Às vezes, durante a "criação" de um "post", eu começo com determinada idéia e no meio do caminho, tal qual pensamento próprio o "post" toma outro rumo ...
Assim, comecei a escrever primeiro este
post e depois o post anterior, que recebeu o nome – “Eu envergo, mas ...”, porém durante o processo da escrita
deste, o tema tomou rumo aparentemente distinto e decidi salvar este “tema” para
momento oportuno.
Hoje surgiu o momento.
Como prêmio por ter que
ficar depois do dia 26/03/2012 “de castigo” em casa em razão dos efeitos que
advirão da 3º sessão de quimioterapia, resolvi ontem, conceder-me o privilégio de ir
ao cinema e convidei para o “evento” uma companhia mais que especial – minha
mãe.
Assim, naquela atmosfera
agradável do escuro do cinema, com direito a pipoca e refrigerante, assistimos
ao filme “Histórias Cruzadas” ...
O meu interesse pelo
filme já era premeditado, pois havia há 02 anos atrás lido o livro que originou
o filme, o nome do livro é “A resposta” - O livro é grosso e mais abrangente, para aqueles que não apreciam leitura, vale a pena assistir o filme que é mais sintético e imediato.
A estória se passa na década de 1960 no estado
de Mississipi, onde uma jovem recém formada da faculdade de jornalismo retorna
a seu lar e decide pesquisar e entrevistar as mulheres negras que cuidavam das
“famílias do sul”.
Eram pessoas que
dedicavam a vida inteira às famílias brancas e eram tratadas com descaso e
desprezo – objetos.
Aponta o filme as relações
sociais forjadas e forçadas que as pessoas mantinham em troca de status social.
E de como as amizades
sinceras e o apoio “irmão” podem levar as pessoas a superarem traumas, mágoas e
dores.
Tudo se tranforma no enredo do filme/livro a partir das decisões tomadas pelas personagens !!
Vale a pena assistir ... uma
dica aos mais sensíveis - levem lenços também !!!
Mas o que o filme tem a
ver com o post iniciado dois dias antes ???
Bom, coincidente ou não,
ambas as histórias - filme e do programa de culinária - são vividas no
sul dos Estados Unidos e tecem sobre o problema de preconceito racial e do
poder de superação e transformação das pessoas.
Vamos lá, o post iniciava
assim ...
Na segunda-feira – 19/03,
acordei mais cedo às 4:30 h, estava com insônia e decidi assistir TV com o
intuito que o sono retornasse e que eu pudesse voltar a dormir.
Fiquei um tempo sapeando
canal por canal, desejosa em descobrir algum filme bom.
Mas nada havia de
interessante num rol de 80 canais.
Voltei então ao canal da
GNT e descobri que estava passando um programa de culinária do chef de cozinha Jamie Oliver,
famoso cozinheiro inglês.
Quero abrir um pequeno
parênteses aqui - só Freud explica essa “queda” que eu tenho por programas de
culinária, pois nem arroz eu consigo cozinhar direito!!! Rsrsrsrsr
Acho que fico sonhando em
ser aquela pessoa ou vendo que parece tão fácil cozinhar, na esperança de quem
sabe um dia ...
Sei lá ... coisas da
psique humana !!!
Enfim, optei por assistir
o programa culinário de “Jamie Olivier” às 5:00 da manhã.
Desta vez, Jamie Oliver estava
rodando o programa nos Estados Unidos, mas especificadamente no sul dos Estados
Unidos.
O mote do programa era
descobrir os segredos dos temperos e gostos da comida sulista americana.
Assim, Jamie (conduzindo
um imenso motorhome) e equipe foram passando por diferentes cidades do sul, trocando experiências, receitas e informações com
pessoas simples, na maioria das vezes proprietárias de pequeno restaurantes.
O que me prendeu no
episódio daquele dia foram os diálogos extraídos por Jamie Oliver com aquelas
pessoas simplórias no linguajar, mas ricas em experiências de vida.
Contaram acerca das
dificuldades causadas pelo desemprego, do caos do serviço de saúde americano e
da recessão que viviam, porém sempre terminavam o depoimento afirmando que acreditavam no amanhã.
O programa surfava entre
os quitutes confeccionados nos bairros mais requintados de Nova Orleans e a
comida servida nos restaurantes negros.
A frivolidade encontrada
nas conversas entre as damas da high society e a generosidade das informações
repassadas pela proprietária de um self-service para pessoas carentes era dialeticamente oposta.
Uma das histórias interessantes foi contada por uma proprietária de
restaurante meio 'self-service" localizado num bairro negro. Essa mulher era extremamente alegre e positiva e mostrou os pratos típicos que
servia a comunidade pobre de seu bairro.
Tinha batata doce, milho,
nabo, couve, miudezas, rabo de boi,
porco, tripa, canjiquinha, ossobuco, cartilagem e banha.
A proprietária do
restaurante explicou para o Jamie, que aquele tipo de comida era
denominada “Soul Food”.
Eu já conhecia o termo inglês chamado “soul music”, que era tipo de música que nasceu do rhythm and blues e do gospel e que é usado
como adjetivo em referência a música afro-americano.
Literalmente “Soul” se
traduz como alma, contudo, eu nunca havia ouvido o termo “soul" usado para alimentação " soul food.”
Essa senhora explicou que
a denominação “soul food” é muito antiga e vem da época em que os proprietários das fazendas alimentavam seus escravos com os “restos” da
comida deles.
