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terça-feira, 6 de março de 2012

"MEA MAXIMA CULPA"






 
Mea Culpa é uma frase latina que em Português pode ser traduzida como “Minha culpa ou minha falha”
A origem dessa expressão vem da prece tradicional da Igreja Católica conhecida como Confiteor – “Eu confesso”, naquela o fiel reconhece seus erros perante Deus.




Então, vamos lá!!! O texto é longo, mas vale a pena ser lido. (eu acho!!)
  
Hoje tenho tempo de sobra para analisar as atitudes equivocadas e que de alguma maneira podem ter possibilitado a recidiva do câncer, já curado há 6 anos e meio!!!

Num processo de busca interior dolorido, que faço questão de lhes contar, no intuito de que, algum amigo se identifique com igual rotina desregrada e pule fora do carrossel, antes que se machuque seriamente. 

Assim, eu revejo meu caminhar entre o 1º diagnóstico (Julho de 2005) e o 2º diagnóstico (Fevereiro de 2012) e percebo agora que apesar da cirurgia do câncer do estomago, eu mudei um pouco ( mas, só um pouco) o estilo alucinado de vida que eu possuía à época.

Afinal, eu tinha que fazer o melhor e atender a tudo e a todos, seja como mãe, esposa e delegada de polícia. ( Quanta arrogância!!)
Trabalhava na Delegacia de  Defesa da Mulher de Cuiabá, ouvia dezenas de pessoas diariamente com casos de rasgar as entranhas de dor e tristeza, narrativas de situações de violência doméstica e sexual.

Retornava para minha residência, alimentava as crianças, brincava com elas e quando dormiam, lá pelas 22:00 h, eu pulava para o computador para terminar o projeto de implantação na Deddica (Delegacia Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente).

Isso sem contar que no ano de 2005, foi determinado que  nós delegados adjuntos, faríamos além do expediente diário, 02 Plantões mensais para cobrir a falta de efetivo de delegados plantonista.


Da cirurgia ao retorno a lida, fiquei afastada 07 meses do trabalho, contando desde a cirurgia em agosto, o sofrimento da UTI (agosto a outubro), quarto de hospital (novembro e dezembro) e meu restabelecimento físico (janeiro) e aqui explico - em parte - visto que a fisioterapia me possibilitou andar novamente, mas doía subir as escadas e fazer atividades físicas.

Então em março de 2006, após todo esse esforço para sobreviver, pedi para voltar e fui trabalhar na ACADEPOL, onde estaria afastada da “muvuca” dos atendimentos da delegacia.
  
Nunca usei o câncer para me escusar de trabalhar, mas o trabalho administrativo não me fazia sentir completa, embora minha chefe – Dra. Beatriz, sempre foi maravilhosa.

Mas, o destino se fez presente e exatamente 01 ano após o diagnóstico, fui convidada para implantar e inaugurar em tempo recorde a delegacia de defesa dos direitos da criança e do adolescente, pois havia uma pressão federal pelo órgão que bancou financeiramente a implantação da DEDDICA para que começasse efetivamente a funcionar.

E me deram 15 dias para inaugurar a delegacia.
 
 
Fiquei feliz e satisfeita, me senti orgulhosa da prova de confiança em mim depositada.

Missão dada, missão cumprida. (loucura !!!!)
  
Exatamente, um ano após a cirurgia de retirada do câncer- 29/08/2006, inaugurei a Deddica.

O esforço despendido para se cumprir o prazo foi cruel, os móveis já estavam comprados, mas o local era de abandono total, mato, sujeira e descaso.
  
Em 14 dias, se colocou as divisórias, rede elétrica, rede lógica, disposição das divisórias, aquisição de mão de obra para colocação de ar condicionado, portão e a cela e limpeza interna e externa.

Virei mestre-de-obras para que o prazo se cumprisse!!! 
  
No fim tudo deu certo e eu quase fui para saco novamente.
  
Mas eu estava feliz, era novamente delegada de polícia no exercício efetivo da função e atendia crianças e adolescentes vítimas de violência sexual e física, me sentia útil em ajudar aquelas pessoas carentes e sofridas pela vida.
A adrenalina voltava a correr e fiquei a mil por hora.

A lotação de novos servidores foi outra etapa dolorosa, pois a deficiência de efetivo, sempre foi fato patente na polícia.


