se deve usar essa
ajuda ou conforto, apenas como "apoio" e não como “salvador da pátria”.
Outro ponto observado em
seus estudos é que a pessoa resiliente não julga, nem classifica como maus os
seus problemas e ainda é capaz de compreender porque algo ou alguém agiu assim.
Acrescenta dizendo: “Se encararmos o adversário como um demônio poderoso, fica
quase impossível lutar contra ele".
Hoje, que tenho filhos
pequenos e vejo o mundo rodando loucamente, com exigências, pressões, num caos
de estresse e cobrança. Me preocupo em cria-los como seres humanos capazes de
superar esses obstáculos.
Admito que não é fácil,
pois temos (pais) a tendência instintiva de querer protege-los de todos os
males, criando-os numa redoma de vidro.
Sofremos quando os vemos
frustrados e decepcionados, queremos ser o colchão que amortece o tombo, mas aí
criaremos seres frágeis e que poderão se "quebrar" diante da dureza do mundo.
É algo difícil de se fazer, mas necessário para o crescimento deles, sob pena de colhermos dramas maiores no futuro.
Das histórias de resiliência
que li contarei duas: a de Viktor Emil Frankl e de Hellen Keller ambas ricas em ensinamentos.
Ele foi um psiquiatra austríaco
que durante a 2ª Guerra Mundial foi enviado juntamente com a família e esposa
para campo de concentração nazista.
Lá viu seus pais e esposa
morrerem e para não se sucumbir ao sofrimento desenvolveu a “terapia do sentido
da vida”, ou Logoterapia.
A palavra Logo - deriva do
grego e significa sentido. Essa terapia se concentra no sentido da existência
humana, bem como na busca da pessoa por esse sentido.
Manter-se psicologicamente
saudável, orientar-se para o futuro, afastar-se da situação atual, traçando
metas e reconstruindo o “eu” interior são a base para sair do “fundo do poço”.
Ele dizia que quando
defrontamos com situação em que não se pode mudar, ou seja quando ela é inevitável,
ao enfrenta-la o individuo muda a si mesmo.
E assim ele conseguiu sobreviver ao horror da guerra e dos campos de concentração, bem como que posteriormente não se deixou sucumbir pela depressão. Reconstruindo sua vida!!
Outra história de superação
que li foi da americana Hellen Keller que aos 18 meses de idade ficou cega,
surda, mas conseguiu se tornar escritora e filosofa, além de trabalhar com pessoas portadores de deficiênciai, conseguindo título
universitário numa época em que as mulheres sequer iam a universidade.
Copiei um texto ( é longo
mas vale a pena ser lido) que me tocou profundamente escrito por Hellen Keller chamado:
“O que
você faria se tivesse três dias de visão?”
“ Várias
vezes pensei que seria uma benção se todo ser humano, de repente, ficasse cego
e surdo por alguns dias no principio da vida adulta. As trevas o fariam
apreciar mais a visão e o silencio lhe ensinaria as alegrias do som.
De vez em
quando testo meus amigos que enxergam para descobrir o que eles vêem. Há pouco
tempo perguntei a uma amiga que voltava de um longo passeio pelo bosque o que
ela observara. “Nada de especial”, foi à resposta.
Como é
possível, pensei, caminhar durante uma hora pelos bosques e não ver nada digno
de nota? Eu, que não posso ver, apenas pelo tacto encontro centenas de objetos
que me interessam. Sinto a delicada simetria de uma folha. Passo as mãos pela
casca lisa de uma bétula ou pelo tronco áspero de um pinheiro. Na primavera,
toco os galhos das árvores na esperança de encontrar um botão, o primeiro sinal
da natureza despertando após o sono do inverno. Por vezes, quando tenho muita
sorte, pouso suavemente a mão numa arvorezinha e sinto o palpitar feliz de um
pássaro cantando.
Às vezes meu
coração anseia por ver tudo isso. Se consigo ter tanto prazer com um simples
toque, quanta beleza poderia ser revelada pela visão! E imaginei o que mais
gostaria de ver se pudesse enxergar, digamos por apenas três dias.
