“As pessoas não são
perturbadas pela coisas, mas pela visão que tem das coisas.”
Epicteto – filósofo grego
Uma das boas coisas que
aprendemos enquanto enfermos é acerca da solidariedade humana.
Essa solidariedade vem de
grande e de pequenos gestos, seja das mensagens de incentivo, das correntes de
oração, dos livros de auto ajuda, do preparo de uma refeição para dar “sustentação” (agradeço aqui aos
meus vizinhos Jordelino e Debie que prepararam o delicioso “catoni” e outros
pratos regionais saborosos).
Assim, no início do
tratamento do câncer recebi de uma prima querida – Nancy – para a leitura, o
livro chamado “Quando o sofrimento bater à sua porta” do padre Fábio de Melo.
O título de início me chamou
a atenção e se fosse me deixar levar pelo título e autor não teria começado a
leitura.
Puro preconceito!!!
Antes de iniciar já havia
pré julgado todo o livro !!!
Mas, como os tempos são
outros e eu não deixo livro sem ler, decidi seguir em frente com a leitura.
E que agradável
descoberta.
Eu já havia lido um livro de autoria do Padre Fábio de Melo, chamado: "Quem me roubou de mim" - que trata acerca do fenômeno violência doméstica, onde ele denomina de "sequestro da subjetividade" o ato praticado pelo agressor a vítima de violência doméstica. Com argumentos inteligentes e perspicazes, além de humanidade e solidariedade, ele retrata a violência doméstica com precisão.
Ao abrir esse novo livro, já na
primeira página encontrei a frase: “Quando o sofrimento bater à sua porta ... é
melhor abrir.”
Foi o chamariz para me
incentivar a começar a leitura.
Deixar o sofrimento
entrar ...
Inicialmente pensei, eu não vou abrir porta nenhma, não quero sofrer
!!!
Se quiser, vai ter que arrombar.. rsrsrsrs
Contudo, durante a leitura,
entendi que viver sem sofrer é não viver é não existir, pois sofremos desde o
nascimento (parto) até a nosso
desencarne.
O que precisamos é “aprender”
a sofrer, encarar esse sofrer como maneira de superação e transformação.
Devo confessar que ainda sou aprendiz “recruta”
nessa arte e sabedoria de “aceitar” o sofrimento e supera-lo para transformar e
transpor etapas da vida.
Quero cruzar a ponte,
mas vez ou outra, olho para baixo e vejo o volume e a violência da água turbulenta
e aí fraquejo as pernas.
Todos os dias eu tombo e
levanto ... e tombo e levanto ...
Mas, vamos ao livro.
Mas, vamos ao livro.
O que mais me tocou nessa leitura,
colocarei nesse resumo “executivo”:
Ø
Sofrimento é
destino inevitável, porque é fruto do processo que nos torna humanos.
Ø
O grande
desafio é saber identificar o sofrimento que vale a pena ser sofrido.
Ø Perdemos boa
parte da vida com sofrimentos desnecessários, porque não aprendemos a
ciência de administrar os problemas que nos afetam.
Ø
Sofremos demais por aquilo que é de menos e
invertemos a ordem e a importância das coisas.
Ø
Sofrer é igual a purificar – nossos valores
essenciais são só conhecidos por nós mesmos se os submetermos ao processo de
purificação.
Ø
O sofrimento
é lugar onde reconhecemos nossa humanidade na crueza mais venturosa, não é
fruto de projeções imaginárias, nem tampouco resultado de medos infundados.
Ø
Sofrimentos nascem de limites. Limites que assumidos
podem nos direcionar a um processo de constante aperfeiçoamento, mas se negados
podem nos fazer regredir e até mesmo inviabilizar a nossa realização
humana.
Ø
Muitas vezes sofremos com o amargo de respostas
erradas só porque ainda não tivemos a sabedoria de fazer a pergunta certa. (Essa
é pra mim!!!)
ØDevemos garimpar e identificar o sofrimento denominado “cascalho” do
sofrimento denominado "diamante”. Esse último quando lapidado – nos enriquecem !!!
Ø
Buscar o sentido das coisas, investigando a vida,
deixando a superfície e atingindo o lugar menos comum,mais profundo.
Ø
E ao fim o autor como religioso que é, explica que a
teologia ensina que o altar é o lugar privilegiado do encontro de Deus com a
humanidade, sendo que no altar tudo o que é humano se diviniza. E divinizar é
reconhecer a nossa sacralidade.
Ø
Assim, cada vez que somos capazes de colocar o nosso
sofrimento diante da mística do altar, de alguma forma, estamos aprendendo a
supera-lo.
Ø
É importante reconhecer o sofrimento como oportunidade
de transformação. E manter a chama viva
da esperança, não se esquecendo nunca que depois da tempestade há sempre um
sol preparado, pronto para brilhar e nos dourar com sua luz tão envolvente.
Ø
E tão formidável quanto não fechar a porta para os
sofrimentos é não impedir, depois, a entrada das alegrias...
“E é nisto que se resume o sofrimento: cai a
flor e deixa o perfume no vento!" Cecília Meireles.
Como garimpeiro aprendiz
que sou, já estou dentro do rio, com água na canela, firmando os pés na correnteza
da água e com a bateia em prumo para separar os meus cascalhos dos meus diamantes,
a fim de apartado o diamante, seja ele burilado e lapidado, para o meu enriquecer
... na superação e transformação !!!
Grandes reflexões! A gente não gosta de sofrer mas sempre cresce no sofrimento. Entretanto, para enxergar essa possibilidade de dar um passo a mais na lapidação desse diamante escondido dentro de nós precisamos ter a permissão que só a fé nos oferece. E é isso que tenho visto nesses textos elaborados por você com tanto capricho - a expressão de uma confiança embasada na crença, na superação, na fé. Você já está sendo abençoada nesse caminho de novas descobertas e de novas possibilidades. Muitos diamantes serão garimpados e compartilhados. Vamos todos aprender muito! Te amo
ResponderExcluirA decisão de mudar a postura diante do "sofrimento" diamante foi essencial e o passo mais díficil. Fazer as perguntas certas é outro mecanismo para driblar a "vitimização". A serenidade oscila e não é facil mante-la sempre em prumo, mas com o incentivo das pessoas que estão ao meu redor, sempre que o "barco" balança, consigo mante-lo do rumo e em foco. Te amo muito. Bjs Carla
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