Diante da escassez de servidores e da implantação recente da delegacia,  me tornei além de  delegada de polícia,  uma das escrivãs, assistente social e psicóloga !!!
  
E adivinhem o que naturalmente me aconteceu?

Fiquei doente, o organismo não aguentou o stress, a imunidade abaixou e tive duas pneumonias consecutivas (setembro e outubro/2006) com internações em ambas.

Retornei em novembro, já ressabiada e ainda fiquei mais um mês trabalhando, quando em dezembro/2006 e sai de férias,  já esgotada.

Quando retornei, as coisas estavam piores, pois metade dos servidores da delegacia haviam saído de férias.

Toda energia recuperada nas férias se esvaíram ...

Então finalmente, ouvindo aos conselhos médicos, decidi pedir para sair da delegacia e munida de atestado médico, fui readaptada na função e passei a trabalhar junto a Diretoria Metropolitana de Polícia, na área administrativa.

Travei uma guerra interna muito grande.

 Ficava dividida entre me adequar a nova função ou voltar a delegacia, mas sempre me lembravam da minha saúde e eu então eu ficava a contragosto.

A ansiedade era grande que até procurei uma psicóloga na clinica de oncologia que eu frequentava.

E essa procura foi importante, por ter me ajudado a entender esse sentimento de insatisfação/impotência em fazer trabalho administrativo.

Entendi que o preconceito era só meu, pois não enxergva na atividade meio que fazia, que também contribuía com a polícia, apenas de maneira diversa.

A psicóloga me fez ver que eu devia respeitar meus limites físicos e me sentir útil nessa função administrativa.

Sai do consultório com um upgrade sensacional...

Decidi então, me dedicar de maneira mais contundente  naquele função.

Aceitei entrar em inúmeras comissões, frentes de trabalho, tarefas extras ...

E quando vi, eu estava girando dentro do carrossel louco de trabalho.

Faço questão de deixar bem claro que não responsabilizo ninguém pela trabalho oferecido, pois os aceitei de bom grado.

O livre arbítrio é meu !!!

Tenho um pecado capital de não conseguir ficar parada e de dizer não posso, logo estou a assumir responsabilidades.

Passaram-se 03 anos nessa função de assessoria das diretorias e eu já havia me acostumada com o galope do cavalo, me sentia insatisfeita, não via desafios e novos projetos, as coisas se repetiam.

Então, me surge outra oportunidade de crescimento profissional, fui convidada para ser Chefe de Gabinete do Delegado Geral.

Nossa ... quanta honra e felicidade. Trabalho novo, novas perspectivas, novos desafios ...

Aceitei sem pestanejar, estava realizada !!!!

Apesar da sobrecarga do trabalho, sempre gostei do que fazia ali e mais importante fiz de coração e me doei completamente e quando percebi, estava até no “topo” da cabeça de obrigações.

Não me alimentava direito, escapulia de almoçar, não fazia exercicios e quanto a meditar – fora de questão.

Explicava para mim mesmo e aos outros, que não me sobrava tempo para cuidar de mim.

Chegava em casa a “capa da gaita” e  ainda cuidava das tarefas escolares e do jantar das crianças, dando-lhes a atenção necessária.

Após caia na cama quase desfalecida, sem energia, pois ao não me alimentar direito, não dava ao meu corpo a energia suficiente para aguentar o tranco...

Uma pessoa conhecida me disse: “Carla, você adora ouvir conselhos, mas só faz o que sua cabeça dura quer!!”

Na mosca !!! Pura verdade !!!

Tive discussões familiares com meus pais e marido que me chamavam atenção e pediam para que eu tomasse mais cuidado com minha saúde.

Eu internamente concordava, mas postergava a saída ...

Afinal, estava fora de delegacia há 05 anos, tudo era diferente agora, só a muvuca era a mesma.

Enrolei até dezembro/2011, quando tomei a decisão de que no retorno das férias do chefe (início de fevereiro), eu iria pedir para sair dali.
 
Eu estava cansada e não estava fazendo bem para minha saúde.
 
Contudo, o destino se fez presente de novo e em 27 de janeiro 2012, fui submetida a uma cirurgia para a retirada da vesícula, aonde os médicos descobriram que o câncer havia voltado.
  