Eu dividiria
esse período em três partes. No primeiro dia gostaria de ver as pessoas cuja
bondade e companhias fizeram minha vida valer a pena. Não sei o que é olhar
dentro do coração de um amigo pelas “janelas da alma”, os olhos. Só consigo
“ver” as linhas de um rosto por meio das pontas dos dedos. Posso perceber o
riso, a tristeza e muitas outras emoções. Conheço meus amigos pelo que toco em
seus rostos.
Como deve ser mais fácil e muito mais satisfatório para você, que pode ver, perceber num instante as qualidades essenciais de outra pessoa ao observar as sutilezas de sua expressão, o tremor de um músculo, a agitação das mãos. Mas será que já lhe ocorreu usar a visão para perscrutar a natureza íntima de um amigo? Será que a maioria de vocês que enxergam não se limita a ver por alto as feições externas de uma fisionomia e se dar por satisfeita?
Por exemplo,
você seria capaz de descrever com precisão o rosto de cinco bons amigos? Como
experiência, perguntei a alguns maridos qual a exata cor dos olhos de suas
mulheres e muitos deles confessaram, encabulados, que não sabiam.
Ah, tudo que eu veria se tivesse o dom da visão por apenas três dias!
Ah, tudo que eu veria se tivesse o dom da visão por apenas três dias!
O primeiro
dia seria muito ocupado.
Eu reuniria todos os meus amigos queridos e
olharia seus rostos por muito tempo, imprimindo em minha mente as provas
exteriores da beleza que existe dentro deles. Também fixaria os olhos no rosto
de um bebê, para poder ter a visão da beleza ansiosa e inocente que precede a
consciência individual dos conflitos que a vida apresenta. Gostaria de ver os
livros que já foram lidos para mim e que me revelaram os meandros mais
profundos da vida humana. E gostaria de olhar nos olhos fiéis e confiantes de
meus cães, o pequeno scottie terrier e o vigoroso dinamarquês.
À tarde
daria um longo passeio pela floresta, intoxicando meus olhos com belezas da
natureza. E rezaria pela glória de um pôr-do-sol colorido. Creio que nessa
noite não conseguiria dormir.
No dia
seguinte eu me levantaria ao amanhecer para assistir ao empolgante milagre da
noite se transformando em dia.
Contemplaria
assombrado o magnífico panorama de luz com que o Sol desperta a Terra
adormecida.
Esse dia eu dedicaria a uma breve visão do mundo, passado e presente. Como gostaria de ver o desfile do progresso do homem, visitaria os museus. Ali meus olhos, veriam a história condensada da Terra -- os animais e as raças dos homens em seu ambiente natural; gigantescas carcaças de dinossauros e mastodontes que vagavam pelo planeta antes da chegada do homem, que, com sua baixa estatura e seu cérebro poderoso, dominaria o reino animal.
Minha parada
seguinte seria o Museu de Artes. Conheço bem, pelas minhas mãos, os deuses e as
deusas esculpidos da antiga terra do Nilo. Já senti pelo tacto as cópias dos
frisos do Paternon e a beleza rítmica do ataque dos guerreiros atenienses. As
feições nodosas e barbadas de Homero me são caras, pois também ele conheceu a
cegueira.
Assim, nesse
meu segundo dia, tentaria sondar a alma do homem por meio de sua arte. Veria
então o que conheci pelo tacto. Mais maravilhoso ainda, todo o magnífico mundo
da pintura me seria apresentado. Mas eu poderia ter apenas uma impressão
superficial. Dizem os pintores que, para se apreciar a arte, real e
profundamente, é preciso educar o olhar. É preciso, pela experiência, avaliar o
mérito das linhas, da composição, da forma e da cor. Se eu tivesse a visão,
ficaria muito feliz por me entregar a um estudo tão fascinante.
