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terça-feira, 20 de março de 2012

Lapidando o meu diamante !!







“As pessoas não são perturbadas pela coisas, mas pela visão que tem das coisas.” 
 Epicteto – filósofo grego





Uma das boas coisas que aprendemos enquanto enfermos é acerca da solidariedade humana.




Essa solidariedade vem de grande e de pequenos gestos, seja das mensagens de incentivo, das correntes de oração, dos livros de auto ajuda, do preparo de uma refeição para dar “sustentação” (agradeço aqui aos meus vizinhos Jordelino e Debie que prepararam o delicioso “catoni” e outros pratos regionais saborosos).




Assim, no início do tratamento do câncer recebi de uma prima querida – Nancy – para a leitura, o livro chamado “Quando o sofrimento bater à sua porta” do padre Fábio de Melo.




O título de início me chamou a atenção e se fosse me deixar levar pelo título e autor não teria começado a leitura.




Puro preconceito!!!




Antes de iniciar já havia pré julgado todo o livro !!!      



Mas, como os tempos são outros e eu não deixo livro sem ler, decidi seguir em frente com a leitura.



E que agradável descoberta.



Eu já havia lido um livro de autoria do Padre Fábio de Melo, chamado:  "Quem me roubou de mim" - que trata acerca do fenômeno violência doméstica, onde ele denomina de "sequestro da subjetividade" o ato praticado pelo agressor a vítima de violência doméstica. Com argumentos inteligentes e perspicazes, além de humanidade e solidariedade, ele retrata a violência doméstica com precisão.



Ao abrir esse novo livro, já na primeira página encontrei a frase: “Quando o sofrimento bater à sua porta ... é melhor abrir.”


Foi o chamariz para me incentivar a começar a leitura.


Deixar o sofrimento entrar ...



Inicialmente pensei, eu não vou abrir porta nenhma, não quero sofrer !!!


Se quiser, vai ter que arrombar.. rsrsrsrs


Contudo, durante a leitura, entendi que viver sem sofrer é não viver é não existir, pois sofremos desde o nascimento (parto)  até a nosso desencarne.


O que precisamos é “aprender” a sofrer, encarar esse sofrer como maneira de superação e transformação.


Devo confessar que ainda sou aprendiz “recruta” nessa arte e sabedoria de “aceitar” o sofrimento e supera-lo para transformar e transpor etapas da vida.


Quero cruzar a ponte, mas vez ou outra, olho para baixo e vejo o volume e a violência da água turbulenta e aí fraquejo as pernas.


Todos os dias eu tombo e levanto ... e tombo e levanto ...


Mas, vamos ao livro.

 O que mais me tocou nessa leitura, colocarei nesse resumo “executivo”:


Ø  Sofrimento é destino inevitável, porque é fruto do processo que nos torna humanos.



Ø  O grande desafio é saber identificar o sofrimento que vale a pena ser sofrido.




Ø Perdemos boa parte da vida com sofrimentos desnecessários, porque não aprendemos a ciência de administrar os problemas que nos afetam.



Ø Sofremos demais por aquilo que é de menos e invertemos a ordem e a importância das coisas.



Ø Sofrer é igual a purificar – nossos valores essenciais são só conhecidos por nós mesmos se os submetermos ao processo de purificação.   



Ø  O sofrimento é lugar onde reconhecemos nossa humanidade na crueza mais venturosa, não é fruto de projeções imaginárias, nem tampouco resultado de medos infundados.



Ø Sofrimentos nascem de limites. Limites que assumidos podem nos direcionar a um processo de constante aperfeiçoamento, mas se negados podem nos fazer regredir e até mesmo inviabilizar a nossa realização humana. 



Ø Muitas vezes sofremos com o amargo de respostas erradas só porque ainda não tivemos a sabedoria de fazer a pergunta certa. (Essa é pra mim!!!)



ØDevemos garimpar e identificar o sofrimento denominado “cascalho” do sofrimento denominado "diamante”. Esse último quando lapidado – nos enriquecem !!!


Ø Buscar o sentido das coisas, investigando a vida, deixando a superfície e atingindo o lugar menos comum,mais profundo.


Ø E ao fim o autor como religioso que é, explica que a teologia ensina que o altar é o lugar privilegiado do encontro de Deus com a humanidade, sendo que no altar tudo o que é humano se diviniza. E divinizar é reconhecer a nossa sacralidade.


Ø Assim, cada vez que somos capazes de colocar o nosso sofrimento diante da mística do altar, de alguma forma, estamos aprendendo a supera-lo.



Ø É importante reconhecer o sofrimento como oportunidade de transformação. E manter a chama viva  da esperança, não se esquecendo nunca que depois da tempestade há sempre um sol preparado, pronto para brilhar e nos dourar com sua luz tão envolvente.


Ø E tão formidável quanto não fechar a porta para os sofrimentos é não impedir, depois, a entrada das alegrias...


 “E é nisto que se resume o sofrimento: cai a flor e deixa o perfume no vento!" Cecília Meireles.





Como garimpeiro aprendiz que sou, já estou dentro do rio, com água na canela, firmando os pés na correnteza da água e com a bateia em prumo para separar os meus cascalhos dos meus diamantes, a fim de apartado o diamante, seja ele burilado e lapidado, para o meu enriquecer ... na superação e transformação !!!

2 comentários:

  1. Grandes reflexões! A gente não gosta de sofrer mas sempre cresce no sofrimento. Entretanto, para enxergar essa possibilidade de dar um passo a mais na lapidação desse diamante escondido dentro de nós precisamos ter a permissão que só a fé nos oferece. E é isso que tenho visto nesses textos elaborados por você com tanto capricho - a expressão de uma confiança embasada na crença, na superação, na fé. Você já está sendo abençoada nesse caminho de novas descobertas e de novas possibilidades. Muitos diamantes serão garimpados e compartilhados. Vamos todos aprender muito! Te amo

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  2. A decisão de mudar a postura diante do "sofrimento" diamante foi essencial e o passo mais díficil. Fazer as perguntas certas é outro mecanismo para driblar a "vitimização". A serenidade oscila e não é facil mante-la sempre em prumo, mas com o incentivo das pessoas que estão ao meu redor, sempre que o "barco" balança, consigo mante-lo do rumo e em foco. Te amo muito. Bjs Carla

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