Tenho utilizado este
espaço, ora para saudar, ora para expor uma experiência, buscando dialogar
comigo mesmo e/ou com os que acompanham o blog.
Antes de ser delegada de
polícia, eu trabalhei por 10 anos dando aulas inglês no CCAA – escola de língua
particular.
O ambiente de trabalho fornecido
pelo empregador era moderno e agradável, com salas amplas e limpas, ar
condicionado, cadeiras para trabalhar confortáveis e todo o material necessário
para desenvolver minhas atribuições de professora.
Concluída a Faculdade de
Direito (UFMT) e desejando crescer profissionalmente, passei no concurso
público para a recém criada assessoria jurídica da Secretaria Municipal de Saúde
e lá trabalhei por 01 ano como advogada, até tomar posse como Delegada de
Polícia.
A Secretaria Municipal de
Saúde de Cuiabá – na época FUSC - foi minha primeira experiência real no
serviço público.
A Assessoria Jurídica era
recém-criada e nós (eu e mais dois advogados) tínhamos que fazê-la funcionar.
Até então, a Secretaria Municipal de Saúde
dependia da Procuradoria do Município para elaborar pareceres, manifestações,
consultas, legalidade em processos licitatórios, etc...
Assim que tomei posse,
fui ao prédio localizado na rua Pedro Celestino e lá me apresentei ao setor de
RH.
Após checarem documentos
e demais procedimentos administrativos de praxe, me conduziram por um labirinto
de corredores desencontrados até chegar a Sala da Assessoria.
O espaço disponibilizado era
um arremedo de qualquer coisa ...
Uma junção de cacarecos velhos
cedidos por outros departamentos ao NOVO setor da Secretaria Municipal.
De cara percebi, que o
gestor público nada havia planejado, simplesmente criou os cargos, realizou o
concurso e o “resto a gente se ajeita”!!!!
Espaço indigno,
divisórias corroídos de traças, móveis emprestados de outros setores, livros
jurídicos do tempo do onça ...
Vamos lá, serviço público
é assim mesmo ... As pessoas tentavam incentivar !!!
INCENTIVAR !!!!
Pouco a pouco, eu e meus
colegas fomos modificando o ambiente, tentando dar aspecto digno, humano e mais
receptivo.
Depois de quase 06 meses
conseguimos trocar as divisórias, compramos com o dinheiro do nosso “bolso”
alguns livros essenciais, fizemos “amizade” com outros servidores e conseguimos
móveis menos sucateados.
Enfim, conseguimos a
passos de tartaruga nos impor junto aos técnicos e coordenadores da saúde, que lá
nos procurava para “auxílio” jurídico.
Não sei se a batalha foi
ganha e se a estrutura física atual é mais digna e melhor, pois sai de lá há 15
anos.
Mas, aquele primeiro dia
de trabalho no serviço público
(divisórias corroídas pelas traças), tá gravado até hoje em minha
memória ...
Jovem, idealista, não
pleiteava luxo, sofás caros, lustres e tapetes vermelhos, mas o mínimo de
condição laboral a fim de com dignidade e saúde (longe de traças, fungos e
mofos) exercer minha a função a qual estava sendo remunerada.
Os anos passaram (15 anos)
e não vi muita diferença na polícia.
E a história se repete,
repete, repete ...
As estruturas para
atendimento ao público e também às internas funcionam graças ao empenho, a boa
vontade e comprometimento de alguns servidores.
O pior é que nós mesmos
(eu) nos acostumamos com o SISTEMA e começamos a acreditar que essa é maneira da máquina
funcionar.
Com o tempo, cansados
começamos a perder a nossa indignação ...
E nos pegamos às vezes a repetir
aos servidores mais novos “Que serviço público é assim mesmo ...”
Ontem, por força da circunstância, tive que ir a uma
repartição pública.
E já me adianto aos curiosos que não foi nenhum prédio
da Segurança Pública.
Meus amigos, aquilo não fez bem ...
Ou melhor, me fez um “bem” sim, pois senti novamente
brotar aquele espírito inquisidor, que achava estar apagado com o bailar dos
anos.
Entrei naquele prédio público, já meio decadente,
funcionando no apêndice de outro órgão e aguardei pacientemente ser chamada.
Enquanto, esperava o minha vez, olhei ao meu redor e
passei a analisar as demais pessoas que ali também estavam com o mesmo fim.
Eramos pessoas portadoras de alguma doença. Uma senhora de muleta, outras com idade já avançada. O que possuíamos em comum era
nos trejeitos da expressão facial, um olhar de “descrédito”, insatisfação, um de quê de subcondição.
Estávamos todos no mesmo “barco”, por motivos
diversos, mas em busca do mesmo fim - aguardar o profissional responsável “Deferir” ou “Indeferir’ o pedido.
Após 40 minutos de espera, fui conduzida por uma
simpática servidora a uma sala, onde uma pessoa sentada mal levantou a cabeça
ao me ver entrar.
Olhou fixamente aos papéis que lhe foram entregues,
perguntou algo a servidora e passou a carimbar e assinar as vias ...
Não recebi um “Olá!!”, ou “ Boa Tarde” !!!
O máximo que o profissional conseguiu ao final do
trâmite foi fazer um sinal com a cabeça de “pode sair e acompanhar a servidora,
que a minha parte já acabou ...”
O movimento foi tão acanhado que ele teve que
repetir novamente, pois eu não havia entendido !!! rsrsrssrsrsr ...
Sai de lá estupefata, havia algo que pulsava dentro
de mim, mas não consegui identificar imediatamente.
Hoje, às 5:00 horas da manhã, abri e olhos e solucionei
o “mistério” da inquietação.
Pensei: “ Ei, eu não sou gado ...” , “Olhe para
mim”. -“Sou gente”. - “Não me ponha no brete ...”, “ Eu não sou número nem
estatística.”
Gente, me senti despersonalizada !!!
Igual a uma das ovelhas da foto acima.
Como podemos deixar que as
nossas obrigações rotineiras, sejam elas na profissão ou com a família, possam retirar
a nossa capacidade humana de conectarmos uns com os outros.
Essa interação, seja no
serviço público ou no privado, nos aproxima e facilita a nossa comunicação e até
cooperação diante de uma dificuldade ou ponto em comum.
Vamos lapidar o nosso espírito
!!!
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