À noite de
meu segundo dia seria passada no teatro ou no cinema. Como gostaria de ver a
figura fascinante de Hamlet ou o tempestuoso Falstaff no colorido cenário
elisabetano! Não posso desfrutar da beleza do movimento rítmico senão numa
esfera restricta ao toque de minhas mãos. Só posso imaginar vagamente a graça
de uma bailarina, como Pavlova, embora conheça algo do prazer do ritmo, pois
muitas vezes sinto o compasso da música vibrando através do piso. Imagino que o
movimento cadenciado seja um dos espetáculos mais agradáveis do mundo. Entendi
algo sobre isso, deslizando os dedos pelas linhas de um mármore esculpido; se
essa graça estática pode ser tão encantadora, deve ser mesmo muito mais forte a
emoção de ver a graça em movimento.
Na manhã
seguinte, ávida por conhecer novos deleites, novas revelações de beleza, mais
uma vez receberia a aurora. Hoje, o terceiro dia, passarei no mundo do
trabalho, nos ambientes dos homens que tratam do negócio da vida. A cidade é o
meu destino.
Primeiro,
paro numa esquina movimentada, apenas olhando para as pessoas, tentando, por
sua aparência, entender algo sobre seu dia-a-dia. Vejo sorrisos e fico feliz.
Vejo uma séria determinação e me orgulho. Vejo o sofrimento e me compadeço.
Caminhando
pela 5ª Avenida, em Nova York, deixo meu olhar vagar, sem se fixar em nenhum
objeto em especial, vendo apenas um caleidoscópio fervilhando de cores. Tenho
certeza de que o colorido dos vestidos das mulheres movendo-se na multidão deve
ser uma cena espetacular, da qual eu nunca me cansaria. Mas talvez, se pudesse
enxergar, eu seria como a maioria das mulheres – interessadas demais na moda
para dar atenção ao esplendor das cores em meio à massa.
Da 5ª
Avenida dou um giro pela cidade – vou aos bairros pobres, às fábricas, aos
parques onde as crianças brincam. Viajo pelo mundo visitando os bairros
estrangeiros. E meus olhos estão sempre bem abertos tanto para as cenas de
felicidade quanto para as de tristeza, de modo que eu possa descobrir como as
pessoas vivem e trabalham, e compreendê-las melhor.
Meu terceiro
dia de visão está chegando ao fim. Talvez haja muitas atividades a que devesse
dedicar as poucas horas restantes, mas acho que na noite desse último dia vou
voltar depressa a um teatro e ver uma peça cômica, para poder apreciar as
implicações da comédia no espírito humano.
À
meia-noite, uma escuridão permanente outra vez se cerraria sobre mim. Claro,
nesses três curtos dias eu não teria visto tudo que queria ver. Só quando as
trevas descessem de novo é que me daria conta do quanto eu deixei de apreciar.
Talvez este
resumo não se adapte ao programa que você faria se soubesse que estava prestes
a perder a visão. Mas sei que, se encarasse esse destino, usaria seus olhos
como nunca usara antes. Tudo quanto visse lhe pareceria novo. Seus olhos
tocariam e abraçariam cada objeto que surgisse em seu campo visual. Então,
finalmente, você veria de verdade, e um novo mundo de beleza se abriria para
você.
Eu, que sou
cega, posso dar uma sugestão àqueles que vêem: usem seus olhos como se amanhã
fossem perder a visão. E o mesmo se aplica aos outros sentidos. Ouça a música
das vozes, o canto dos pássaros, os possantes acordes de uma orquestra, como se
amanhã fossem ficar surdos. Toquem cada objeto como se amanhã perdessem o
tacto. Sintam o perfume das flores, saboreiem cada bocado, como se amanhã não
mais sentissem aromas nem gostos. Usem ao máximo todos os sentidos; goze de
todas as facetas do prazer e da beleza que o mundo lhes revela pelos vários
meios de contacto fornecidos pela natureza. Mas, de todos os sentidos, estou
certa de que a visão deve ser o mais delicioso."
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