"Vão-se os cabelos, ficam os anéis ..."

Com a vênia do criador do ditado popular “Vão se os anéis, ficam os dedos" que ouço desde criança, fiz uma pequena substituição "Vão-se os cabelos, ficam os dedos ...", mas o sentido é o mesmo.

Pois é, minha gente!!!

Muitos dos meus amigos do Facebook já viram as fotos postadas desde ontem a noite, quando finalmente consegui ter coragem e cortar (raspar) os cabelos que teimavam em cair, sem dó nem piedade ...

São os efeitos da quimioterapia  ...

E como foi difícil, decidir raspa-los !!!!

Passei dois dias inteiros, “ruminando” internamente sobre o apego e a vaidade ...

De maneira equivocada, achava que a queda dos cabelos não me afetaria muito, tanto é que quando meu oncologista clínico, o Dr. Fernando me indagou na primeira consulta, depois de uma saraivada de perguntas minhas acerca do câncer, “se eu não faria a pergunta que todas as mulheres fazem “Doutor:  O meu cabelo vai cair?” .

Sorri, despreocupada e lhe disse; “Doutor, já passei por tantas coisas, que a queda do cabelo não é minha preocupação principal.”

De fato, não é!!!

A cura sim !!!!

Mas a vida meus amigos, está aí para nos ensinar, seja no amor na dor, que a teoria as vezes difere da prática, assim numa a linguagem mais explicita “mordi  a língua”.

Foi necessário um esforço interno muito grande, para entender que a minha escusa em raspar o cabelo (que depois de 15 dias da 1ª sessão de quimioterapia insistia em cair), era na verdade uma “negação”  ao câncer, pois quando eu raspasse o cabelo, estaria me  expondo ao mundo, indicando que estou  - ainda que provisoriamente - acometida de uma doença que pode ser fatal ...

Depois que decifrei esse sentimento, consegui dominá-lo e romper com o meu próprio preconceito !!!

 Sou humana, falível e estou sempre pronta para aprender...

E a vida me deu mais uma deliciosa lição...

A vaidade com certeza também tem sua parcela de contribuição nessa história.

E por falar em história, o cabelo vem ao longo do tempo sendo  símbolo de força e poder, virilidade, sedução e vaidade.

Na antiguidade, cabelos longos e soltos eram símbolo de liberdade e nobreza entre os homens.

Na mitologia grega e hindu, as divindades mais terríveis sempre foram representadas com cabelos enormes e despenteados.

Na Idade Média, para as mulheres, não cortar os cabelos era uma demonstração de castidade.

No Tibete e na Índia, os monges cortam os cabelos em sinal de devoção e humildade.

O ato de cortar o cabelo e sacrifica-los significa frequentemente uma renúncia e um renascer ...

Assim, entendi que a batalha interna que travava era na verdade, o inconsciente coletivo junto com a vaidade fazendo sua parte nesse meu viver ...

Decidi então corta-los como forma de renascer, e convidei os meus parceiros de batalha mais próximos Antonio Carlos (marido), Túlio e Tiago (filhos) ...

Que se prontificaram em me ajudar ...

Do olhar das crianças, captei inicialmente receio e dor, mas logo passou, quando eu assumi diante delas uma postura de desafio e alegria !!!!

Entraram na farra!!!

Liguei o som em volume bem alto ...

Coloquei  a música “ I Will Survive “ (Eu sobrevivirei ..”)  cantada por Gloria Gaynor.

Sentei numa cadeira na sacada do meu apartamento  e peguei a tesoura e dei o primeiro corte ...

Passei a tesoura para Túlio, Tiago e Antonio ...

E pouco a pouco, o cabelo – que nunca foi lá essas coisas  (rsrsrs) e vivia sob a escravidão da chapinha, foi caindo  e caindo ...

E eu fui sentindo que eram apenas “cabelos”  e que eles iriam crescer novamente ...

Ao final para minha surpresa, Antonio sentou-se na mesma cadeira e disse que era para cortar os cabelos dele também...

A emoção desse ato de amor e solidariedade, tocou-me a alma !!!

Agora, estamos ambos carecas !!!  

Procurei ver o lado bom nas coisas ruins.

E tenho feito isso, desde o diagnóstico e início do tratamento ...

Em qualquer leitura sob os efeitos do bom humor no dia a dia das pessoas e principalmente naquelas doentes, se constata os benefícios do bom humor na saúde .

“Um individuo bem-humorado sofre menos,  porque produz mais endorfina, um hormônio que relaxa e melhora a eficácia das defesas do organismo, a circulação...” 

A prática desenvolvida por  Patch Adams  e os “doutores da alegria” é prova cabal da eficácia da alegria e bom humor em pacientes.

Dessa forma, elegi o bom humor, a esperança, o pensamento positivo  como armas no combate ao câncer.

E bola pra frente ...

PS: Decidi postar uma foto minha e do Antonio ...