Para os escravos sobreviverem
a dureza do serviço braçal dependiam de
alimentação reforçada, assim, tiveram que improvisar e criar refeições fortes oriundas
dos “restos” deixados pelo senhor da Casa Grande.
Nessa improvisação criaram
refeições “de sustança” ou sustentação para suas sobrevivências - “Soul Food”
então é alimentação que preparada com a “alma”.
Achei interessante o
programa e resolvi partilhar a história com meu marido Antonio Carlos.
Após ouvir a narrativa, Antonio
me relatou um “causo” parecido contado por sua mãe, onde dizia que em uma
fazenda localizada no interior do Mato Grosso do Sul havia um fazendeiro muito
sovina, em especial com seus empregados.
Alimentava-se de carne e
dava aos empregados apenas o caldo daquela carne cozinhada para comer.
Os empregados usavam o
resto, ou seja, a “sustança” retirada do cozimento da carne e as misturava aos
legumes e verduras relegados pelo senhor da fazenda.
Assim, os empregados com
o “resto” da alimentação eram fortes e saudáveis, pois ali estava concentrado
as vitaminas, enquanto o proprietário e familiares estavam anêmicos com toda a
fartura.
Se a "estória" é verdadeira ou não, eu não sei, mas
sentido faz !!! rsrsrsrs
Fiquei a "matutar" ... analisando que existem pessoas que
conseguem transformar migalhas em algo precioso de ser visto, experimentado,
admirado e copiado.
Quem não conhece pessoas
que possuem energia e força suficientes para mobilizar e transformar a
realidade dela própria bem como das pessoas que convivem com ela.
Fazem bazar, cestas
básicas, procuram a assistência social ou a igreja, enfim se mobilizam e
conseguem transformar a realidade de várias outras pessoas.
A escola de samba Grande
Rio no carnaval deste ano desfilou mostrando histórias de superação.
A própria escola é
exemplo disso, pois superou o incêndio ocorrido no carnaval de 2011 que
destruiu suas fantasias e as alegorias.
No desfile de 2012, a
escola de samba contou as histórias de Laers Grael – atleta olímpico que perdeu
a perna, João Carlos Martins – maestro e pianista brasileiro que em razão de
acidentes e doenças só utiliza 3 dedos para reger e tocar piano, Bethoven que
mesmo surdo compôs inúmeras músicas, Ray Charles – músico cego americano, rei
da
“soul music”, Geordette Vidor – atleta brasileira, que a despeito do acidente
que a deixou paraplégica treina a equipe de ginastas.
Temos também histórias de
superação coletiva, quando lembramos o Holocausto e a recuperação dos judeus, a
bomba atômica no Japão e a guinada que os japoneses deram após esse evento
trágico com a cultura da paz. O apartheid na Africa do Sul e a história de
Nelson Mandela que de preso “político” passou a presidente de um país, mudando
a realidade daquele povo.
E quantos heróis anônimos conhecemos ...
Uma das perguntas que
logo penso quando observo esses exemplos de vida é : o que os motiva? e depois indago o que os
diferencia dos demais? - qual é o "plus", o "diferencial".
Depois analiso que
se somos feitos do mesmo “barro” e viemos do mesmo PAI é possível que também consigamos suplantar
nossas dificuldades e deficiências.
Dessa forma, somado ao post anterior que fala sobre Resiliência e este que fala sobre o Poder da Decisão, concluo que ambos caminham juntos.
A transformação depende
de nossa mudança, de nos conhecermos intimamente – dos nossos talentos e limitações.
Devemos acreditar que viemos ao mundo para realizar nossos sonhos e projetos de vida, contudo esses sonhos não devem ser vagos, mas um impulso para nossa luta.
Se o sonho se transformar em esperança, seremos apenas sonhadores, nada mais do que isso.
Li a muitos anos atrás o livro chamado “A águia e a galinha" de Leonardo Boff e ele dizia que devemos "andar no vale, mas olhando as montanhas."
Ele nos compara a águia, pois viemos ao
mundo com a missão de superar todos os obstáculos que se apresentarem.
Assim, temos de todos os dias começar
sempre tudo de novo.
Conheço pessoas que vivem da glória do
passado e não conseguem aproveitar o presente do hoje.
Vivem com saudosismo e não transformam
o momento atual.
Pararam no tempo !! Desperdiçam a vida
...
Existem outras que se “estagnaram”
diante de uma decisão equivocada.
Ao invés de ficarmos parado, sofrendo
pela escolha errada, devemos olhar para frente e ver o que “ainda” pode ser
feito para atenua-la.
Só mudamos quando decidimos !!!
E a escolha é sempre nossa ...
Não podemos delegar essa escolha
a ninguém e nem apontar um fato fortuito como escusa para não tomá-la ...
Se optarmos pelo comodismo e mesmice
não haverá mudança, tudo será sempre igual, mas se optarmos pela inovação,
poderemos fazer a diferença!!!
A vida não acabou.
E como diz a canção de Milton Nascimento - Clube de Esquina II "os sonhos não
envelhecem ... "
Aos amigos recentemente aposentados e a aqueles que já tem tempo para se aposentar, bem como aos inseguros com a profissão escolhida, pensem que é sempre tempo de plantar ...
E que decidir é sempre a melhor escolha !!!
“Se você escolhe não decidir, você já
tomou uma decisão” – Napoleão Bonaparte
Qual será a nossa escolha ?
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