Eu não sou relapsa com doenças, sempre agi com precaução e zelo quando me sentia doente, pois qualquer dor e até espirro me levava aos médicos, sempre fiz todos os exames necessários e nunca atrasei nenhum.

Mas quando não havia sintomas de qualquer doença e eu gozava de boa saúde, me sentia forte. Na loucura de minha psique, penso que queria provar para mim mesmo que minha saúde era igual a todos e que o câncer era passado.

Acredito que esse esforço excessivo e desregramento causou alguma infecção interna que ativou alguma célula cancerosa e tudo começou novamente.
  
Ingenuamente, pensei que se fizesse os exames regularmente e se me mantivesse atenta a qualquer sintoma diferente, estaria a salvo e protegida ...     
 
Vã ilusão ...

No livro “Anticancer”  e  “Podemos dizer adeus mais de uma vez”, ambos escritos pelo Dr. David Servan-Schreiber, médico psiquiatra, que teve câncer no cérebro e conseguiu adiar a taxa de sobrevida em 19 anos diz que:

“Uma das proteções mais importantes contra o câncer consiste em encontrar certa calma interior. E que não devemos nos esgotar e nos sobrecarregar.”

Acrescenta:

“ que não ignora que para todos aqueles que exercem profissões difíceis, que trabalham à noite, por turnos de oito horas, esse conselho não é facilmente aplicável. Assim como não o é para os que precisam viajar muito.”

 No livro, o Dr. David Servan ainda fala da existência do “estresse positivo” e “estresse negativo”

Define  “estresse negativo”:

  "Como aquele conhecido e que gera um sentimento de impotência e de bloqueio, criando tensão no organismo e informa que existem várias pesquisas feitas, concluindo que o “estresse negativo” acelera as recidivas de câncer."

Sabe-se assim, que o sentimento de impotência enfraquece o sistema imunológico e provoca inflamações. Isso favorece os processos tumorais, mas também toda uma série de outros problemas, como problemas cardíacos, hipertensão, diabetes, artrite, etc.

De outra banda, narra que existe também o “estresse positivo”:

"Sendo esse “estresse”, incontestavelmente um dos grandes motores da potência vital, agindo como uma droga sobre o psiquismo. Podendo nos tornar “viciados” no estresse positivo, desejando “aumentar as doses” e até  “ter crises de abstinência” e sobretudo, “perder o senso da medida”.
  
Sim, meus amigos, quando li essas palavras me encaixei inteirinha ...

Ao me afastar da atividade fim, tive crises de abstinência, queria o “estresse positivo”.
E eu o encontrei novamente, nessa nova função
 
Viciada no estresse positivo, esqueci das exigência de meu organismo  e deu no que deu.

Agora – “com o rabo entre as pernas”, estou aqui fazendo esse mea culpa, me desvendando a vocês e esperando que de maneira positiva, eu possa influenciar outras pessoas a não cometerem o mesmo erro que eu, pois NÃO VALE A PENA !!!!

A vida é curta e devemos vivê-la plenamente, respeitando nossos limites e a nossa qualidade de vida.

5 comentários:

  1. Minha Irmã,

    O mais importante agora é que após a sua reflexão caminhe de cabeça erguida para novas etapas em sua vida, como você mesmo disse, focada no que é essencial, a sua família e a sua cura. Te amamos e muitos passam a vida inteira sem essa reflexão e partem sem saber para que veio e tendo que resgatar tudo de novo. O mais importante é o presente, nele construímos um novo futuro, que acredito que já está realizando.

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    1. Meu querido irmão,

      Essa foi mesmo a intenção. Resgatar os equivocos para não repeti-los novamente. E transmitir às pessoas a minha vivência para analise própria ...
      Vc concluiu bem!! O momento é o agora, que esta sendo intenso e de grande aprendizado para mim. Te amo Carla

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  2. Amada esposa,
    Após este "mea culpa", sinto que finalmente entendeu o significado das duras críticas recebidas de seus pais e minhas e, preocupada que é, tenha decidido compartilhá-la com todos, no sentido de alertá-los a não seguir pela mesma trilha.
    Agora, nesta nova etapa, intensificaremos a luta contra este mal, que com a ajuda de DEUS, também será passageiro.
    Um beijo do seu amor.

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    1. Obrigado amado !!!

      Uns aprendem no amor outros na dor ...

      Estou aprendendo com ambos: na dor da doença e no amor recebido por vc..
      Te amo

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